terça-feira, outubro 10, 2006

Aquileia e Éwon (1ª Parte)

"Reza a lenda que do amor entre Aquiles e Briseida nasceu uma bela rapariga de nome Aquileia, a sua beleza e o seu espírito guerreiro tornaram-se numa lenda e todos na Grécia Antiga desejavam desposar esta jovem provocante e irreverente. Infelizmente a sua beleza que cativava tanto Homens como Deuses criou-lhe inimigas inesperadas e poderosas, Afrodite que se sentia repudiada pelo seu amante, Ares, e até pelo seu marido, Hefesto, resolveu lançar sobre a pobre jovem toda a sua fúria e ciúme. Assim, num dia de calor enquanto Aquileia nadava nas águas calmas de um rio perto da sua casa, Afrodite prepara-se para lançar sobre ela uma terrível maldição, mas Hera ao aperceber-se do triste destino que esperava a neta da sua querida amiga Tétis, a nereida, decide intervir e envia-a para Gaia.
Talvez Aquileia tenha sido a primeira humana a pisar o solo de Gaia, mas devido à sua ascendência divina, à sua beleza sem igual e aos seus poderes marinhos, a maioria das pessoas considerou-a uma semi-deusa ou até mesmo uma nova Deusa. Ninguém lhe ficava indiferente, era do estilo de pessoa que ou se adora sem limites ou se detesta com todas as forças do nosso ser.

Uns anos após ter chegado a Gaia, Aquileia abandonou quase por completo a terra firme, passava a maior parte dos dias dentro de água nadando livremente e conversando alegremente com as criaturas marinhas. Um dia estava ela sentada num extenso areal completamente nua e penteando os seus longos cabelos castanhos e enfeitando-os com fios de pérolas quando subitamente aparece num carreiro há muito abandonado um jovem rapaz. Aquileia envergonhada atira-se imediatamente para a água, mas talvez por mera curiosidade não conseguiu partir e ficou ali escondida, atrás de uma rocha observando em segredo o jovem.
O rapaz de nome Éwon era um simples marinheiro que desde criança fugia para aquela enseada secreta com o intuito de passar algum tempo a sós e fazer aquilo que mais gostava, cantar. Mas Aquileia ainda não se tinha apercebido da voz do rapaz, os seus olhos estavam presos no seu rosto doce e firme e no seu tronco nú bem esculpido. Pela primeira vez em toda a sua vida a jovem sentiu-se erubescer, o seu coração disparou e da sua boca saiu um tímido "uau".
Éwon era de facto um rapaz muito belo, a sua farta cabeleira loira cobria os seus olhos doces e perspicazes de uma forma quase indomável, a sua pele dourada pelo Sol brilhava de saúde e sensualidade e os seus músculos e peitorais firmes e bem delineados davam-lhe um ar quase divino. Sem saber que estava a ser observado, Éwon sentou-se na areia e começa a cantar, a sua voz melodiosa funciona como ingrediente final na paixão que começava a nascer dentro do peito de Aquileia, durante horas ela ali fica, observando-o e ouvindo as suas músicas, rindo e chorando conforme o teor da letra. O dia começa a entardecer e sem que ela se dê conta já as estrelas brilham no céu e a Lua dá o ar da sua graça, finalmente as melodias acabam e Éwon regressa acasa sem nunca ter percebido que estava a ser vigiado.
Nos dias seguintes, Aquileia regressa à enseada procurando e esperando pacientemente por aquele jovem, mas ele não aparece, durante 6 dias e 6 noites ela o espera, mas nem sinal dele, até que por fim, no sétimo dia ele aparece uma vez mais vindo do carreiro abandonado, senta-se precisamente no mesmo local e volta a cantar.

- Que belo rapaz! - diz ela suspirando envolvida naquela música tão acolhedora e quente sem se aperceber que falara em alta voz.
Éwon ouve-a e pára imediatamente de cantar, levanta-se num salto e olha em todas as direcções perguntando naquela voz doce e sensual:
- Quem está aí?
Aquileia acorda abruptamente daquele sonho mágico e apercebe-se do que fez, o seu coração dispara e pela primeira vez na sua vida não sabe o que fazer ou o que dizer.
- Quem está aí? - pergunta de novo Éwon. - Eu ouvi-te, é melhor mostrares-te!
Coberta de vergonha Aquileia emerge das águas nua e extremamente embaraçada.
- Fui eu quem falei, por favor perdoa-me, mas a tua voz é tão bela que eu não pude deixar de me levar por ela.
Éwon esperava tudo menos aquela rapariga tão bela que acabava de sair das águas, o seu coração dispara ao ver o seu olhar e as suas formas sensuais e naquele momento recebe a fatal seta do Cupido no seu coração. Pode parecer incrível, mas ambos se apaixonaram um pelo outro no preciso momento em que se viram e embora nunca se tenham visto parecia que se conheciam à séculos. Éwon balbucia algo sem sentido, sorrindo e coçando o seu cabelo, Aquileia fixa o seu olhar num pedaço de madeira que jaz na areia e mordisca o seu lábio inferior. Sem que ambos se apercebam, depressa se encontram bem pertos um do outro, tão perto que até sentem a respiração pesada um do outro, mas por vergonha ou medo as coisas terminam por aqui e ambos correm como dois miúdos de volta para o seu mundo..."

Deito-me sobre o meu saco cama e fito as estrelas.
- Ai, Cav, não páres agora, continua. - diz Lara beliscando-me o ombro.

"Embora tenham fugido a este primeiro encontro, a verdade é que a curiosidade e a atracção tomou conta deles e no dia seguinte lá estavam os dois de novo naquele areal maravilhoso. Desta vez nenhum deles fugiu, embora nervosos, ambos fecharam os olhos e trocaram o seu primeiro beijo, um beijo cheio de ternura e de descoberta, aquele que fica na nossa memória até ao resto dos nossos dias por nos sentirmos tão parvos na altura em que o demos. Esse seria o primeiro de muitos e o início de uma grande e bela história de amor."

- Amanhã conto-te o final da história da fundação de Briseida, mas agora estou muito cansado e quero é dormir. - digo beijando os lábios da demónio.
- Humanos, sempre cansados... Mas conta-me, essa enseada ainda existe?
- Sim, tomou o nome de Enseada dos Amantes.

1 comentário:

Cavaleiro disse...

Como é bom ler isso, dreams :)

Bj terno