sexta-feira, setembro 29, 2006

Unyard (3ª Parte)

As gargalhadas gélidas fazem-se ouvir novamente assim que eu e Lara desembainhamos as nossas espadas.
- Vocês são de facto uns autênticos heróis, mesmo sabendo que estão em inferioridade numérica não se dão por vencidos. Louvo a vossa atitude, mas o vosso destino está traçado. - Ursula sorri novamente e com um gesto ordena aos seus esbirros para nos cercarem e prenderem.
Lara e eu tentamos defender-nos mas eles são demasiados e acabamos por ser dominados. Ursula aproxima-se de nós com um sorriso triunfante e diabólico nos lábios - se é que se pode chamar àqueles pedaços de carne decomposta, de lábios -, com um movimento ligeiro coloca as suas mãos esqueléticas sobre as nossas cabeças e começa a murmurar palavras desconhecidas. Lara e eu debatemo-nos desesperadamente mas os nossos pulsos e as nossas pernas estão firmemente presas pelos restantes mortos-vivos que nos cercam. Um arrepio gelado percorre a minha espinha, começo a sentir a minha força a esvair-se, a minha energia vital a ser sugada por aquelas garras descarnadas; olho para a demónio e vejo que também ela está a sentir o mesmo que eu, os seus olhos dourados estão baços e a sua pele prateada está mais pálida do que é costume. Por momentos os nossos olhares cruzam-se e ambos sorrimos um para o outro como se nos estivéssemos a despedir, um sorriso sem malícia, sem desejo e sem segundas intenções, apenas um sorriso puro de amizade entre dois companheiros, amigos e amantes. Lara volta a debater-se num último acto de resistência e no processo a sua bolsa solta-se do seu cinto e cai no chão atirando cá para fora a gargantilha com o diamante negro. Ao vê-lo todos os mortos-vivos soltam um grito de pavor e recuam, a própria Ursula liberta-nos das suas garras medonhas e cambaleia para trás tapando os olhos com o braço.
Lara e eu aproveitamos a oportunidade para reagir, pegamos nas nossas espadas que jazem no chão e na bolsa com o diamante e corremos o mais depressa que podemos para o interior do templo fechando as pesadas portas atrás de nós.

Exaustos, sentamo-nos no chão ofegantes.
- Bolas, isto é que foi sorte. - diz Lara limpando o suor da testa.
- Sim, os Deuses estavam do nosso lado. - respondo tentando sorrir.
- Para a próxima, Cav, confia no meu instinto, eu bem te disse que estes tipos não eram o que pareciam, o meu faro nunca me engana.
- Ai, Lara, está bem, não me batas mais com esse assunto.
- É para ver se entra nessa cabeça dura.
Olhamos um para o outro e começamos a rir.
- Temos de encontrar uma maneira de sair daqui e de deter estes mortos-vivos. - digo momentos depois com uma expressão séria.
- Bom, ao menos sabemos que este diamante os assusta e isso já é bom. - diz Lara contemplando a pedra.
- Foi uma sorte teres roubado isso, se tivesses feito o que eu te tinha dito a esta hora éramos uns autênticos zombies.
- Vês, eu tenho sempre razão, meu querido, sempre. - Lara sorri para mim e beija-me na boca.
- Tu tens é um ego enorme, minha demónio, e uma sorte tremenda. - murmuro afagando-lhe o cabelo e retribuindo o beijo. - Temos de voltar à câmara, certamente que encontraremos algo lá que nos possa ser útil.
- E se encontrarmos o espírito do velho?
- Pedimos-lhe ajuda. - respondo levantando-me. - Depois do que passámos, estou por tudo...

segunda-feira, setembro 25, 2006

Unyard (2ª Parte)

No dia seguinte Ursula guia-nos até ao templo, tanto eu como Lara ficamos um pouco admirados por este se encontrar em tão más condições, geralmente um templo é um dos edifícios mais importantes de uma cidade, vila, ou aldeia, é um local de culto e uma moradia temporária do Deus, ou Deuses, da região. Os seus jardins estão em péssimas condições, repletos de ervas daninhas e de árvores mortas; as colunas jónicas, outrora brancas, encontram-se partidas e negras; as telhas alaranjadas estão quebradas e cobertas de musgo e as colossais portas desta casa de culto estão seladas, intocáveis, e em seu redor podem ler-se uns caracteres estranhos, alguns consumidos pelo tempo, tornando impossível a leitura correcta da mensagem.
- Mandámos selar as portas logo depois do incidente. - começa Ursula como se tivesse lido o nosso pensamento. - Com medo deste espírito inquieto acabámos por evitar este local tão adorado para nós.
- Hm, o que diziam estas inscrições? - pergunta Lara passando os dedos sobre os caracteres firmemente marcados na parede.
- Eu não sei, este templo já aqui se encontrava quando o meu tetra-avô mandou construir a villa. - Ursula olha para mim tentando evitar o olhar de Lara. - Aqui está a chave que irá abrir as portas, segundo a lenda, a força do feiticeiro provinha de uma gema branca, se a destruirem, ou se ma entregarem, tenho a certeza que nos iremos livrar desta maldição. - Ursula sorri sedutoramente para mim e entrega-me a chave. - Serão bem recompensados se conseguirem salvar-nos.

As portas fecham-se atrás de nós, o estado interior do templo está bem pior do que o exterior, estátuas dedicadas a Deuses estão espalhadas pelo chão irremediavelmente quebradas e desfiguradas, nas paredes pouco se reconhece dos ricos frescos que as enfeitavam e por todo o lado estão depositadas camadas e camadas de pó.
- Viste a reacção dela quando lhe perguntei sobre a inscrição? - pergunta Lara virando-se para mim minutos depois de entrarmos. - Ela sabia muito bem o que estava ali escrito.
- Sim, eu reparei, e reparei também que este lugar está abandonado há muito mais do que um ano. Tinhas razão, Lara, há algo que não bate certo nisto tudo.
- Finalmente, Cav, começaste a pensar com o teu cérebro.
- Mais vale tarde que nunca, como se costuma dizer. - digo sorrindo. - Bom, o melhor é continuarmos, mas com cuidado.
Vamos penetrando cada vez mais no interior do templo, não encontramos nada de interesse, a maioria das coisas estão partidas ou simplesmente desfeitas pelo tempo. Passado uma hora sem encontrar nada de relevante, chegamos a uma abertura na rocha, à volta dela encontram-se novamente os caracteres que rodeavam a entrada deste edifício, mas infelizmente também estes se encontram ilegíveis. Após investigar por armadilhas ocultas, Lara dá-me o sinal de que podemos avançar, o que encontramos, deixa-nos sem palavras: uma sala forrada a ouro, repleta dos tesouros mais incríveis que podemos imaginar, no centro, encontra-se um enorme sarcófago de ouro, muito provavelmente a última residência do tal feiticeiro.
- Olha para isto! - diz Lara mergulhando as mãos nos caixotes recheados de moedas e jóias. - Estamos ricos!
- Não estamos aqui para roubar, Lara, estamos aqui para resgatar a tal gema.
- Fala por ti, Cav, eu vou levar tudo o que me apetecer. - diz Lara admirando uns brincos de ouro e prata com esmeraldas incrustadas e uma bela gargantilha com um enorme diamante negro pendurado. - Que tal, achas que me ficam bem?
- Lara, pára com isso e ajuda-me aqui a abrir o sarcófago.
A demónio coloca os seus novos pertences na sua bolsa e juntos empurramos a pesada tampa. Lá dentro está um esqueleto segurando uma gema branca.
- Eureka, encontrámo-la. - digo tirando a gema das garras do esqueleto.
Assim que o faço um vulto negro aparece à nossa frente, os seus olhos estão tristes e os seus lábios movem-se, mas nenhum som se propaga.
- O que é que se passa? - pergunta Lara batendo-me no ombro.
- Não estás a vê-lo?
- A ver o quê? Estou é a ver-te a ti com uma cara de parvo a olhar para o vazio.
- Ali! Não o estás a ver? Está mesmo à nossa frente.
- Cav, estás a começar a preocupar-me, explica-te!
Esfrego os meus olhos e volto a olhar para o local onde se encontra o vulto, mas ele já lá não está, terá sido impressão minha? Talvez fruto da minha imaginação devido àquelas histórias do espírito do velho feiticeiro.
- N-não é nada, Lara, vamos embora!

Ursula e todos os outros habitantes da pequena povoação esperam por nós cá fora, ao verem a gema nas minhas mãos soltam gritos e uivos de alegria.
- Vocês são uns heróis, salvaram-nos. - diz Ursula não tirando os olhos da gema. - Agora por favor dêem-ma, para que a possa destruir e libertar finalmente o vale da maldição.
Lara olha para mim e de certa forma compreendo-a, mas sorrio para ela tentando tranquiliza-la.
- Aqui tem! - digo entregando-lhe a gema.
No preciso momento em que o faço o céu escurece e aquela mão pálida e bela transforma-se rapidamente numa garra esquelética com pedaços de carne agarrada.
- Finalmente! - grita Ursula. - Finalmente estamos livres! - e com uma palavra a gema desfaz-se. À nossa frente já não se encontra uma bela mulher, mas sim um morto vivo cujo olhar esverdeado se deleita com a nossa presença. - Agora vamos tratar de negócios, prometi-vos uma recompensa e tê-la-ão, o que pensam da vida eterna? - Uma gargalhada gélida é expelida do seu corpo sem vida e imitada por todos os outros habitantes, também estes mortos-vivos.
- Vês, Cav, vês? Eu bem te dizia que havia algo de errado aqui! - grita a demónio sacando a espada.

Unyard (1ª Parte)

A pequena povoação de Unyard está situada num belo e fértil vale, é um local pacato com meia dúzia de casas, uma estalagem, um templo e um modesto bordel. Toda a vida da localidade centra-se à volta de uma enorme villa que funciona como uma espécie de câmara municipal e é a residência da dona das terras, a Dama Ursula Justa. Decididos a comprar mantimentos frescos e dormir, nem que seja por uma noite, numa cama macia e confortável, Lara e eu saímos da estrada para Briseida e tomámos o rumo desta povoação.
- Ai, que bom que é voltar a dormir numa estalagem. - digo atirando-me sem cerimónia sobre a cama.
- Sim, também já estava com saudades, mas... - a demónio olha para mim com um semblante carregado.
- ... Mas ainda estás com aquele pressentimento, não é?
- É! Cav, há algo de errado aqui, eu não sei o que é mas consigo senti-lo.
- Isso deve ser cansaço, as pessoas pareceram-me bastante simpáticas, até aquela tal de Ursula.
- Oh sim, essa então foi simpaticíssima, não parava de te lançar olhares e sorrisinhos. Bolas, Cav, será que não te importas de pensar com a cabeça de cima para variar?
Solto uma gargalhada
- Olha quem fala, tu que estás sempre a pensar em perversões a dar-me lições de moral.
Lara lança-me um olhar fulminante carregado de irritação.
- Isto é sério, há algo neste local que me dá arrepios.
- Hm, quem te vai dar arrepios sou eu, minha demónio, mas de prazer. - levanto-me e abraço-a por trás beijando maliciosamente a sua nuca e sussurrando-lhe ao ouvido. - Esquece isso e concentra-te noutra coisa.
A demónio sorri e nada mais diz.

As roupas voam pelo ar enquanto as nossas línguas dançam ao ritmo do desejo, os nossos corpos anseiam um pelo outro de uma forma louca e incontrolável. A demónio atira-me sobre a cama e com um sorriso que só ela consegue fazer começa a lamber e a chupar o meu falo duro. Eu deixo-me levar pelas ondas de prazer que percorrem o meu corpo obrigando-me a soltar espasmos de incontrolável deleite, as minhas mãos afagam e puxam o seu cabelo acompanhando os movimentos ascendentes e descendentes e controlando de certa forma o ritmo e a intensidade.
Subitamente ouve-se um bater na porta.
- Que merda! - diz Lara irritada. - Não podiam ter escolhido uma melhor altura?
- Ignora... - digo olhando para ela completamente rendido.
As pancadas tornam-se mais fortes e insistentes e acabamos por ter de interromper o que começámos.
- Mas o que é que se passa! - grita Lara abrindo a porta furiosa.
Do outro lado encontra-se um rapaz de quinze anos que fica quase sem palavras ao ver uma demónio nua e furiosa à sua frente.
- E-eu, v-venho entregar uma m-mensagem u-urgente. - diz o rapaz gaguejante e mais vermelho que um tomate. - A Senhora U-Ursula precisa de v-vos falar, pede para que v-venham imediatamente a c-casa dela.
Lara bufa de raiva e o rapaz aproveita a deixa para fugir dali para fora.
- Bom, é melhor irmos. - digo começando a vestir-me.
- Ainda não. - diz Lara fechando a porta e sorrindo maliciosamente. - Temos algo para acabar.
- Concordo, acho que o que quer que ela queira de nós poderá esperar mais uns quinze minutos...

Ursula Justa é uma mulher que gosta de conforto, a sua villa é um exemplo disso, recheada com as melhores tapeçarias, quadros, móveis e tudo o mais que uma pessoa abastada possa querer. É uma mulher de 35 anos, muito bela e atraente, os seus olhos azuis reflectem uma personalidade forte e a sua roupa e jóias exibem a sua condição e classe.
Somos recebidos com toda a cortesia, Ursula não poupa a esforços para nos agradar e para nos fazer sentir confortáveis, ao nosso dispor são colocados vários vinhos e iguarias. Ao ver que recusamos delicadamente tudo o que nos oferece expõe imediatamente o assunto.
- Primeiro que tudo - começa ela com uma voz doce e agradável. - quero pedir-vos desculpa por vos ter interrompido, mas o assunto que vos traz aqui é deveras urgente. - faz uma pausa para bebericar um pouco da sua bebida e depois continua. - Esta pequena povoação está em perigo e eu não sei o que fazer, estou desesperada. Há um ano um dos meus empregados encontrou um túmulo muito antigo por debaixo do templo, levado pela cobiça e não lendo as inscrições nas paredes, decidiu abri-lo; pobre coitado, foi a última coisa que fez. Segundo a lenda, um temível feiticeiro foi ali enterrado e agora que foi acordado do seu sono eterno decidiu lançar uma maldição sobre todo o vale. Somos obrigados a ficar aqui, não podemos sair e se o tentarmos morremos. E-eu já não sei o que fazer - diz ela levando as mãos à cara e começando a chorar. -, as nossas colheitas estão a definhar, o nosso gado está a morrer, a caça e o peixe fugiram e os poços estão a secar, se isto continuar acabamos por morrer à fome e à sede. Mandei chamar-vos porque vocês parecem o estilo de pessoas que está habituado a este tipo de coisas, por isso eu peço-vos, não, eu imploro-vos, ajudem-nos!
- Ora aí está porque é que pressentias algo de errado - digo baixinho virando-me para a demónio. -, o vale está amaldiçoado.
- Sim, deve ser isso... - diz ela fitando intensamente a mulher. - Seja como for, devemos investigar.
- Óptimo! Cara Senhora Ursula Justa, não se preocupe que nós vamos ajudá-la.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Uma Noite de Lua Cheia

O suave crepitar de uma fogueira e o saboroso aroma de um guisado acabadinho de fazer espalham-se pelo ar fresco da noite. Uma figura solitária mantém-se sentada perto do lume envergando um prático manto de viagem e segurando um prato de guisado quentinho, o seu olhar perde-se no céu estrelado e na enorme Lua cheia como se tivesse sido privado de uma tal visão durante um longo período de tempo.
- É linda, não é? - pergunta uma voz.
A figura vira-se imediatamente deixando cair o prato, instintivamente leva a mão direita à cintura como se procurasse o punho de uma espada, mas essa já lá não se encontra, foi, contra todas as expectativas, quebrada por uma magia muito forte.
- Quem está aí?
Uns olhos dourados emergem subitamente das sombras fitando com um prazer indescritível a figura que agora se coloca de pé.
- Ora, ora, mas será que já não reconheces a minha voz, Cav? - Uma mulher muito bela materializa-se à minha frente, os seus olhos cor de âmbar continuam presos nos meus, os seus lábios negros muito bem delineados exibem um sorriso sedutor mostrando os seus caninos afiados e uma língua marota, dos seus longos e lisos cabelos pretos emergem dois cornos retorcidos e a sua pele prateada parece reagir com a luz do luar dando-lhe um ar sobrenatural. Veste uma armadura de couro preto reforçado com metais, na cintura estão presas duas espadas curtas e nas botas acham-se escondidos dois punhais.
- Lara?
Ela avança para mim e lança-se nos meus braços dando-me um beijo na boca.
- Sentiste saudades minhas, humano? - pergunta ela lançando um olhar esfaimado para o guisado.
- O que estás aqui a fazer? Pensei que te tivesses ido embora para nunca mais voltar.
- E era isso que eu queria fazer, mas depois encontrei a Melissa e o Orfeu e eles disseram-me que agora estavas sozinho, por isso decidi juntar-me a ti. - diz ela piscando-me o olho e servindo-se de um pouco de comida.
- Mas como é que me encontraste, já não estamos ligados um ao outro.
- Que pergunta parva, Cav, sou uma assassina, sei muito bem como encontrar os meus alvos. E devo dizer que vocês humanos sempre foram fáceis de encontrar, basta seguir o vosso cheiro fedorento.
Sorrio para ela, não mudou nada, continua tão "adorável" como sempre.
- Se "cheiro" assim tão mal, então porque é que gostas da minha companhia? - sento-me ao seu lado servindo-me também de um pouco mais de guisado.
Ela limita-se a sorrir, mas não responde.
- Olha lá, - pergunta ela momentos depois. - o que é que aconteceu entre ti e a Ela? Pensei que por esta altura estivessem bem instalados num quarto a matar saudades.
- É uma longa história, depois eu conto-te. - bebo um pouco de água e depois olho para ela. - Porque é que o fizeste?
- Fazer o quê? - pergunta a demónio fitando-me intensamente como se soubesse perfeitamente do que eu estava a falar.
- Tu sabes, não te faças de parva, porque é que tu me salvaste? Não é teu costume teres estes rompantes de altruísmo.
- Eu era a tua serva e tu o meu senhor, fiz apenas a minha obrigação.
A demónio cala-se e percebo pelo seu olhar que não vale a pena insistir.
- Ainda bem que aqui estás, tive saudades tuas.
- Claro que tiveste, humano, serias louco se não sentisses a minha falta.
- Quanta modéstia, quanta modéstia...
- Já sabes o que vais fazer? - pergunta ela colocando o prato de lado e deitando-se na erva observando-me.
- Vou para Briseida, talvez lá arrange algum trabalho.
- Óptimo, vamos tornar-nos uma dupla temível. - diz ela sorrindo. - Ainda agora percebi que ainda não te habituaste à ausência da Elektra, levaste a mão à espada mas ela não estava lá.
- É verdade, sinto-me nú sem ela, mas quando chegarmos à cidade irei comprar uma nova.
- Até lá, podes ficar com uma das minhas. - diz ela pondo-se em pé e tirando uma das suas espadas curtas da cintura.
- Lara, eu não posso aceitar, elas são tuas e sei como as estimas.
- Cav, aceita, eu sei que contigo estará em boas mãos.
- Ai, Lara, salvas-me da morte, corres para te juntar a mim e agora ofereces-me aquilo que mais prezas nesta vida, se não te conhecesse tão bem até diria que estavas apaixonada por mim. - digo piscando-lhe o olho.
- Ah! deliras, só podes. Deves estar com sono, por isso toca a dormir que amanhã partimos cedo.
A demónio volta a deitar-se e prepara-se para dormir, eu imito-a.
- Lara, ainda bem que voltaste. - olho para ela ao dizer estas palavras e apesar de tudo iria jurar que um ligeiro sorriso se desenha nos seus lábios.

quinta-feira, setembro 14, 2006

O Grupo Separa-se

Os primeiros raios de Sol penetram no quarto despertando-me do meu sono inquieto, os lençóis amarrotados e a almofada completamente empapada reflectem o meu estado de espírito durante aquela que considero a pior noite da minha vida. Felizmente a vida também tem coisas boas e não há nada como um bom banho quente para relaxar e colocar as ideias em ordem, deixo-me por isso ficar uma boa meia hora deitado na banheira inalando o vapor de água misturado com o cheirinho de sais de frutos. O meu coração ainda bate depressa quando penso na Ela, por minha vontade deixava tudo e entrava de rompante pelo seu quarto adentro colando os meus lábios aos dela e gritando bem alto o quanto a amava e que lhe perdoaria tudo, mas não posso, não consigo, algo dentro de mim impede-me de o fazer, o meu orgulho quiçá... Deixo-me afundar soltando poderosos suspiros dentro de água.
Momentos depois desço para o salão, a falta da Elektra faz-me sentir nú e incompleto, durante estes anos habituei-me a tê-la sempre ao meu lado e agora, sem ela, é como se tivesse perdido um braço ou outra parte de mim. Encontro Melissa e Orfeu sentados numa mesa ao pé de uma janela, é incrível, ainda ontem isto parecia um campo de batalha com mesas viradas e corpos por todo o lado, e agora é como se o que aconteceu ontem nunca tivesse acontecido, as pesadas mesas de madeira estão bem pregadas ao chão e muito bem tratadas, os candelabros e candeeiros encontram-se bem firmes nos tectos e nas paredes, as janelas e as portas permanecem intactas e o piso de madeira lustroso e reluzente. Sento-me ao lado deles com um sorriso, eles retribuem-no, mas apenas por delicadeza e não por gosto.
- Será que me podiam pôr a par de tudo o que aconteceu desde que defrontámos Gorath no deserto? - Pergunto calmamente enquanto devoro as torradas com manteiga e bebo o leite morno.
Eles olham um para o outro incrédulos.
- Não te lembras? - perguntam em conjunto.
- Não...
- De nada? - pergunta Melissa desconfiada.
- Já te disse que não, e aliás, tu és uma sacerdotisa, devias saber que as vitimas de possessão raramente se lembram de alguma coisa. - atiro-lhe um bocadinho irritado com a desconfiança.
Respirando fundo, Orfeu inicia o seu relato.
- ... E foi basicamente isto que aconteceu.
- Sim, muito resumidamente. - Diz Melissa sorrindo.
- Hm, então a Lilian foi-se embora, a minha espada está partida e esta tatuagem é na realidade uma armadura? Bonito, bonito... E a Lara, onde está?
- A Lara foi-se embora. - Diz Melissa bebendo o seu sumo.
- Como assim, foi-se embora?
- Ela não se despediu de ti? - Pergunta Orfeu.
- Não, não me disse nada.
- Esquisito...
- Ela disse para onde ia?
- Não, simplesmente disse que ia embora e hoje de manhã o seu quarto já estava vago.
Acabo de beber o meu leite quando a Ela se senta mesmo à minha frente, os seus olhos estavam vermelhos, provavelmente de ter estado a chorar durante a noite, tal como eu. O seu cumprimento é quente e um sorriso tímido forma-se nos seus lábios, no seu dedo anelar encontro as alianças que lhe atirei, ao vê-las o meu coração dispara e coro involuntariamente.
- Dormiste bem? - Pergunta ela lendo a resposta nos meus olhos.
- Na medida do possível... E tu?
- Também... Ouve, será que podemos falar um pouco melhor sobre a conversa de ontem?
- Não há mais nada para falar, está tudo dito.
- Está bem. - diz ela visivelmente entristecida.
Um silêncio profundo instala-se na nossa mesa, por fim, Melissa diz qualquer coisa.
- Cav, eu e o Orfeu decidimos partir, vamos para Luthein, existe lá um templo e quem sabe talvez precisem dos serviços de uma sacerdotisa e das histórias de um bardo.
Tendo em conta o estado das coisas, esta declaração não me surpreendeu.
- Eu compreendo, espero sinceramente que consigam arranjar alguma coisa por lá. Quando partem?
- Daqui a uma hora. Bom, agora vamos preparar as nossas coisas, até já!
E sem dizerem mais nada levantam-se e seguem para o quarto.
- Bom, parece que ficámos só nós os dois, como antigamente. - diz Eleanora piscando-me o olho.
- Eu também tomei uma decisão, Ela, vou partir, procurar aventuras por esse mundo fora.
- Eu posso ir contigo, éramos e podemos voltar a ser uma dupla. Ainda te lembras das nossas aventuras?
- Como me poderia esquecer, está tudo gravado na minha mente, tintim por tintim, mas tudo isso passou, tu morreste e eu tive de continuar sem ti.
- Mas estou aqui agora, à tua frente, eu amo-te Cav e eu consigo ler nos teus olhos que tu também me amas, nós...
- Por favor, Ela! Não dificultes ainda mais as coisas. Eu, ainda sinto algo por ti, mas isso vai mudar, tem de mudar. Tudo o que quero agora é recomeçar do zero, viver cada momento como se fosse a primeira vez e depois, só muito depois, se tu ainda ocupares o meu coração então eu procurar-te-ei e retomaremos de onde acabámos, até lá, deixa-me sozinho e em paz.
Levanto-me e dirijo-me para as escadas.
- Só mais uma coisa, vou acompanhá-los até saírmos do Mundo Inferior, se quiseres vir connosco não colocarei objecções, mas depois cada um seguirá o seu caminho.

Ilusões Desfeitas

A Eleanora abriu-me a porta com um grande sorriso nos lábios, seus olhos verdes miravam-me de alto a baixo brilhando com puro deleite. Ela está ainda mais magnífica do que aquilo que me lembrava, os seus cabelos cor de fogo estão apanhados com um gancho de madrepérola em forma de cisne, seus lábios bem delineados conservam ainda um pouco daquele batôn tão gostoso que tantas vezes saboreei nos nossos demorados e molhados beijos, a sua pele macia e sedosa ainda exala o seu perfume característico, o odor de orquídeas selvagens e aquela voz, aquela voz tão deliciosa que nos encanta e nos prende logo na primeira sílaba, faz-me simplesmente estremecer. O meu coração parece que vai explodir, parece que me vai saltar pela boca e por uns momentos esqueço-me do pergaminho e do que lhe venho perguntar, apenas anseio, não, desejo, beijá-la e possuí-la ali mesmo, ao pé da porta, e retomar as loucuras que fizemos num passado agora tão distante.
A elfo ajeita o seu fino robe de seda vermelha e convida-me para entrar, dois pauzinhos de incenso queimam lentamente ao pé da cama impregnando o ar com o seu odor curioso. Eleanora senta-se calmamente sobre a cama e pede para que me sente num pequeno sofá de verga, suspiro pesadamente e olho em volta admirando o seu quarto, dou por mim, por diversas vezes, a olhar por entre as abertas do seu robe, contemplando o seu corpo nú e as suas formas quase divinas, ela sorri ao apanhar-me num desses olhares mas nada faz para se cobrir um pouco melhor. Coro e decido finalmente inciar a conversa.
- Ela, eu estive a ler a carta que a Tela te pediu para me entregares e...
- ... e queres saber aquilo que ela escreveu é verdade, queres saber se a minha morte foi apenas uma encenação. - Finaliza ela.
- Sim, é isso mesmo. Caramba, mesmo depois deste tempo todo ainda consegues prever as minhas acções. - Digo sorrindo enquanto me coloco mais confortável.
Ela sorri e de seguida olha para mim com uma expressão muito séria.
- Nunca te menti, e agora não iria ser a primeira vez, por isso, é tudo verdade, eu ajudei-a e a minha morte foi apenas uma encenação.
Fico estarrecido ao ouvir aquilo, é como se um balde de água gelada tivesse acabado de ser despejado em cima de mim.
- Eu... eu não posso crer...
- Por favor, tenta entender a minha posição. - diz ela afagando a minha mão. - Eu sempre pensei que tudo iria acabar bem, que dentro de uns dias o tal Geon estaria morto e eu regressaria de novo ao mundo dos vivos. Eu apenas fiz aquilo que julguei melhor para ti.
- Durante todo este tempo... - murmuro olhando o vazio - durante todo este tempo sempre me culpei pela tua morte e afinal de contas tudo isto não passou de uma ilusão!?
- Por favor, tenta compreender, tu tinhas um espírito maléfico dentro de ti, eu própria conseguia senti-lo.
- Eu abandonei tudo por tua causa, abandonei os meus homens, a minha carreira no Senado, o meu estilo de vida...
- Cav, por favor, olha para mim e tenta entender-me, diz-me que me perdoas, que podemos começar tudo de novo.
- Perdoar-te? Perdoar-te por durante dois anos ter praticamente morrido para o mundo? Por praticamente durante dois anos ter ficado com um enorme buraco no peito? Por descobrir que afinal de contas a mulher que eu mais amava nesta vida me traiu desta forma, que me causou tanta dor e desgosto? Diz-me, Ela, haverá perdão possível?
A elfo deixa-se cair de joelhos fitando-me com os olhos marejados de lágrimas.
- Não, não há perdão possível. O que te fiz não se faz, mas por favor, tenta entender, foi para te ajudar, foi por amor.
- Por amor!? - Levanto-me irado - Por AMOR!? Pelos Deuses, Ela, como eu sofri ao ter que te enterrar, como eu sofri ao entrar na nossa casa, no nosso quarto e sentir o teu cheiro em cada divisão, em cada peça de roupa. Como podes ousar dizer que o que fizeste foi por amor, COMO?
Ela fita-me em silêncio sem saber o que responder.
- Tudo na minha vida foi uma ilusão, até tu, aquela que eu considerava uma âncora, um porto de abrigo, não passaste de uma ilusão!
- Não, não...
- Pois bem, tudo termina hoje! Se foi para me torturar desta forma que regressaste mais valia teres continuado morta, "meu amor"! - Dirijo-me para a porta em passadas grandes e furiosas.
- Espera, por favor... - a sua voz é tão frágil que mal se pode ouvir.
- Está tudo acabado, Eleanora, tudo! Toma, já não quero mais estas porcarias, já não significam nada. - Com os olhos cravejados de lágrimas atiro-lhe as duas alianças que mantive sempre com tanto carinho no meu dedo anelar.
Fecho a porta com um estrondo e corro para o meu quarto sem saber o que fazer. Diz o ditado que a noite é boa conselheira, pois bem, esperarei pelo seu conselho, mas tudo o que mais anseio agora é chorar, chorar por ter sido um enorme idiota e ter sofrido tanto por alguém que não merecia.

domingo, setembro 10, 2006

Revelações

Acordo num pequeno quarto parcamente mobilado, em cima de uma mesa está o velho pergaminho, ainda por abrir, que Tela pediu a Ela para me entregar. Sorrio pensando na alegria que tive ao ver a elfo uma vez mais, parecia um sonho encontrar de novo aqueles olhos verdes tão expressivos e inteligentes, sentir outra vez o perfume doce da sua pele e ouvir aquela inesquecível voz que só de me lembrar causa um nó no meu coração. Por estar fraco e debilitado, não percebi muito bem como é que ela regressou, ou o que teve Tela haver com tudo isto, apenas outra imagem assombra o meu espírito, os olhos de Lara, tristes e distantes.
Afasto o seu rosto da minha mente e levanto-me da cama, lá fora a tempestade continua a mostrar a sua força, e pelo que me parece, não se vai dissipar tão cedo. O som dos trovões e o flash dos relâmpagos são tão fortes e intensos que uma pessoa parece que vai ficar surda e cega ao mesmo tempo, a chuva, essa, cai sem piedade, com uma força e violência tal que os telhados mais fracos e os tecidos mais frágeis se desfazem ante a sua fúria. Abro a torneira da banheira e indiferente a este lamento da Natureza preparo um banho quente e relaxante. Antes de o saborear olho-me ao espelho, para satisfazer muito certamente aquele lado narcisista que existe em todos nós, o que vejo deixa-me espantado: no meu peito encontra-se uma tatuagem negra com a forma de um dragão e logo por baixo dela a cicatriz recente de uma ferida de flecha. Mal posso acreditar, mas verdade seja dita, não me lembro de nada, lembro-me apenas de ver Lilian a cair inconsciente sobre a areia escaldante do deserto e depois a ser ajudado pela minha amada Eleanora sob o atento olhar de Lara. Instigado pela curiosidade fecho a torneira e marcho para o quarto na esperança que aquele pergaminho me dê as respostas.
O pergaminho é velho, o seu papel está amarelado e em algumas partes parece ter sido queimado, o seu selo é bem peculiar, impresso na cera vermelha está um brasão de armas em forma de dragão segurando com a boca a letra T e com a cauda a letra L. Assim que lhe toco com o propósito de o quebrar uma faísca vermelha é libertada e como por magia o pergaminho abre-se sozinho e umas letras igualmente vermelhas aparecem vindas do nada. Eis o seu conteúdo:

Bravo guerreiro,

Se estás a ler esta carta é porque o meu tempo de vida no teu mundo esgotou-se e a minha triste missão chegou finalmente ao fim. Quero primeiro que tudo pedir-te perdão pelo que te fiz e pela mágoa e dor que te causei, mas quero também que saibas, que se fiz o que fiz foi em nome de um Bem maior.
Chamo-me Tela Leon e pertenço a uma raça muito antiga e poderosa cujo nome perdeu-se nas areias do tempo. Sou aquilo a que podes chamar de Vigilante, a minha missão é vigiar e eliminar possíveis ameaças ao bem estar dos habitantes de Gaia, tanto mortais como imortais.
Infelizmente para ti os nossos caminhos cruzaram-se, e não, não foi em Kin que nos encontrámos pela primeira vez, embora essa tenha sido a primeira vez que me viste sob a forma humana. Tenho acompanhado os teus passos desde o teu nascimento, desde o momento em que abriste os olhos e contemplaste com profunda curiosidade o novo mundo que agora se deparava diante de ti.
Imagino-te a perguntar o porquê de seres alvo da minha atenção, a resposta, meu caro, é simples, não era a ti que eu observava mas sim uma outra entidade que se escondeu dentro do teu corpo para fugir ao julgamento que o esperava. O seu nome era Geon, o meu grande amor, e foi precisamente graças à minha fraqueza que o deixei escapar e esconder-se dentro de uma criatura inferior, tu! Ai, como fui tola, como pensei que dando-lhe esta oportunidade ele redimir-se-ia de todos os males que fez, mas tudo o que fiz foi torná-lo mais forte e o seu espírito mais perverso e maléfico.
Fui julgada pelo que fiz e como castigo fui forçada a caçar e destruir aquele que eu amava mais que a própria vida. A única maneira de o eliminar e cumprir a minha missão era enfraquecer o teu espírito de forma a que Geon tomasse o controlo. Uma tarefa dura, pois provaste quase sempre ser senhor de uma vontade inabalável e de uma força espiritual bastante forte. Finalmente consegui-o a 2 de Júlio de 2004DR, mas precisei da ajuda da tua amada Eleanora que na noite anterior concordou em auxiliar-me.


Leio e releio vezes sem conta esta última parte, mal posso acreditar, a Ela nunca faria uma coisa destas, simplesmente não o faria. Inspiro profundamente e continuo a ler o que resta da mensagem.

A sua "morte" possibilitou a libertação de Geon, mas não da maneira que eu esperava, o seu controlo era apenas parcial, no fundo eras tu que continuavas a controlar grande parte das acções, mesmo as mais desagradáveis, o teu objectivo era descer aos Infernos e libertar a tua amada, como tantos anos antes fizera Orfeu. Ela estava sob a minha influência e apesar de todos os meus esforços Geon não se libertou e tu recuperaste o total controlo das tuas capacidades, embora o meu amor começasse a ganhar forças.
Decidi apresentar-me e oferecer-me a ti na pequena cidade de Kin, precisava de descobrir o estado de Geon, se estava ou não preparado para se libertar, vi que sim e uma vez mais usei uma outra amiga tua, a Meg, para desferir um novo golpe no teu espírito. O teu controlo ia caindo dia após dia, Geon ganhava força e a minha missão iria estar finalmente completa. Guiei-te até à pequena cabana de Lilian, um anjo orgulhoso que perdera as suas asas de uma maneira traumatizante, outra coisa de que não me orgulho de ter feito... Deixei que ambos se apaixonassem um pelo outro e na altura certa, usei-a como instrumento para libertar o meu amado.
Finalmente obtive sucesso e Geon libertou-se apoderando-se completamente do teu corpo.

Preparo-me agora para o combate final, pressinto que vai ser uma luta difícil pois cometi um erro ao esconder Geon dentro de ti, o teu sangue é antigo e poderoso e este meu descuido pode custar-me a vida e selar o destino de Gaia. Mais não digo a teu respeito, em boa hora o saberás...

Pela última vez te peço perdão.

Cordialmente,
Tela Leon


O som dos trovões havia parado e a chuva e vento pareciam agora mais calmos, infelizmente dentro de mim um turbilhão de sentimentos assolava-me causando mais estragos do que a violenta tempestade que ainda há poucas horas se abatia sobre a cidade. Levanto-me e rasgo aquele infame pergaminho, recuso-me a acreditar nele, especialmente na parte em que se refere à morte da Ela. Visto um robe e saio pela porta procurando pelo quarto da elfo em busca de explicações.

sábado, setembro 09, 2006

Instantes Finais

O Cavaleiro encara a nova adversária com um olhar de puro espanto esquecendo-se por completo de Lilian que jaz à sua frente ainda inconsciente. Tela, aproveitando o impacto que provocou no espírito dele, avança temerariamente na sua direcção, completamente encharcada, devido à chuva que cai incessantemente lá fora, o seu aspecto em nada se assemelha a uma criatura deste mundo, o seu rosto outrora terno enfeitado com deliciosas sardas, encontra-se agora desfigurado pela pintura que se desfaz em contacto com as gotas de água, seus cabelos negros encaracolados, anteriormente bem arranjados, caiem agora pesadamente sobre os seus ombros e sobre o seu rosto e seus olhos castanhos, tão belos e puros que pareciam pulsar de vida, são agora frios e carregados de dor e ódio. Atrás dela entra uma segunda personagem que se mantém silenciosa e é praticamente ignorada por todos, excepto por Lara.
- Tudo termina hoje, meu caro! - diz Tela secamente - Garanto-te que desta vez acabarei contigo!
O Cavaleiro recompõe-se e sorri encantadoramente.
- Duvido, meu amor, da última vez não foste capaz, o que te leva a pensar que irás conseguir agora? Aceita o facto que ainda me amas! - ele cala-se fazendo uma pausa estratégica para observar a reacção da sua rival, esta estremece involuntariamente dando a conhecer que o golpe fora certeiro. - Ah, o amor, que sentimento chato esse. Sofremos tanto em nome dele, cometemos loucuras em nome dele e perdoamos tudo em nome dele. E o pior de tudo, é que por vezes a distância e a ausência ainda o tornam mais forte. Somos de facto criaturas patéticas...
Tela pára, esquecendo-se momentaneamente do que viera fazer e rende-se àquela voz tão cativante.
- Junta-te a mim, meu amor, juntos poderemos conquistar o Universo, reinar para sempre como amantes que nunca deixámos de ser e tomar o lugar que é nosso por direito, o Trono Celestial!
Ele aproxima-se dela tocando-lhe no rosto e afagando os seus cabelos, ante este toque quente e suave, sentindo o seu perfume, ela simplesmente fecha os olhos e sorri docemente como fez tantas vezes ao seu lado. Os seus lábios tocam-se trocando um beijo carregado de paixão e ternura, libertando toda a saudade genuína que os seus corações mantinham cativa. Mas desta vez é diferente, e Tela sabe-o, no meio do beijo uma pequena lágrima de dor escapa-se traindo-a e trazendo de volta as razões que a levaram até ele.
- Pára! - diz ela quebrando a magia daquele beijo. - Por favor, pára! Só os Deuses sabem o quanto eu te amo, fomos feitos um para o outro e mesmo nesta hora tão amarga para mim eu não consigo deixar de sentir outra coisa senão amor. Mas tu tens de pagar pelos teus crimes e por um cruel destino, serei eu que terei de os expiar. Eu lamento imenso, mas tenho que cumprir a minha missão! - O seu rosto estava transfigurado pela dor, as lágrimas corriam como uma cascata pela sua face ante a ironia deste destino tão cruel.
- Eu também lamento - diz ele limpando-lhe em vão as lágrimas. -, acabemos então com isto.

O combate travado por estas duas personagens é intenso, durante algumas horas nenhum dos dois parecia ter ganho vantagem, a sua destreza e habilidade na magia era inigualável, nem mesmo alguns dos mais poderosos e lendários feiticeiros do mundo conseguiria aguentar-se por tanto tempo lançando magias tão poderosas que abalavam as fundações do prédio e até da própria cidade. Um espectacular e alucinante efeito de cores, fumos e sons é expelido por toda a cidade até que por fim, tudo acaba tão depressa como começou. Tela, está de joelhos ofegante e o seu rival, embora exausto, sorri mostrando a sua superioridade.
- Meu amor, eu disse-te que n irias conseguir, mas de uma coisa eu estou realmente espantado, não te contiveste, desta vez quiseste mesmo acabar comigo.
- Eu... disse-te... isso... - diz Tela arfando e limpando as pesadas gotas de suor que lhe cobriam o rosto.
- Tenho muita pena, sinceramente, mas vou acabar contigo.
O Cavaleiro avança para ela soltando as garras dos seus punhos.
- Espera... antes de me matares, eu quero saber como é que aumentaste e dominaste tão rapidamente este poder.
- Foi a minha armadura, uma maravilha, feita de escamas de dragão, os verdadeiros mestres de magia.
- Como eu suspeitava. - Tela fixa o seu olhar no dele e sorri. - Ela, faz o que tens a fazer.
A figura silenciosa obedece imediatamente e colocando uma flecha no seu arco, aponta-a directamente ao peito do Cavaleiro.
- Uma flecha? Tela, sinceramente esperava mais de ti! As armaduras de dragão são as mais poderosas do mundo, nada as afecta, nada! - diz ele sorrindo.
- Errado! - diz Tela tão confiante que espalha a dúvida no seu adversário. - Existe algo que afecta uma armadura de dragão, uma flecha criada a partir de um dente deles.
A flecha parte imediatamente, certeira em direcção ao peito do Cavaleiro. Este mal tem tempo de reagir, apenas de ouvir o som da sua armadura quebrar-se e de sentir a sua ponta penetrar a sua carne. Sem ter plena consciência do que aconteceu ele recua uns passos e leva a mão à ferida que acabara de sofrer. As suas pernas ficam bambas e sem se poder aguentar por mais tempo em pé cai no chão sentindo o sangue quente escorrendo pelo seu corpo.
Satine que assistia a tudo deleitada, solta um grito de dor e corre na direcção do seu adorado amante, suas mãos nervosas arrancam a flecha do seu peito libertando ainda mais o fluxo da hemorragia.
- Cabra! - grita ela chorando copiosamente. - Vais pagar!
E sem pensar duas vezes atira-se a Tela com o intuito de acabar com a sua vida. Uma outra seta é disparada e crava-se no pescoço da vampira detendo o seu avanço e cortando-lhe a voz.
- Tenho pena de ti, criatura das trevas, pois tal como eu, és prisioneira do amor. - diz Tela levantando a mão e conjurando um feitiço. - Espero que encontres a paz no local para onde te vou mandar.
Uma luz azul é libertada da sua mão cobrindo por completo a vampira. O seu corpo contorce-se convulsivamente e depois desaparece deixando no seu lugar cinzas, a flecha e um pequeno anel.

Tela levanta-se e aproxima-se do corpo de Cavaleiro que ainda respira mas com dificuldade.
- Agora nós, meu amor. - diz ela beijando carinhosamente a fronte dele.
Colocando a mão por cima do peito dele, Tela invoca mais uma vez o seu poder, dos seus dedos uma luz lilás é expelida e cobre por completo tanto o seu corpo como o do Cavaleiro. Ele estremece e um vulto negro levita no ar olhando em volta tristemente.
- Aqui estás tu, meu amor. - diz Tela com amargura. - Como te prometi, irei cumprir a minha missão até ao fim.
Os seus lábios movem-se mas nenhuma palavra é expelida.
- Lilian - diz esta mulher poderosa virando-se para o anjo já desperto e assistindo a tudo isto fascinado. -, vou precisar da tua ajuda. Lembras-te do que te disse sobre as tuas asas? Pois bem, chegou a altura de o provares, o teu amado está neste momento entre a vida e a morte e não há feitiço no mundo capaz de o retirar do limbo, apenas tu o poderás salvar, mas para isso terás que abdicar da tua condição de anjo para o trazer de volta.
Lilian olha para ela receosa, desde que a deixara que temia aquela escolha.
- Eu... Eu não sei... - diz a anjo hesitante.
- O tempo urge, Lilian, tens que te decidir, vais abdicar ou não!
- Mas isto é tudo tão repentino, as minhas asas voltaram e agora tenho que as perder de novo?
- Sim ou não! - repete impacientemente Tela.
- NÂO! - responde Lilian nervosamente e libertando lágrimas de dor. - Não, não e não, eu amo-o, mas não sou capaz de me separar das minhas asas de novo, simplesmente não consigo.
E dizendo isto sai do salão e afasta-se daquela estalagem voando para parte incerta.
- E agora? - Pergunta Lara.
- Agora, querida demónio, o Cavaleiro está perdido.
- Mas não há nada que possamos fazer? - Pergunta Eleanora.
- Não, o anjo era a única opção, sem ele, o vosso amigo está perdido. Para o trazer de volta é preciso uma força bem poderosa.
- E eu? - Pergunta Lara aproximando-se e ajoelhando-se junto do Cavaleiro.
- Como assim?
- Eu e o Cav estamos ligados através de magia, eu sou a escrava dele e ele é o meu senhor, não poderá ser essa uma opção?
- Talvez... Não tinha pensado nisso, essas magias são bem poderosas e são capazes de unir duas pessoas para o resto da vida. - diz Tela pensativamente. - Estarás disposta a cortar o teu elo com ele? É a única forma...
A demónio estremece ao ouvir isto e fixa o seu olhar no rosto quase puro do seu amante.
- Sim...

Usando a ligação que une os dois, Tela consegue puxar de volta o espírito perdido do Cavaleiro. A magia que liga a demónio ao seu amante desfaz-se imediatamente e uma sensação estranha invade o corpo de Lara. É livre finalmente e deveria estar contente, mas então porque razão sente um profundo pesar e mágoa? Porque se sente como se um buraco acabara de se abrir no peito? Estas e outras perguntas e sensações são rapidamente afastadas quando o seu companheiro volta a respirar livremente e a sua ferida fecha-se como por magia.
- O meu trabalho está concluído. - diz Tela. - Ela, entrega isto ao Cavaleiro. Agora tenho de partir.
A elfo recebe um pergaminho muito velho e observa o desenlace do triste destino da sua amiga. Envolta ainda numa luz lilás, Tela termina a sua magia, o espírito do seu amor dissolve-se por completo libertando um medonho grito. Deixando cair a cabeça e abrindo as portas do seu coração, a feiticeira deixa-se consumir pela sua própria magia.
- Triste destino, o meu... - Diz ela antes de se suicidar.

quinta-feira, setembro 07, 2006

O Prenúncio do Fim

O homem caminha calmamente para o centro da sala detendo-se logo a seguir junto do corpo inanimado de Lilian, pouco se pode ver do seu rosto à excepção de um brilho sinistro no seu olhar. Atrás dele, uma segunda figura aparece vinda do nada, uma bela mulher com uma rude cicatriz, ainda recente, no rosto. A sala permance no mais profundo silêncio, assistindo com um misto de interesse e medo a estas duas novas personagens. O Cavaleiro agacha-se descobrindo o seu rosto e fitando o anjo inconsciente com um ligeiro sorriso nos lábios, seus dedos desapertam os botões da camisa de linho da doce Lilian, expondo à vista de todos os seus seios e a pérfida cicatriz que ele próprio criou.
- Pára de lhe tocar! - grita Melissa que não mais podia conter o seu ódio por tal pessoa. - Tira essas tuas patas sujas de cima dela, seu nojento!
Os olhos dele fixam-se na direcção da voz, são frios e calculistas, desprovidos de qualquer sentimento.
- Ora, ora, se não é a sacerdotisa de Juno. - diz ele afectando um sorriso. - Descansa, minha cara, eu já vou tratar de ti, deixa-me apenas enviar esta mulher para o local de onde nunca deveria ter saído.
Dizendo isto, a espada que se mantinha imóvel a pairar no ar, estremece e move-se lentamente.
- Serás assim tão cobarde, Cav? Matar uma criatura inconsciente é desprezível, até mesmo para um demónio. - diz Lara.
- Os fins justificam os meios, minha querida. - diz ele forçando a espada a colocar-se numa posição capaz de desferir um golpe mortal.
- E vocês idiotas que estão a ver, vão deixá-lo matar o anjo? Não terão vocês a primazia de lhe tirar a vida? Irão deixar que este reles humano vos retire esse prazer? - continua a demónio incitando os seus irmãos de raça.
O silêncio é quebrado e mais uma vez um burburinho inquietante faz-se ouvir, os demónios fixam os seus olhares irados no Cavaleiro e na sua concubina.
- Ela tem razão! Afasta-te humano, a anja é nossa! - grita um deles.
Todos os outros emitem gritos de apoio e sacam das suas armas para mostrar que os seus intentos são sérios. O Cavaleiro olha para cada um deles e ergue-se sem mostrar receio, calmamente despe o seu manto e revela a sua armadura esverdeada que o cobre por inteiro.
- Se a querem - diz ele calmamente e com um ligeiro sorriso nos lábios. -, venham então buscá-la!
O salão enche-se de gritos de guerra e desta vez todos se lançam contra o seu inimigo. Melissa, Lara e Orfeu vendo-se livres dos seus carcereiros temporários apressam-se a puxar Lilian para si enquanto todos se concentram naquele humano insolente. Assim q o anjo é posto a salvo a demónio vira-se para observar o combate, o seu coração bate forte ao ver o seu antigo amante defrontando com uma calma inexplicável aquela turba louca e furiosa que se atira para cima dele como ondas num mar tempestuoso. Os seus punhos cerram-se involuntariamente ante o desejo de o ajudar, de lutar sem medo ao seu lado e sentir, nem que por um segundo, a sua respiração ofegante, o toque da sua pele e a sua voz decidida bramindo ordens e inquirindo indirectamente se estava bem. Mas tudo isso é agora apenas uma memória vã, uma lembrança longinqua que pode ser remetida até àquele infame dia no deserto.

Subitamente tudo termina tão rápido como começou, o vencedor ergue-se no meio daquela pilha de cadáveres que se amontoa no enorme salão da famosa estalagem. O Cavaleiro, coberto de sangue e de cinzas demoníacas, mantém a sua calma recolhendo as garras que lhe apareceram como por magia dos punhos, os seus olhos frios perscrutam primeiro pela sua concubina, achando-a num canto deleitando-se com o sangue de um demónio ainda vivo, a seguir procuram incessantemente por Lilian, encontrando-a no outro lado da sala protegida pelos seus companheiros. Ele sorri maldosamente e caminha na sua direcção preparado para acabar o serviço.
- Não te vou deixar matar a anjo! - grita Lara atirando-se a ele.
Um acto inútil, pois assim como afastamos com apenas um gesto uma mosca, assim fez ele com a demónio, atirando-a para cima das escadas e abrindo de novo a ferida no seu ombro. Melissa e Orfeu tentam igualmente detê-lo, mas com igual sorte. Lilian acha-se assim desprotegida e o nosso Cavaleiro, lambendo os lábios com uma satisfação tremenda, prepara-se para desferir o golpe final.
- Ainda não! - grita uma voz conhecida. - Primeiro terás de nos enfrentar!
Arrepiado, ele vira-se na direcção da voz.
- Tu! - diz ele num tom quase inumano. - Não pode ser, tu estás morta!
- Tu também deverias estar - diz Tela aproximando-se. -, talvez tenha sido por isso que eu tenha voltado a este Mundo, para acabar contigo de uma vez por todas!

quarta-feira, setembro 06, 2006

Uma Ajuda Inesperada

O salão fica silencioso e todos os olhares convergem para aquela imponente figura alada que se mantém em cima da mesa empunhando vitoriosamente a sua espada. Lara não é excepção, mesmo ferida gravemente no ombro não deixa de soltar um grito de espanto ao ver, no seu ponto de vista, a completa burrice da sua companheira e outrora amante.
- Mas tu estás LOUCA!? - grita a demónio pondo-se em pé mantendo a todo o custo a pressão sobre a sua ferida.
- Não. - diz calmamente o anjo. - Ouvimos os teus gritos e pensámos que precisavas de ajuda, e não nos enganámos, mas, querida Lara, escusas de agradecer. - diz ela sorrindo.
Estas palavras ferem de morte o orgulho da demónio.
- Agradecer pelo quê? Pela morte te ter deixado apenas um neurónio nessa cabecinha? - diz Lara sarcasticamente e vermelha de raiva.
Lilian prepara-se para responder, mas Melissa intromete-se evitando assim uma discussão entre as duas.
Pela sala um burburinho inquietante faz-se ouvir, embora as tréguas entre demónios e anjos tenham sido assinadas, o ódio secular ainda perdura e muitos demónios não iriam perder a oportunidade de ceifar a vida a um destes guerreiros alados. Lilian, indiferente ao barulho de fundo, dirige-se para as escadas na esperança de poder finalmente entrar no seu quarto e dormir, mas tal tarefa revela-se impossível pois dois demónios colocam-se entre ela e a escada cortando a sua passagem, lá em cima, como que lendo os pensamentos do anjo, outros dois montam guarda no corredor lançando olhares de poucos amigos na sua direcção.
- Dão-me licença? - Pede calmamente o anjo aos demónios que se colocam intencionalmente no seu caminho.
- Não queremos anjos na nossa estalagem! - diz um deles.
- É melhor saíres, queridinha, porque se deres mais um passo, darás o último. - diz o outro.
Lilian estremece ao ouvi-los e um ligeiro rubor de irritação afloresce no seu rosto.
- Hey, Lila, será que é demasiado tarde para te dizer «Eu avisei-te»? - grita a demónio triunfantemente.
Lilian fita Lara com uma irritação crescente e volta-se de novo para os dois demónios.
- Deixem-me passar! - diz ela dando um passo em frente.
- Vais passar sim, mas para o outro Mundo. - diz um deles desembainhando a sua espada e lançando-se na sua direcção.
O salão enche-se de gritos e de assobios, como se de uma arena se tratasse, ninguém se move mas todos se ajeitam para assistir ao espectáculo. O demónio ataca freneticamente o seu oponente, seus olhos injectados de sangue reflectem o seu ódio por tal criatura. Lilian, pouco mais faz do que defender-se e aparar os golpes, cada vez mais rápidos e precisos, embora tenha regressado à sua forma anterior o seu conhecimento no manejo da espada ainda não está bem assente na sua mente nem nos seus músculos destreinados. Cercados, Melissa e Orfeu assistem desesperados ao combate desigual enquanto que Lara assiste com deleite os erros básicos de Lilian.

Finalmente, e sem surpresa, o anjo é desarmado e deitado ao chão.
- Agora, minha querida, é hora de implorares pela tua vida. - Diz sorrindo o demónio erguendo bem alto a sua lâmina.
- NUNCA! - Grita Lilian dando um pontapé nas partes baixas do demónio.
O sorriso de triunfo desaparece-lhe imediatamente do rosto e é substituído por uma expressão mista de dor e confusão. Aproveitando estes segundos, Lilian apanha a sua espada e crava a lâmina no coração do demónio. Um som de choque e surpresa ecoa pela sala enquanto o este se desfaz em chamas. O segundo demónio vendo o triste destino do seu companheiro atira-se a Lilian esmurrando-a no rosto e deixando-a inconsciente com o seu impacto levando a sala a uivar de alegria. Gritando palavras incompreensíveis e cuspindo para cima do anjo, o demónio apanha a espada do seu amigo e prepara-se para desferir um golpe mortal.
A lâmina cai tomando a direcção do pescoço de Lilian, mas subitamente pára a escassos centímetros do alvo. O demónio sem perceber o que se passa, tenta com toda a sua força movê-la e desferir o seu golpe, mas a espada, presa por uma força invisível, recusa-se a mover.
Uma vez mais um burburinho ecoa pelo salão, todos olham para a lâmina que se encontra de pé em pleno ar, presa muito certamente por uma magia poderosa.
- O... O que se passa? - pergunta o demónio assustado olhando à sua volta.
- Magia! - grita alguém.
- E poderosa. - grita outro.
- A culpa deve ser dos amigos do anjo! - afirma ainda outro.
Todos os olhares se viram na direcção de Melissa, Orfeu e Lara.
Subitamente, uma voz forte faz-se ouvir vinda da porta, os olhares são desviados na sua direcção e detêm-se numa figura coberta por um manto negro.
- A culpa, meus caros, é minha! Esse "anjo" será morto por mim e por mais ninguém, e se algum de vocês tiver um problema com isso, então que avance!
- Quem és, estranho? - Pergunta o demónio que ainda há pouco lutava com Lilian.
- Tenho muitos nomes, mas podes tratar-me por Cavaleiro!