segunda-feira, agosto 20, 2007

Vingança (5ª Parte)

- Vês o que a tua amiga me obrigou a fazer, meu anjo? - diz Eliantha acocorada em frente do corpo calcinado de Diana e apoiada no seu bastão de prata. - Não era minha intenção matá-la, mas ela irritou-me e... Bem, aí está o resultado. Que desilusão, é um verdadeiro desperdício de energia. A tua amiga era verdadeiramente poderosa e tinha mais recursos do que eu poderia ter imaginado. Como é que ela se chamava?
- Diana. - responde Lilian sufocando as lágrimas.
- Diana... Belo nome. É o nome da Deusa da caça e da Lua. Não é de admirar que fosse tão poderosa. - diz Eliantha sorrindo e colocando a sua mão esquerda sobre a testa da feiticeira. - Vade in pace, Diana. - murmura desenhando um símbolo.
- O que estás a fazer?
- Oh, nada de mais, meu anjo. Estou apenas a tornar a sua passagem para o outro mundo ligeiramente mais fácil.
- Mas porquê?
- Por que a tua amiga foi uma adversária formidável e embora tenha sido minha inimiga merece o meu respeito. - diz Eliantha levantando-se. - Agora vamos tratar desse odioso círculo de protecção.
- Espera. Há uma coisa que eu continuo sem perceber.
- E que coisa é essa, meu anjo?
- O que tu acabaste de fazer, esse acto de altruismo para com a Diana, não o compreendo.
- E porque não?
- Porque és uma mulher egoísta e ambiciosa. És uma pessoa que não se preocupa com ninguém a não ser consigo mesma.
- É isso que pensas de mim?
- Sim.
- Então lamento desapontar-te, meu querido anjo, mas estás redondamente enganada. É verdade que sou uma mulher ambiciosa, gosto de ser a melhor em tudo o que faço, mas isso não significa que não tenha honra, ou que não respeite os meus adversários.
- Como é que podes respeitar os teus adversários, os teus inimigos, se lhes sugas tudo aquilo que eles são e que poderão vir a ser?
Ao ouvir estas palavras a atitude zombeteira de Eliantha desaparece totalmente dando lugar a uma frieza até então desconhecida.
- A conversa terminou, meu caro anjo. - diz num tom gélido e calculista.
- Parece que a verdade não é do teu agrado.
Ignorando estas últimas palavras a pérfida feiticeira coloca a sua mão esquerda sobre a bela esmeralda que jaz no topo do seu bastão e murmura um novo feitiço. Esta muda de cor tornando-se num belo e magnífico rubi cor de sangue. Por fim, e continuando a recitar incessantemente os versos obrigatórios do feitiço, Eliantha atira o seu bastão com toda a sua força na direcção do círculo de protecção. Este reage imediatamente ao objecto encantado atirado na sua direcção. A barreira mágica criada por Diana ergue-se instantaneamente cercando o bastão e incidindo sobre ele todo o seu poder destrutivo. No entanto, algo de errado acontece. A magia protectora do círculo volta-se contra si mesma destruindo uma por uma as runas estampadas a azul no chão. Sem as runas mágicas de onde possa tirar a sua força mágica, a barreira é quebrada e desfaz-se em mil e um pontos de luz azul.
- Agora passemos ao que realmente interessa. - diz Eliantha estendendo a sua mão direita e ordenando ao seu bastão que regresse.
- Não! Tu não lhe vais fazer aquilo que me fizeste, sua vampira! - grita Lilian levantando-se num salto e colocando-se entre a feiticeira e Eleanora.
- Já me começas a irritar, anjo. Desaparece da minha vista! - com um simples piscar de olhos Lilian é projectada com violência contra a parede.
Sem outra contrariedade entre ela e a elfo, Eliantha percorre calmamente a curta distância que as separa.
- Sabes, meu anjo, a sorte da tua amiga é que o novo Imperador a quer viva. - diz Eliantha arrancando a seta do estômago da elfo e curando por artes mágicas a sua ferida. - Mas isso não me irá impedir de me deleitar com alguma da sua energia vital.
- Eu disse para a deixares em paz! - grita Lilian furiosa invocando instintivamente uma violenta lufada de ar.
Eliantha é apanhada totalmente de surpresa e é projectada alguns metros para trás.
- Isto foi inesperado. - diz ela fitando confusa a furiosa Lilian. - Não devias ser capaz de lançar feitiços, minha cara, eu suguei todo o teu poder. É impossível.
- Pelos vistos não me tiraste tudo. - responde Lilian sorrindo confiante.
- Parece que não, mas isso resolve-se.
Sem esperar pela a reacção da sua adversária, Eliantha lança-lhe um feitiço de contenção prendendo todos os seus movimentos e retirando-lhe a capacidade de emitir sons.
- Agora estás indefesa, meu anjo. Como vês a tua resistência foi inútil, eu venci e não há ninguém que me possa impedir de obter o que quero. - diz com uma confiança inabalável.
- Tens a certeza disso? - diz uma voz atrás de si.
- Quem!? - espantada a feiticeira vira-se instintivamente na direcção da voz. - Tu!?
Os incrédulos olhos da feiticeira tornam-se esbugalhados assim que sente uma lâmina fria cravar-se no seu peito. As suas mãos crispadas de dor agarram-se firmemente aos braços da sua assassina no instante em que os seus joelhos trémulos cedem debaixo de si. O seu rosto perde a sua cor tornando-se lívido e retratando a triste cena de uma mulher que esteve prestes a ter tudo, mas que tudo perdeu.
- Que te sirva como última lição, feiticeira. - diz a sua assassina. - Um demónio nunca é privado da sua vingança.
A lâmina penetra mais fundo girando em torno da carne martirizada causando uma forte e fatal hemorragia. Sob o gélido olhar ambarino de Lara, Eliantha solta o seu último suspiro agarrando até ao último momento os pulsos da demónio.
- Acabou! - diz Lara cuspindo na cara do cadáver. - Vamos embora daqui.
- E quanto à Diana? - pergunta Lilian ajudando Eleanora a levantar-se.
- Vamos tirá-la daqui. - responde Lara. - Eu levo-a.
- Sabes, demónio, - diz Eleanora apoiando-se em Llian. - nunca fiquei tão contente por te ver.
- Fiz o que tinha de fazer. Ninguém insulta um demónio e sai impune.
- E para onde vamos agora?
- Para Sul, para bem longe do Imperador, Lilian. - responde a elfo. - Eu tenho um barco que está pronto a partir a qualquer hora. Podemos partir já. O que me dizes, Lara?
- Digo que não há nada que me prenda aqui e que aceito o convite, Eleanora.
- Engraçado. - diz Lilian. - É a primeira vez que vocês as duas se tratam pelo nome.
- É verdade. - diz Eleanora sorrindo. - O Destino por vezes aproxima pessoas incompatíveis.
- Talvez... - responde Lara. - Mas agora vamos é sair daqui.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Vingança (4ª Parte)

Lilian corre na direcção do corpo de Eleanora ajoelhando-se a seu lado e acariciando o seu rosto lívido e exangue.
- Oh, Ela, por favor não morras. - diz ela com os olhos marejados de lágrimas.
Diana por seu lado mantém-se de pé, imóvel, fitando corajosamente a sua poderosa adversária.
- Podes ter derrubado a Lara e a Ela, mas garanto-te que eu não serei assim tão fácil de vencer. - diz ela conjurando um círculo de protecção. - Lilian! traz a Ela e a Lara para aqui, ao menos estarão seguras.
- Hm, que interessante, um círculo de protecção. - diz Eliantha observando calmamente o círculo de runas azuladas que se vai estampando no chão em redor das suas adversárias. - Sabes, é claro, que isso não te irá proteger eternamente.
- Sei, mas também não será necessário, em breve estarás de joelhos pedindo misercórdia. - diz Diana sorrindo desafiadoramente.
- Ai sim? - responde a feiticeira rindo. - Creio, no entanto, que estás equivocada. O meu poder ultrapassa largamente o teu, como vou ter a oportunidade de to mostrar.
- Pois então menos palavras e mais acção! - grita Diana erguendo o seu bastão e invocando todo o seu conhecimento arcano.
O ar da sala torna-se eléctrico e uma ligeira vibração faz estremecer as janelas, portas e candelabros. Eliantha observa calmamente a demostração de poder da sua oponente sorrindo desdenhosamente.
- É só isso que tens para me mostrar? Umas quantas faíscas e abalos? - grita Eliantha num tom de troça.
Ignorando a sua adversária Diana invoca uma armadura mística que lhe cobre o corpo dos pés à cabeça protegendo-a de ataques físicos e mágicos. De seguida lança sobre si e sobre as suas companheiras auras de protecção contra o pânico e a confusão mental. Por fim e sob olhar atento de Eliantha, que continua a sorrir, conjura uma barreira mágica passivo-agressiva para proteger Lilian, Eleanora e Lara, reforçando assim o círculo de protecção.
- Agora estou pronta para o combate. - diz ela abandonando a segurança do círculo.
- Pois quê? Abandonas assim, sem mais nem menos, o teu círculo de protecção? - diz Eliantha espantada. - Deves ser mais tola do que eu pensava.
- Dentro do círculo não posso usar a totalidade dos meus poderes. Infelizmente as magias de protecção são sempre um pau de dois bicos, por um lado protegem-nos da magia exterior e por outro, limitam a magia lançada do seu interior.
- Muito bem. Mostra-me então aquilo de que és capaz.
- Com todo o prazer.
Sem perder tempo Diana abre a sua mão esquerda e aponta-a na direcção de Eliantha, dos seus dedos cinco mísseis mágicos são lançados a toda a velocidade contra a sua oponente. Esta, apanhada desprevenida devido à sua arrogância e orgulho, não tem tempo de se proteger e é atingida em pleno peito pelas bolas cor de violeta de pura magia.
- Devo dizer que me... - antes de ter a oportunidade de acabar a frase uma violenta ventania de farpas materializa-se em seu redor cortando-lhe a carne e atirando-a para o extremo da sala de encontro ao seu trono.
Eliantha tenta erguer-se apoiando-se com uma das mãos no seu trono virado enquanto a outra limpa um fio de sangue que lhe escorre do lábio aberto.
- És melhor do que eu pensava, feiticeira. - diz Eliantha deixando passar um esgar de dor assim que se põe de pé.
- E ainda não viste nada! - grita-lhe Diana caminhando na sua direcção e conjurando mais um feitiço.
Em redor de Eliantha cinco criaturas, vindas das mais diversas mitologias, materializam-se. Guiadas pela vontade e pela magia de Diana as criaturas atacam a pérfida feiticeira brandindo os seus machados e lanças. Eliantha esboça um sorriso e bate com o seu bastão no chão. Imediatamente uma onda eléctrica varre o pavimento electrocutando todas as criaturas. Diana pragueja, mas depressa conjura mais um dos seus feitiços. As lajes de mármore entre Diana e Eliantha começam a tremer e a sair dos seus lugares concentrando-se num sítio específico dando forma a um golem de dois metros. Este solta um uivo horrendo e começa a movimentar-se lentamente na direcção de Eliantha destruindo tudo à sua passagem. Esta com uma calma calculada ergue o seu bastão e murmura umas palavras. Um raio de luz verde é libertado da esmeralda atingindo o peito da criatura e transformando-a imediatamente em pó.
- Devo dizer que és boa, minha cara, mas não o suficiente para me derrotar. - diz a feiticeira sorrindo.
- Não cantes vitória antes do tempo, eu ainda não joguei os meus melhores feitiços. - diz Diana concentrando-se uma vez mais e conjurando outro dos seus feitiços.
Mas algo corre mal e embora a sua energia tenha diminuido como se de facto a mágica tivesse sido feita, a verdade é que nada aconteceu.
- Oh, mas o que é que se passa? - pergunta a sua oponente com uma preocupação fingida.
- Eu... não sei... - responde Diana alarmada.
Uma vez mais tenta lançar um novo feitiço, mas mais uma vez nada acontece.
- Sabes, tu de facto és poderosa, por isso tive que recorrer a uma táctica que raramente uso, as contra-mágicas. - diz Eliantha. - Devias sentir-te muito honrada por utilizar essa técnica contigo.
- Não pode ser. - diz Diana tentando uma vez mais concentrar o seu poder.
- Oh, não insistas, não vale a pena. Sempre que tentas invocar algo eu lanço-te um contra-feitiço. Os teus poderes já não funcionam, por isso escusas de gastar a tua energia.
- Essa técnica é odiosa, mas ainda bem que me avisaste, estou preparada para feiticeiros traiçoeiros. - e dizendo isto conjura uma vez mais um feitiço.
- Tola. - Eliantha sorri e lança outra vez a sua magia para impedir o feitiço de Diana.
No momento em que a pérfida feiticeira lança a sua contra-mágica uma explosão de energia branca desencadeia-se mesmo à sua frente atirando-a ao chão.
- Graças a feiticeiros traiçoeiros como tu, um mago poderoso criou este feitiço. É uma espécie de contra-contra-mágica, só que tem uns certos poderes adicionais, como acabaste de ver. - diz Diana sorrindo.
- Sabes, começo a ficar farta de ti! - diz Eliantha levantando-se. - Está na altura de passar ao ataque.
- Pois então ataca, estou desejosa de conhecer aquilo de que és capaz.
Eliantha reúne o seu poder preparando-se para o ataque, enquanto que Diana conjura uma série de feitiços de protecção. No entanto, assim que a pérfida feiticeira passa ao ataque todas as magias protectoras de Diana caiem por terra deixando-a vulnerável.
- Mas o que é que se passa? - pergunta ela espantada e alarmada. - Não podes ter lançado contra-mágicas, se o tivesses feito eu saberia.
- Pobre criança, não fazes ideia daquilo que enfrentas.
Eliantha aponta o seu bastão na direcção da sua oponente e dispara uma forte bola de energia na sua direcção. Diana ergue o seu bastão, mas por alguma razão a magia que tenta invocar não funciona e a bola ultrapassa a sua barreira defensiva decepando-lhe a mão que segura o seu fiel bastão. A feiticeira solta um grito de dor que é abafado pelo som de um violento trovão. Lilian grita ao ver a sua companheira cair de joelhos agarrando-se à ferida.
- Vamos ver como te safas agora. - diz Eliantha sorrindo.
- Vai para o Inferno! - grita-lhe a feiticeira.
- Talvez vá, um dia, mas parece que tu vais chegar lá primeiro que eu. - diz a pérfida feiticeira apertando com uma força invisível o pescoço de Diana e erguendo-a no ar.
- Deixa-a em paz!! - grita Lilian levantando-se e preparando-se para correr na direcção de Eliantha.
- Não, Lilian! Deixa-te ficar dentro do círculo. - geme a feiticeira tentando debater-se.
- Louvo essa tua atitude protectora, mas não te servirá de nada. Em breve o poder do círculo irá desvanecer-se e a Lilian ficará à minha mercê uma vez mais.
- Nunca, só por cima do meu cadáver.
- Oh, mas isso pode arranjar-se. - Eliantha ergue o seu bastão e uma enorme bola de fogo materializa-se em pleno ar atingindo o corpo de Diana matando-a instantaneamente.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Vingança (3ª Parte)

A feiticeira caminha calmamente na direcção do grupo de quatro mulheres que se encontra à sua frente. Os seus perspicazes olhos esverdeados estudam e analisam cada uma das suas oponentes determinando as suas forças e fraquezas.
- Bem vindas ao meu palácio. - diz ela agitando levemente a mão direita pelo ar. - Devo dizer-vos que estava bastante curiosa em conhecer pessoalmente aqueles que durante estes últimos meses têm conspirado contra mim. - Eliantha faz uma pausa estudada para observar a reacção de Diana e Lara. - Oh, por favor, não façam essa cara de espanto, existe muito pouca coisa que se passe nesta cidade de que eu não tenha conhecimento. Até mesmo o paradeiro do vosso querido guerreiro não me é desconhecido.
- Tu sabes onde está o Cavaleiro? - pergunta Diana.
- Sei... O vosso Cavaleiro está neste momento a bordo de navio de escravos rumo a um destino desconhecido. - responde a feiticeira esboçando um sorriso. - A sua presença na "minha" cidade estava a tornar-se demasiado perigosa, por isso fui forçada a afastá-lo. - uma vez mais Eliantha faz uma pausa propositada observando com divertimento a reacção das suas ouvintes.
- Então foste tu a culpada pelo desaparecimento do Cav? - pergunta Lara num tom de voz contendo uma irritação crescente.
- Ah, a irascível demónio. É deveras peculiar ver uma criatura como tu aliada a humanos e elfos, e muito mais raro ainda é ver que nutres sentimentos por um desses humanos. Diz-me, demónio, é impressão minha ou amoleces-te? - a meticulosa escolha de palavras de Eliantha desfere um profundo golpe no orgulho de Lara provocando na demónio a reacção desejada.
- Como te atreves a a falar-me dessa maneira, feiticeira. - explode a demónio encolerizada. - Sou um demónio de puro sangue e tu não passas de uma patética humana que pensa que lá por lançar umas pequenas faíscas pode insultar um ser superior.
- Superior, tu? Caro demónio, tu para mim não passas de ralé com ilusões de grandeza. - responde-lhe Eliantha rindo.
- Ralé!!?? Ralé!!?? - grita a demónio completamente enraivecida desembainhando as suas espadas curtas. - Vou arrancar-te o coração, reles humana. Prepara-te para enfrentares os Infernos.
- Lara, espera!! - grita Diana tentando deter a impulsiva demónio.
Mas é tarde demais, Lara lança-se no ar imersa numa fúria assassina tendo como alvo o coração da sua oponente. Eliantha observa divertida esta iniciativa da demónio, na sua mão direita materializa-se um longo bastão de prata com uma esmeralda do tamanho de um punho incrustada no topo.
- Não!! - diz ela num tom de voz forte e levantando o bastão no preciso momento em que as lâminas afiadas de Lara distam apenas dez centímetros do seu peito.
Um intenso brilho esverdeado é libertado da esmeralda e a demónio é projectada com toda a força contra uma parede deixando-a inconsciente.
- Não, não, não! Por favor não! - grita Lilian encolhendo-se a um canto.
- Não sei se te devo felicitar, ou repudiar, pelo que acabaste de fazer. - diz Eleanora. - És de facto uma feiticeira poderosa, mas continuamos em vantagem numérica, e, como podes ver, a minha amiga aqui, também é feiticeira.
- A vossa "vantagem" é ilusória, vocês não estão à minha altura. - diz Eliantha rindo.
- A tua sede de poder e a tua arrogância cegam-te. Enfrentas um elfo e uma feiticeira e, caso não saibas, nós elfos somos peritos em deitar por terra aberrações como tu. Aberrações que distorcem as sagradas leis da Natureza para alcançar os seus objectivos egoístas.
- E onde queres chegar com isso? É que a vossa presença começa a aborrecer-me.
- Quero dizer simplesmente que escolheste mal os teus adversários. - ao dizer isto a elfo aponta o seu arco longo feito de madeira sagrada da floresta de Oth e reforçado com runas místicas que lhe conferem propriedades mágicas. Dele é habilmente disparada uma flecha de prata com lâmina a ouro e penas de grifo. Estas flechas são conhecidas por toda a Gaia como «o terror dos feiticeiros», pois em pleno vôo anulam as suas capacidades mágicas deixando-os impotentes e vulneráveis.
Eliantha apenas sorri e murmura umas palavras enquanto ergue a mão esquerda. A flecha pára em pleno vôo mantendo-se congelada no tempo.
- Estou a ver que de facto vos substimei. - diz ela observando com cuidado a flecha. - Mas asseguro-te, elfo, que tal não se voltará a repetir.
Com um simples estalar de dedos a flecha inverte o seu curso e voa a alta velocidade na direcção de Eleanora. Diana e Lilian observam impotentes a flecha cravar-se no estômago da elfo. Esta cai incrédula no chão empapando com o seu sangue o pavimento de mármore.
- Duas já estão, falta apenas uma. - diz Eliantha sorrindo triunfante.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Vingança (2ª Parte)

Gotas de chuva caiem do húmido tecto da masmorra formando inúmeras poças de água no seu gélido e degradado chão de pedra. Os archotes, colocados aqui e ali nas negras e viscosas paredes, iluminam fragilmente os longos e tenebrosos corredores que conduzem a várias câmaras de terror e tortura. Por entre eles caminha um grupo de quatro mulheres que tenta desesperadamente encontrar a saída deste local macabro.
- Mas por que raio é que temos de percorrer estes corredores para encontrar uma saída? Não seria mais fácil abrires uma porta mágica e tirar-nos daqui? - pergunta Lara cansada.
- Seria. - responde Diana. - Mas o problema é que algo, ou alguém, impede-me de criar uma.
- E o pior de tudo, - interrompe Eleanora. - é que ainda não encontrámos nenhuma oposição. Não estou a gostar nada disto, cheira-me a armadilha.
- Isso é porque é uma armadilha, Ela. - diz Lilan. - Isto é tudo obra de Eliantha. É ela que bloqueia os teus feitiços e foi ela que mandou embora todos os guardas. Ela está a brincar connosco, está a usar-nos como se fôssemos peões num tabuleiro e vai conduzir-nos até à sua armadilha para nos sugar a energia e força vital.
- Para fazer isso terá que nos derrotar primeiro, humana, e eu garanto-te que este demónio não será subjugado assim tão facilmente. - afirma Lara confiante esboçando um sorriso.
- Folgo em saber que estás confiante, Lara, mas tu não fazes a mínima ideia de quem estás a lidar. Ela vai brincar contigo e depois, quando estiveres à sua merçê, irá obrigar-te a implorar pela vida, antes de te "devorar".
- Da maneira como falas até parece que não temos hipótese alguma. - diz Diana fitando seriamente os olhos de Lilian.
- E não temos. Estamos todos mortos. - remata Lilian fatidicamente.
- Caramba, mais valia tê-la deixado inconsciente, Diana. Não precisamos de uma segunda Cassandra a berrar aos sete ventos a morte e o infortúnio. - comenta a demónio lançando um olhar de poucos amigos ao ex anjo.
- Se tivermos que morrer, que assim seja, estou preparada. Brighid conduzirá os nossos espíritos através do mundo dos mortos. Mas agora conto com o auxílio de Morrigan para a batalha que se aproxima. Os Deuses estarão connosco e juntas venceremos essa tal de Eliantha! - exclama a elfo cheia de confiança.
Após uma longa caminhada, e graças à experiência de Eleanora como batedora, o grupo encontra finalmente a saída da masmorra e entra num dos ricos e requintados salões do palácio. O contraste é absolutamente evidente: as salas escuras, húmidas e repletas de musgo são substituídas por enormes salões bem iluminados e repletos de belas tapeçarias, tapetes, móveis e espelhos multicoloridos; o odor nauseabundo a podre e a mofo é trocado por um aroma doce e refrescante que envolve todo o interior do palácio.
- Uau, que luxo! Essa Eliantha pode ser uma cabra de primeira ordem, mas ao menos sabe como viver a vida. - comenta Lara fascinada pela riqueza que vê à sua volta.
- A riqueza material não é tudo na vida, demónio. Existem coisas bem mais importantes. - diz a elfo.
- Ai sim? E quais são elas?
- Não vale a pena dizer-tas, demónio, obviamente nunca as entenderias. Mas isso agora não interessa, sigam-me, a saída é por aqui. - Eleanora dirige-se para uma porta de madeira com uma maçaneta em ouro, mas quando a tenta abrir esta mantém-se fechada. - Bolas, está trancada.
- Isso não é problema, deitamo-la abaixo. - diz Lara sorrindo.
- Não te aconselho a fazer isso, Lara. - diz Diana colocando a mão sobre o ombro da demónio detendo-a. - A porta está protegida por um encantamento poderoso, apenas te irias magoar e nada mais. Aliás, todas as portas estão trancadas e protegidas, excepto aquela que nos leva ao primeiro andar.
- Eu disse-vos que ela está a brincar connosco. Espero que estejam preparadas para morrer. - diz Lilian sombriamente.
- Não à dúvida, Lilian, sabes mesmo como levantar o moral do grupo. - diz a demónio sarcasticamente.
- Não sejas assim, Lara, a Lilian ainda não está em si, acabou de passar por uma experiência traumatizante, é natural que diga estas coisa. - responde Diana defendendo a antiga feiticeira.
- Seja como for, a Lilian tem razão. Somos obrigadas a enfrentar Eliantha e como tal temos de encarar a nossa morte como uma possível consequência desse confronto. - diz Eleanora olhando pensativamente para a única porta que resta.
- É verdade, não temos escolha. Seja o que os Deuses quiserem. - suspira Diana.
Sem alternativa o grupo escolhe a única porta disponível e sobe ao encontro do seu destino. A passagem condu-las até um vasto salão decorado com pinturas de diversos rituais bizarros e peculiares; uma passadeira vermelha estende-se desde a porta até à parede oposta a esta onde se encontram duas bandeiras escarlate com um símbolo de um dragão branco estampado a meio; e entre elas um belo trono esculpido a marfim com embutidos de ouro. Sentado nele, encontra-se uma bela mulher de cabelos negros, olhos verdes e vestido azul com uma longa racha nas pernas e um decote bastante generoso.
- Ah, finalmente. - diz ela levantando-se. - Estava à vossa espera.