domingo, maio 06, 2007

Um Novo Rumo

A capitão permanece em silêncio, os seus olhos penetrantes fixam-se ora em mim, ora no cofre e no diário que resgatei do navio afundado e que comprovam a história que acabei de contar. A tripulação mantém-se também em silêncio esperando para ver a reacção da sua comandante e tentando adivinhar qual o destino que me estará reservado.
- Dizes-me então que este cofre é para ser usado como moeda de troca para descobrir quem de facto governa Briseida. - diz ela num tom de voz incrédulo. - Dizes-me que para o encontrares tiveste que tomar uma poção que te deu capacidades extraordinárias, como respirar debaixo de água e nadar como uma verdadeira criatura marinha. - continua. - Afirmas que este objecto estava na posse de um grupo de vampiras do mar que te atraíram para o seu covil com o intuito de te matar, mas que por intervenção divina ou por auxílio de uma entidade, a tua espada, a Lua Dançante, que te foi dada por uma mulher, de nome Elianne, pertencente a uma antiga e poderosa raça, te salvou da morte certa e que de alguma forma te lançou para a superfície. - a capitão faz uma pausa estratégica lançando o seu olhar em torno da sua tripulação. - Diz-me, estranho, por acaso achas que eu tenho escrito na testa a palavra idiota? Achaste de facto que eu iria acreditar nessa história tão mirambulante?
- É a verdade!! - respondo com serenidade.
- Ah! "É a verdade!!", diz ele! - exclama esboçando um grande sorriso levando toda a tripulação a soltar uma valente gargalhada. - Estes teus dias em alto mar a apanhar este Sol forte fritaram-te os miolos, estranho. Daqui a pouco ainda me vais dizer que já jantaste com o próprio Neptuno.
- Por acaso... - respondo com um ligeiro sorriso.
- Bah! Ou és louco, ou és um mentiroso. E eu não creio que sejas louco, o teu olhar é demasiado firme para padeceres de alguma insanidade, por isso acho que és um mentiroso. - diz ela levantando-se e aproximando-se de mim. - E sabes o que fazemos aos mentirosos? Lançamo-los borda fora com uns cortes profundos para servirem de repasto aos tubarões. - ao dizer isto a tripulação anima-se e agita as suas armas no ar. - Meus senhores, meus senhores, por favor tenham calma, sejamos, por enquanto, civilizados. - diz ela com um sorriso caminhando em meu redor.
- Não sou louco, nem mentiroso. Disse-te a verdade, tens aí o cofre e o diário que confirmam a minha história.
- Sim, é verdade, mas o cofre está vazio e o diário está ilegível.
- Impossível! Mentes, só podes!
- Como te atreves! - grita ela esbofeteando-me. - É melhor controlares as tuas palavras, estranho, chamar mentirosa a quem tem a tua vida nas mãos não é uma atitude muito sensata. Seja como for parece que a Fortuna te sorri. Hoje estou bem disposta e decidi que não te vou mandar borda fora. Vais viajar connosco até Terno, onde serás vendido como escravo.
- És traficante de escravos? - pergunto surpreso.
- Sou. - responde ela com um sorriso. - E tenho a certeza que me vais fazer ganhar bom dinheiro. Talvez alguma tipa da nobreza te compre para satisfazeres a sua luxúria, ou quem sabe ainda acabas na arena, visto que tens um porte de combatente.
- Mas não me podes fazer isso, eu sou um cidadão da República!
- República!? Pelos Deuses, estranho, o Sol afectou-te mesmo os miolos. - diz ela rindo juntamente com toda a tripulação. - A República já não existe, vivemos numa nova Era, a Era Imperial e é bom que te adaptes a ela.
- N-não pode ser, eu...
- Não te lamentes tanto, todas as coisas têm um fim e verdade seja dita, a República já estava moribunda... Bom, isso também não interessa, não vou discutir política com carga. Está na hora de conheceres o teu novo quarto e os teus novos companheiros. Homens! - com um estalar dos dedos a capitão ordena que dois marinheiros me levem para junto dos restantes escravos. - Ah! só mais uma coisa. Tu agora és meu, por isso é bom que me obedeças sempre, pois eu posso deixar de ser tão simpática e ser obrigada a estragar a tua qualidade. - dizendo isto vira-me as costas e sou levado para baixo.