segunda-feira, julho 16, 2007

Vingança

A tempestade torna-se cada vez mais violenta à medida que a noite avança. Negras nuvens cobrem os céus de Briseida soltando faíscantes relâmpagos capazes de afastar por breves segundos as espessas trevas da noite. Os trovões rugem com uma tal intensidade que são capazes de fazer estremecer os vidros e as loiças e a chuva, pesada e insistente, teima em cair dos céus causando estragos e inundações em algumas ruas e residências. A atmosfera em torno da cidade é electrizante e todos, desde o cidadão mais humilde e inexperiente até ao mais sábio, sente que algo de importante vai acontecer esta noite.
Eliantha observa placidamente o temporal de uma das janelas do palácio, a tempestade traz-lhe à memória recordações há muito esquecidas de uma época perdida no tempo. Um arrepio gelado provocado por uma súbita corrente de ar fá-la estremecer e apertar ainda mais o seu robe de lã azul ricamente bordado.
- Parece que os Deuses estão zangados. - diz ela observando um relâmpago prateado que aparece subitamente no céu iluminando a noite. - Será que tem algo a ver com aquilo que te estou prestes a fazer, anjo? - pergunta Eliantha rodando sobre os calcanhares e fixando os seus olhos esverdeados numa mulher que se encontra de joelhos no meio da sala.
- E o que é que uma louca como tu me quer fazer? - pergunta Lilian tentando levantar-se mas sem sucesso.
- Louca? Eu? Meu caro anjo eu não sou louca, apenas tenho grandes planos para esse poder que emanas. Esse poder tão delicioso que se escapa de cada poro da tua doce e delicada pele. - a feiticeira sorri e aproxima-se da cativa ajoelhando-se em frente dela. - Nunca conheci alguém com um poder tão puro e forte como o teu, acredita que vai ser um prazer sugar-to.
Lilian empalidece ao ouvir estas palavras.
- C-como assim?
- É muito simples, meu anjo, o teu poder, a tua essência divina, irá alimentar-me, irá tornar-me mais forte, mais jovem e bela. - responde Eliantha sorrindo. - Infelizmente, para ti, perderás todas as tuas capacidades e as tuas belas asas. Tornar-te-ás uma simples e reles humana.
- N-não! DE NOVO NÃO!! - grita Lilian tentando debater-se e afastar-se da vil feiticeira.
- Receio que não tenhas escolha, meu doce anjo. O teu poder será meu e não virá nenhum cavaleiro montado num cavalo branco para te salvar. É melhor parares de te debater e renderes-te ao teu Destino.
- Não... - a voz de Lilian é tão fraca que mais parece um gemido. Os seus olhos ainda agora tão verdes e vivos tornam-se baços e desprovidos de vida fitando simplesmente o vazio. Todo o seu corpo e mente ficam sem reacção como que hipnotisados pelo olhar vibrante de Eliantha. A sua pele sente pela primeira vez o toque gelado da mão da feiticeira e vai perdendo o seu calor à medida que a sua energia divina é lentamente sugada. As suas belas asas brancas estremecem como se a pureza da sua concepção estivesse a ser enlameada por algo muito negro e sujo. Lentamente vão apodrecendo perdendo a sua cor e altivez. Tudo o que Lilian fora, é e será é abruptamente apagado transformando-a numa simples casca vazia. - Oh Cav, meu doce Cav...

- O que é que vocês lhe fizeram? - pergunta Eleanora horas mais tarde segurando o corpo inanimado de Lilian.
- Nada que te diga respeito. - responde-lhe abruptamente um dos guardas. - Mas podes ficar descansada, a tua amiga irá ficar boa, caso chegue a acordar. - Os risos dos guardas ecoam pelo corredor, deixando Eleanora bufando de raiva.
- Lilian, Lilian, por favor acorda. Não deixes que aquela bruxa te leve a melhor, por favor reage. - a elfo dá ligeiras palmadinhas no rosto de Lilian para a tentar despertar. - Oh Blaudewed, por favor ajuda-nos!
Subitamente a porta da cela abre-se dando passagem a Diana.
- Olá, Ela, há quanto tempo. - diz Diana sorrindo.
- Diana? Mas o que é que fazes aqui? Como é que passaste pelos guardas lá fora?
- Estás a perguntar por estes trastes? - pergunta Lara emergindo das sombras transportando duas cabeças numa das mãos e na outra uma espada curta ensanguentada.
- Que raio de pergunta, Ela, vim salvar-te, é claro.