sábado, dezembro 23, 2006

Medos

Um espesso manto negro abate-se sobre nós à medida que nos embrenhamos cada vez mais pelo novo corredor, a luz das nossas tochas vai-se esmorecendo, sugada pelas trevas esfaimadas, até desaparecer por completo e lançar-nos na mais sombria escuridão. Tentamos a todo o custo reacender as nossas lanternas, mas nem uma faísca conseguimos produzir, as sombras parecem ser donas e senhoras deste local impedindo a formação da mais pequena porção de luz. As trevas começam então lentamente a mexer na nossa mente, o silêncio absoluto e o medo primário da ausência de luz forçam-nos a imaginar sons, barulhos estranhos e a ver coisas que simplesmente não existem. Tento lutar contra este temor irracional, mas é mais forte que eu, o instinto de sobrevivência obriga-me a levar a mão à espada e defender-me dos "perigos" que me cercam. Imagens e sons de monstros horrendos, de demónios sanguinários e outras criaturas, que a minha mente fértil insiste criar em questões de segundos, fitam-me por entre a escuridão, esperando apenas o momento certo para me atacar. Subitamente uns olhos dourados emergem das sombras e avançam na minha direcção, com um movimento rápido desembainho a minha espada e preparo-me para os atacar, um grito de uma mulher ecoa então pelo ar e uma forte luz branca afugenta as trevas que nos cercam.
Estremeço ao ver o rosto de Lara diante de mim, a lâmina da minha espada parou a escassos milimetros do seu pescoço.
- É melhor guardares isso, Cav, ou ainda magoas alguém. - diz ela esboçando um sorriso mas não conseguindo esconder a profunda surpresa estampada no seu olhar.
- Eu... Desculpa-me... Eu não queria...
- Eu sei, não precisas de pedir desculpa.
Sorrio para ela e olho em volta, ao que parece não fui o único a sucumbir ao medo do escuro, Léon encontra-se a poucos metros de mim olhando igualmente em volta sem saber o que lhe aconteceu, e Diana jaz no chão cercada de uma luz branca muito intensa murmurando palavras incompreensíveis e limpando os olhos mergulhados em lágrimas.
- Humanos... - comenta a demónio abanando a cabeça e sorrindo desdenhosamente ao ver-nos assim.

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