domingo, abril 27, 2008

O Dia Seguinte (1ª Parte)

Duncan caminha de um lado para o outro dissertando sobre tácticas eficazes para eliminar rapidamente um feiticeiro ou alguém dotado de magia, mas eu nem lhe ligo, a minha atenção está totalmente concentrada no camarote principal das bancadas que rodeiam a arena. Ali encontram-se sentados, com a maior das comodidades, Evan e Lisa, nossos patronos, e atrás deles está Thernion, de pé, observando com igual atenção o treino. O meu olhar está fixo nele, estudo-o e procuro encontrar os seus pontos fortes e fracos. Depois da conversa com Sekhet ontem à noite apercebi-me que este homem de tez amarelada e doentia, de corpo magro e franzino, de cabelos negros espigados e oleosos, e de olhos avermelhados vivos e inteligentes, é muito mais perigoso e poderoso do que deixa transparecer. A sua vinda a este campo de treino não foi coincidência, pois a coincidência raramente faz parte da vida dos feiticeiros, a sua vinda tem um propósito e tem um nome, Sekhet, irmã de Jerrod.
Duncan continua a sua explicação usando um dos novos recrutas como exemplo, mas a minha atenção continua virada para aquele meio-elfo enigmático. Sekhet aparece nas bancadas momentos depois transportando uma bandeja com três copos e um jarro de cristal contendo um líquido dourado, provavelmente um refresco de limão para saciar as gargantas secas dos três espectadores. Thernion aproxima-se por trás e agarra-lhe o pulso enquanto lhe sussurra alguma coisa ao ouvido que a faz corar e esboçar um ligeiro sorriso. Compreendo nesse preciso momento a reacção de Sekhet ontem à noite, ela não se irritou comigo por causa de um amigo ou confidente, irritou-se comigo porque a queria afastar do seu amante. Ela está apaixonada por ele e isso coloca-a num perigo maior do que tinha imaginado.
- ... besta me está a ouvir!? - berra Duncan ao meu ouvido soltando diversos perdigotos e despertando-me dos meus pensamentos.
- Estou, sim senhor! - respondo rapidamente tomando uma postura de sentido absoluto.
- Ah, ainda bem, meu mandrião, por momentos pensei que o mundo da lua fosse muito mais interessante do que o meu discurso sobre técnicas de defesa e contra-ataque em combates com feiticeiros. - continua ele berrando e fixando os seus olhos cinzentos nos meus.
- Não, meu senhor! - volto a responder numa voz forte e em sentido.
- Então nesse caso vais disponibilizar-te como voluntário para demonstrares aos teus camaradas aquilo que acabaste de aprender combatendo com um feiticeiro numa luta até à morte, não vais minha menina? - diz ele sorrindo continuando a fixar-me deleitado com os seus olhos pequenos e sádicos.
Antes de ter hipótese alguma de responder ele empurra-me para a frente e ordena todos os outros que saiam da arena.
- Vais enfrentar um gladiador perito nas artes mágicas. - diz ele medindo-me de alto a baixo. - É um veterano nas arenas e receio bem que mesmo que uses as técnicas que te ensinei não irás sair vivo do confronto.
- Vejo que tem bastante confiança nas técnicas que ensina. - respondo sarcasticamente.
- Eu tenho confiança nas técnicas, não tenho é confiança no monte de dejectos que me entregaram para transformar em gladiadores competentes. - diz ele cuspindo no chão.
- Se somos maus é porque o nosso instrutor não presta. - respondo-lhe em tom de desafio.
- Humano insolente! - exclama levando a mão ao punho da sua maça. - Se não fosses propriedade de outro esborrachava-te a mioleira. Tenta apenas durar mais que dois minutos para dar um bom espectáculo aos teus ex-camaradas.
E dito isto roda sobre os calcanhares e sai da arena indo juntar-se aos meus companheiros nas bancadas. Confortavelmente sentado numa das cadeiras dá ordem para que o meu adversário entre.
- Hey! Poderei ao menos ter uma arma para o enfrentar? - peço dirigindo-me a Duncan.
- Usa os punhos!! - berra o anão irritado.
- Mestre Duncan, - apela subitamente Evan. - se o rapaz vai lutar que ao menos tenha uma arma.
- Muito bem, meu Senhor. - aquiesce o Anão furioso e vira-se para um dos guardas. - Tu aí, dá-lhe a tua espada.
O guarda obedece e atira a espada para dentro da arena no preciso momento em que entra no recinto o meu oponente. Apresso-me a ir apanhá-la, mas um relâmpago branco acerta-lhe em cheio desfazendo-a por completo. Não tenho outro remédio senão virar-me e enfrentar o meu adversário desarmado.

6 comentários:

Denise Dória disse...

Estava eu ansiosa e triste, pois não conseguia dormir. Lembrei de teu blog e vim curiosa dar, enfim, aquela "olhada" q eu estava postergando. De repente fui transportada de meu quarto e me vi em meio a uma arena com a mão no coração, a torcer por um nobre guerreiro. E agora quero o final dessa história. Será isso um feitiço que lanças sobre teus leitores? Se assim o for, deveríamos ser advertidos de tais possibilidades.
Mas é um feitiço para o bem... Estou literalmente encantada. Virei visitar-te sempre e sempre, pois é esse o desejo q agora me apetece: degustar com prazer quase táctil as aventuras de teus heróis.
Grande abraço.

Someone disse...

Ola,esta é a primeira vez que visito este teu espaço cheio de mistério.Aguardo ansiosamente a segunda parte desta luta,aparentemente desigual...um beijo e um ótimo domingo.

C

Someone disse...

Ola.Obrigada pela visita e pelas palavras simpáticas.
Beijo doce
Boa semana

C

Anónimo disse...

Saudações
Deveríamos olhar sempre além do horizonte... é lá que se encontra a verdadeira felicidade!
Abraços

Anónimo disse...

Olá Cavaleiro, tenho estado a seguir as tuas estórias, que além de ajudar a passar o tempo, trazem-me de volta a um mundo às vezes esquecido. É tão bom poder olhar de novo para casa. Se ainda estiveres por aqui, deixo-te um pedido...um desejo...não pares de contar, de escrever, de mostrar Gaia e os seus encantos...
Que os deuses dos teus antepassados te tragam de volta

angel bar disse...

Convite para Long Drink "Just The Way You Are" no Angel Bar. Monstros Electrónicos II, verídico...