quinta-feira, setembro 07, 2006

O Prenúncio do Fim

O homem caminha calmamente para o centro da sala detendo-se logo a seguir junto do corpo inanimado de Lilian, pouco se pode ver do seu rosto à excepção de um brilho sinistro no seu olhar. Atrás dele, uma segunda figura aparece vinda do nada, uma bela mulher com uma rude cicatriz, ainda recente, no rosto. A sala permance no mais profundo silêncio, assistindo com um misto de interesse e medo a estas duas novas personagens. O Cavaleiro agacha-se descobrindo o seu rosto e fitando o anjo inconsciente com um ligeiro sorriso nos lábios, seus dedos desapertam os botões da camisa de linho da doce Lilian, expondo à vista de todos os seus seios e a pérfida cicatriz que ele próprio criou.
- Pára de lhe tocar! - grita Melissa que não mais podia conter o seu ódio por tal pessoa. - Tira essas tuas patas sujas de cima dela, seu nojento!
Os olhos dele fixam-se na direcção da voz, são frios e calculistas, desprovidos de qualquer sentimento.
- Ora, ora, se não é a sacerdotisa de Juno. - diz ele afectando um sorriso. - Descansa, minha cara, eu já vou tratar de ti, deixa-me apenas enviar esta mulher para o local de onde nunca deveria ter saído.
Dizendo isto, a espada que se mantinha imóvel a pairar no ar, estremece e move-se lentamente.
- Serás assim tão cobarde, Cav? Matar uma criatura inconsciente é desprezível, até mesmo para um demónio. - diz Lara.
- Os fins justificam os meios, minha querida. - diz ele forçando a espada a colocar-se numa posição capaz de desferir um golpe mortal.
- E vocês idiotas que estão a ver, vão deixá-lo matar o anjo? Não terão vocês a primazia de lhe tirar a vida? Irão deixar que este reles humano vos retire esse prazer? - continua a demónio incitando os seus irmãos de raça.
O silêncio é quebrado e mais uma vez um burburinho inquietante faz-se ouvir, os demónios fixam os seus olhares irados no Cavaleiro e na sua concubina.
- Ela tem razão! Afasta-te humano, a anja é nossa! - grita um deles.
Todos os outros emitem gritos de apoio e sacam das suas armas para mostrar que os seus intentos são sérios. O Cavaleiro olha para cada um deles e ergue-se sem mostrar receio, calmamente despe o seu manto e revela a sua armadura esverdeada que o cobre por inteiro.
- Se a querem - diz ele calmamente e com um ligeiro sorriso nos lábios. -, venham então buscá-la!
O salão enche-se de gritos de guerra e desta vez todos se lançam contra o seu inimigo. Melissa, Lara e Orfeu vendo-se livres dos seus carcereiros temporários apressam-se a puxar Lilian para si enquanto todos se concentram naquele humano insolente. Assim q o anjo é posto a salvo a demónio vira-se para observar o combate, o seu coração bate forte ao ver o seu antigo amante defrontando com uma calma inexplicável aquela turba louca e furiosa que se atira para cima dele como ondas num mar tempestuoso. Os seus punhos cerram-se involuntariamente ante o desejo de o ajudar, de lutar sem medo ao seu lado e sentir, nem que por um segundo, a sua respiração ofegante, o toque da sua pele e a sua voz decidida bramindo ordens e inquirindo indirectamente se estava bem. Mas tudo isso é agora apenas uma memória vã, uma lembrança longinqua que pode ser remetida até àquele infame dia no deserto.

Subitamente tudo termina tão rápido como começou, o vencedor ergue-se no meio daquela pilha de cadáveres que se amontoa no enorme salão da famosa estalagem. O Cavaleiro, coberto de sangue e de cinzas demoníacas, mantém a sua calma recolhendo as garras que lhe apareceram como por magia dos punhos, os seus olhos frios perscrutam primeiro pela sua concubina, achando-a num canto deleitando-se com o sangue de um demónio ainda vivo, a seguir procuram incessantemente por Lilian, encontrando-a no outro lado da sala protegida pelos seus companheiros. Ele sorri maldosamente e caminha na sua direcção preparado para acabar o serviço.
- Não te vou deixar matar a anjo! - grita Lara atirando-se a ele.
Um acto inútil, pois assim como afastamos com apenas um gesto uma mosca, assim fez ele com a demónio, atirando-a para cima das escadas e abrindo de novo a ferida no seu ombro. Melissa e Orfeu tentam igualmente detê-lo, mas com igual sorte. Lilian acha-se assim desprotegida e o nosso Cavaleiro, lambendo os lábios com uma satisfação tremenda, prepara-se para desferir o golpe final.
- Ainda não! - grita uma voz conhecida. - Primeiro terás de nos enfrentar!
Arrepiado, ele vira-se na direcção da voz.
- Tu! - diz ele num tom quase inumano. - Não pode ser, tu estás morta!
- Tu também deverias estar - diz Tela aproximando-se. -, talvez tenha sido por isso que eu tenha voltado a este Mundo, para acabar contigo de uma vez por todas!

2 comentários:

Cereja disse...

Creepy... mas muito bom...

Cavaleiro disse...

Obrigado :)

Bj terno
Cav