sábado, outubro 21, 2006

O Pacote (1ª Parte)

As horas passam e a nossa busca por uma estalagem que aceite demónios parece estar condenada ao fracasso, é incrível, mas numa cidade onde segundo a lenda todas as raças deveriam ser bem vindas só encontramos é racismo e uma profunda intolerância. Em quase todas as estalagens, bares, bordeis e alguns templos, encontramos afixados nas janelas ou nas portas avisos de interdição para uma determinada raça, infelizmente todos estes avisos, embora sejam diferentes em alguns aspectos, parecem concordar num ponto: "não atendemos demónios!".
- Estou a começar a ficar farta disto! - grita Lara batendo com a porta da estalagem Crescente Vermelho após ter quase esganado o dono depois de a sua entrada ter sido recusada.
- Estás tu e estou eu, mas que cidade tão intolerante.
- Percorremos todas as estalagens e hotéis, não há nenhum que me aceite! Como se atrevem eles a negar a entrada a demónios, afinal de contas, nem todas estas raças juntas chegam aos meus calcanhares.
- Eles lá têm as suas razões e de certa forma até os compreendo, os demónios no passado causaram muita destruição nesta zona e nem todos eles são de fiar.
- Pelos vistos não foi suficiente, devíamos ter arrasado esta cidade!
- Bom, vamos continuar à procura, mas o melhor é usares este manto e tapares as tuas feições.
- Estás a propor que eu me esconda? Que me cubra como uma fugitiva só para arranjar um quarto? Insultas-me, Cav!
- Olha, Lara, põe de parte esse teu orgulho estúpido que já irrita e faz o que te peço, assim não dás muito nas vistas e talvez consigamos o que queremos. Afinal de contas, tu que és uma Assassina, sabes bem que em certas alturas convém estar disfarçado.
A demónio resmunga qualquer coisa, mas lá acaba por aceitar o manto.
- Desculpem. - diz uma figura que aparece subitamente das sombras. - Eu sem querer ouvi a vossa conversa e creio que vos posso ajudar. Conheço um local onde poderão ficar, vai custar-vos um pouco mais caro que o normal e os quartos não serão grande coisa, mas terão comida e calor.
- E porque razão nos queres ajudar quando todos os outros nos fecham as portas? - pergunto desconfiado.
- Porque Briseida foi erigida para ser um porto de abrigo para todas as raças, e como podem ver tornou-se tudo menos isso.
Lara e eu olhamos um para o outro para decidir o que fazer.
- Aceitamos! - dizemos em conjunto.

O homem não se tinha enganado, o local para onde nos levou deixa muito a desejar, mas ao menos temos um quarto e comida à nossa disposição. Após um bom banho e um jantar delicioso decidimos descer até à sala comum, esta está impregnada de odores vários e de um ambiente simplesmente fantástico. Todos parecem divertir-se ao som de um bardo que conta uma história cómica, Lara e eu não nos fazemos esquisitos e sentamo-nos numa das mesas e juntamo-nos à diversão.
- Desculpem incomodar-vos. - diz uma voz momentos depois. - Mas vocês parecem ser aventureiros com alguma experiência, será que estariam interessados num trabalhinho?
Lara e eu viramo-nos para confrontar a voz, é um homem de meia idade, cabelo azul e olhos roxos, pelas suas roupas parece viver bem e pelo sinete que trás num dos dedos parece ser alguém de poder.
- Depende do teor do trabalho. - responde Lara bebendo um trago de cerveja caseira.
- É simples, preciso apenas que se dirijam à Rua das Amoras e entreguem este pequeno pacote no nº35.
- Se é assim tão simples porque é que não o entrega pessoalmente?
- Sou um homem de posses e detenho algum poder nesta cidade, como vocês já devem ter reparado, e há coisas que uma pessoa como eu deve evitar fazer pessoalmente para não criar conversas e boatos indesejáveis. - o homem tira de uma das mangas uma pequena bolsa. - Aqui estão 30 moedas de ouro, penso que é o suficiente para uma tarefa tão simples.
- Está bem! - diz Lara pegando na bolsinha e sentindo-lhe o peso. - E para quando é a entrega?
- Para esta noite. - diz o homem aliviado.

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