quarta-feira, setembro 06, 2006

Uma Ajuda Inesperada

O salão fica silencioso e todos os olhares convergem para aquela imponente figura alada que se mantém em cima da mesa empunhando vitoriosamente a sua espada. Lara não é excepção, mesmo ferida gravemente no ombro não deixa de soltar um grito de espanto ao ver, no seu ponto de vista, a completa burrice da sua companheira e outrora amante.
- Mas tu estás LOUCA!? - grita a demónio pondo-se em pé mantendo a todo o custo a pressão sobre a sua ferida.
- Não. - diz calmamente o anjo. - Ouvimos os teus gritos e pensámos que precisavas de ajuda, e não nos enganámos, mas, querida Lara, escusas de agradecer. - diz ela sorrindo.
Estas palavras ferem de morte o orgulho da demónio.
- Agradecer pelo quê? Pela morte te ter deixado apenas um neurónio nessa cabecinha? - diz Lara sarcasticamente e vermelha de raiva.
Lilian prepara-se para responder, mas Melissa intromete-se evitando assim uma discussão entre as duas.
Pela sala um burburinho inquietante faz-se ouvir, embora as tréguas entre demónios e anjos tenham sido assinadas, o ódio secular ainda perdura e muitos demónios não iriam perder a oportunidade de ceifar a vida a um destes guerreiros alados. Lilian, indiferente ao barulho de fundo, dirige-se para as escadas na esperança de poder finalmente entrar no seu quarto e dormir, mas tal tarefa revela-se impossível pois dois demónios colocam-se entre ela e a escada cortando a sua passagem, lá em cima, como que lendo os pensamentos do anjo, outros dois montam guarda no corredor lançando olhares de poucos amigos na sua direcção.
- Dão-me licença? - Pede calmamente o anjo aos demónios que se colocam intencionalmente no seu caminho.
- Não queremos anjos na nossa estalagem! - diz um deles.
- É melhor saíres, queridinha, porque se deres mais um passo, darás o último. - diz o outro.
Lilian estremece ao ouvi-los e um ligeiro rubor de irritação afloresce no seu rosto.
- Hey, Lila, será que é demasiado tarde para te dizer «Eu avisei-te»? - grita a demónio triunfantemente.
Lilian fita Lara com uma irritação crescente e volta-se de novo para os dois demónios.
- Deixem-me passar! - diz ela dando um passo em frente.
- Vais passar sim, mas para o outro Mundo. - diz um deles desembainhando a sua espada e lançando-se na sua direcção.
O salão enche-se de gritos e de assobios, como se de uma arena se tratasse, ninguém se move mas todos se ajeitam para assistir ao espectáculo. O demónio ataca freneticamente o seu oponente, seus olhos injectados de sangue reflectem o seu ódio por tal criatura. Lilian, pouco mais faz do que defender-se e aparar os golpes, cada vez mais rápidos e precisos, embora tenha regressado à sua forma anterior o seu conhecimento no manejo da espada ainda não está bem assente na sua mente nem nos seus músculos destreinados. Cercados, Melissa e Orfeu assistem desesperados ao combate desigual enquanto que Lara assiste com deleite os erros básicos de Lilian.

Finalmente, e sem surpresa, o anjo é desarmado e deitado ao chão.
- Agora, minha querida, é hora de implorares pela tua vida. - Diz sorrindo o demónio erguendo bem alto a sua lâmina.
- NUNCA! - Grita Lilian dando um pontapé nas partes baixas do demónio.
O sorriso de triunfo desaparece-lhe imediatamente do rosto e é substituído por uma expressão mista de dor e confusão. Aproveitando estes segundos, Lilian apanha a sua espada e crava a lâmina no coração do demónio. Um som de choque e surpresa ecoa pela sala enquanto o este se desfaz em chamas. O segundo demónio vendo o triste destino do seu companheiro atira-se a Lilian esmurrando-a no rosto e deixando-a inconsciente com o seu impacto levando a sala a uivar de alegria. Gritando palavras incompreensíveis e cuspindo para cima do anjo, o demónio apanha a espada do seu amigo e prepara-se para desferir um golpe mortal.
A lâmina cai tomando a direcção do pescoço de Lilian, mas subitamente pára a escassos centímetros do alvo. O demónio sem perceber o que se passa, tenta com toda a sua força movê-la e desferir o seu golpe, mas a espada, presa por uma força invisível, recusa-se a mover.
Uma vez mais um burburinho ecoa pelo salão, todos olham para a lâmina que se encontra de pé em pleno ar, presa muito certamente por uma magia poderosa.
- O... O que se passa? - pergunta o demónio assustado olhando à sua volta.
- Magia! - grita alguém.
- E poderosa. - grita outro.
- A culpa deve ser dos amigos do anjo! - afirma ainda outro.
Todos os olhares se viram na direcção de Melissa, Orfeu e Lara.
Subitamente, uma voz forte faz-se ouvir vinda da porta, os olhares são desviados na sua direcção e detêm-se numa figura coberta por um manto negro.
- A culpa, meus caros, é minha! Esse "anjo" será morto por mim e por mais ninguém, e se algum de vocês tiver um problema com isso, então que avance!
- Quem és, estranho? - Pergunta o demónio que ainda há pouco lutava com Lilian.
- Tenho muitos nomes, mas podes tratar-me por Cavaleiro!

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