segunda-feira, outubro 09, 2006

Rescaldo

Deixo-me ficar sentado numa pedra observando a demónio que mergulha despreocupadamente nas águas convidativas do lago. Contemplo os seus movimentos, as suas formas extremamente sedutoras e o seu sorriso de satisfação por saber que está a ser vista. Sinto uma vontade enorme de me juntar a ela, de beijar os seus lábios doces e de a possuir ali mesmo naquele lago, mas as memórias do que aconteceu ainda há pouco no vale voltam a assolar-me e esse desejo desaparece.
- Porque não te juntaste a mim, a água estava óptima. - diz Lara sorrindo minutos depois ao sair do lago.
- Precisamos de falar. - respondo.
- Diz. - a demónio senta-se nua ao meu lado e coloca o seu braço em volta do meu pescoço enquanto me mordisca a orelha.
- Como foste capaz de fazer aquilo? - pergunto indiferente aos seus avanços e carícias.
A demónio pára o que está a fazer e fita-me intensamente com os seus olhos dourados.
- Ela ousou tocar-me, ousou tentar transformar-me numa daquelas aberrações, ela mereceu totalmente aquilo que lhe fiz, mereceu cada grito que expeliu daquele corpo moribundo e decadente. No meu ponto de vista até acho que fui demasiado branda.
- Demasiado branda!? Demasiado branda!? Lara, os seus gritos ainda ecoam nos meus ouvidos, fiquei enojado com aquela cena. - respondo exaltado levantando-me num pulo. - Eu não quero que voltes a fazer uma coisa daquelas, ouviste, não quero!
- Não queres!? Não queres!? - grita a demónio irritada levantando-se também. - Mas quem és tu, humano, para me dizeres o que devo ou não fazer? Eu faço o que quero e o que me apetece e não serás tu que me vai dizer como agir.
- Vou sim, Lara, vou sim!
- Cav, eu já não sou a tua serva nem tu o meu senhor, sou livre, por isso vai dar ordens a outra!
- Lara, se queres torturar e fazer o que te apetece, então fá-lo, mas sozinha! Recuso-me a ser parceiro de alguém tão vil e baixo.
- Baixo!? Como te atreves, reles humano, eu sou uma demónio de pu...
- Eu sei bem o que tu és, Lara, já estás farta de mo dizer. - grito extremamente irritado em plenos pulmões. - Mas eu digo-te uma coisa, pouco me importa o teu sangue ou a tua classe, pouco me importam os teus feitos extraordinários e as tuas habilidades sem par, neste momento olho para ti e sinto nojo, percebes, nojo!
A demónio fita-me surpreendida sem saber o que dizer.
- Eu...
- Não digas nada! Queres fazer o que te apetece, não é? Pois então as nossas aventuras em conjunto terminam aqui, não quero pactuar contigo nestas coisas. - grito tirando a sua espada da bainha e atirando-a para o chão. - Agradeço esta tua oferta, mas já não vou precisar mais dela.
- Estás a ser precipitado e a criar uma tempestade num copo de água, pensa melhor, não é caso para nos separarmos.
- Lara, durante toda a minha vida combati criaturas como aquela em que te tornaste hoje de manhã e não será agora que irei ser companheiro de uma delas. - pego nas minhas coisas e coloco-as no dorso do meu cavalo.
- Espera, em nome da nossa velha amizade.
- É em nome da nossa velha amizade que eu estou a agir desta forma, senão as coisas seriam bem diferentes. - dito isto monto e preparo-me para partir.
- Não vás, eu mudo se for preciso, mas não vás...
Aquelas palavras caiem sobre mim como um balde de água gelada acalmando a minha ira e deixando-me confuso.
- Como?
A demónio não responde limitando-se a olhar para mim.
- Não te estou a perceber, explica-te!
- Eu não quero que vás, não quero que me vejas como um dos montros que combateste no passado, estou disposta a refrear os meus instintos mais animalescos, se for preciso.
- Continuo sem perceber, Lara, estás disposta a mudar por um reles humano?
- Estou disposta a mudar por ti e não por um reles humano.
Desmonto e sorrio para ela.
- Lara, Lara, estarás mesmo apaixonada?
A demónio olha-me de uma maneira tal que por pouco não me arrependo do que disse.
- Como te atreves! Eu não te amo apenas gosto de ti e nada mais, acho-te digno de partilhares a minha companhia e a minha cama, só isso!
- Sentirias a minha falta se porventura tivesse partido?
A demónio morde o lábio e desvia o seu olhar.
- Sim...
- Não digas mais, eu entendi. - digo sorrindo e aproximando-me dela.
- Como assim, percebeste?
- És um poço de contradições, sabias minha diabinha? Será por isso que te adoro tanto? - digo beijando os seus lábios e afagando os seus longos cabelos negros.
- Não sei, meu humano pervertido, mas algo me diz que não é só por isso. - diz ela sorrindo e tirando a minha camisa.

3 comentários:

Anónimo disse...

Lara amansou mesmo...isso e que chamo de " power of Love" adorei...Bjs meus

Cavaleiro disse...

Obrigado :)

Bj ternurento

Cavaleiro disse...

Será q a demónio está mm apaixonada? Isso iria contra tudo aquilo em que ela acredita, contra a sua própria personalidade...

Fazes-me corar ao dizeres isso.

Bj ternurento ;)