domingo, setembro 10, 2006

Revelações

Acordo num pequeno quarto parcamente mobilado, em cima de uma mesa está o velho pergaminho, ainda por abrir, que Tela pediu a Ela para me entregar. Sorrio pensando na alegria que tive ao ver a elfo uma vez mais, parecia um sonho encontrar de novo aqueles olhos verdes tão expressivos e inteligentes, sentir outra vez o perfume doce da sua pele e ouvir aquela inesquecível voz que só de me lembrar causa um nó no meu coração. Por estar fraco e debilitado, não percebi muito bem como é que ela regressou, ou o que teve Tela haver com tudo isto, apenas outra imagem assombra o meu espírito, os olhos de Lara, tristes e distantes.
Afasto o seu rosto da minha mente e levanto-me da cama, lá fora a tempestade continua a mostrar a sua força, e pelo que me parece, não se vai dissipar tão cedo. O som dos trovões e o flash dos relâmpagos são tão fortes e intensos que uma pessoa parece que vai ficar surda e cega ao mesmo tempo, a chuva, essa, cai sem piedade, com uma força e violência tal que os telhados mais fracos e os tecidos mais frágeis se desfazem ante a sua fúria. Abro a torneira da banheira e indiferente a este lamento da Natureza preparo um banho quente e relaxante. Antes de o saborear olho-me ao espelho, para satisfazer muito certamente aquele lado narcisista que existe em todos nós, o que vejo deixa-me espantado: no meu peito encontra-se uma tatuagem negra com a forma de um dragão e logo por baixo dela a cicatriz recente de uma ferida de flecha. Mal posso acreditar, mas verdade seja dita, não me lembro de nada, lembro-me apenas de ver Lilian a cair inconsciente sobre a areia escaldante do deserto e depois a ser ajudado pela minha amada Eleanora sob o atento olhar de Lara. Instigado pela curiosidade fecho a torneira e marcho para o quarto na esperança que aquele pergaminho me dê as respostas.
O pergaminho é velho, o seu papel está amarelado e em algumas partes parece ter sido queimado, o seu selo é bem peculiar, impresso na cera vermelha está um brasão de armas em forma de dragão segurando com a boca a letra T e com a cauda a letra L. Assim que lhe toco com o propósito de o quebrar uma faísca vermelha é libertada e como por magia o pergaminho abre-se sozinho e umas letras igualmente vermelhas aparecem vindas do nada. Eis o seu conteúdo:

Bravo guerreiro,

Se estás a ler esta carta é porque o meu tempo de vida no teu mundo esgotou-se e a minha triste missão chegou finalmente ao fim. Quero primeiro que tudo pedir-te perdão pelo que te fiz e pela mágoa e dor que te causei, mas quero também que saibas, que se fiz o que fiz foi em nome de um Bem maior.
Chamo-me Tela Leon e pertenço a uma raça muito antiga e poderosa cujo nome perdeu-se nas areias do tempo. Sou aquilo a que podes chamar de Vigilante, a minha missão é vigiar e eliminar possíveis ameaças ao bem estar dos habitantes de Gaia, tanto mortais como imortais.
Infelizmente para ti os nossos caminhos cruzaram-se, e não, não foi em Kin que nos encontrámos pela primeira vez, embora essa tenha sido a primeira vez que me viste sob a forma humana. Tenho acompanhado os teus passos desde o teu nascimento, desde o momento em que abriste os olhos e contemplaste com profunda curiosidade o novo mundo que agora se deparava diante de ti.
Imagino-te a perguntar o porquê de seres alvo da minha atenção, a resposta, meu caro, é simples, não era a ti que eu observava mas sim uma outra entidade que se escondeu dentro do teu corpo para fugir ao julgamento que o esperava. O seu nome era Geon, o meu grande amor, e foi precisamente graças à minha fraqueza que o deixei escapar e esconder-se dentro de uma criatura inferior, tu! Ai, como fui tola, como pensei que dando-lhe esta oportunidade ele redimir-se-ia de todos os males que fez, mas tudo o que fiz foi torná-lo mais forte e o seu espírito mais perverso e maléfico.
Fui julgada pelo que fiz e como castigo fui forçada a caçar e destruir aquele que eu amava mais que a própria vida. A única maneira de o eliminar e cumprir a minha missão era enfraquecer o teu espírito de forma a que Geon tomasse o controlo. Uma tarefa dura, pois provaste quase sempre ser senhor de uma vontade inabalável e de uma força espiritual bastante forte. Finalmente consegui-o a 2 de Júlio de 2004DR, mas precisei da ajuda da tua amada Eleanora que na noite anterior concordou em auxiliar-me.


Leio e releio vezes sem conta esta última parte, mal posso acreditar, a Ela nunca faria uma coisa destas, simplesmente não o faria. Inspiro profundamente e continuo a ler o que resta da mensagem.

A sua "morte" possibilitou a libertação de Geon, mas não da maneira que eu esperava, o seu controlo era apenas parcial, no fundo eras tu que continuavas a controlar grande parte das acções, mesmo as mais desagradáveis, o teu objectivo era descer aos Infernos e libertar a tua amada, como tantos anos antes fizera Orfeu. Ela estava sob a minha influência e apesar de todos os meus esforços Geon não se libertou e tu recuperaste o total controlo das tuas capacidades, embora o meu amor começasse a ganhar forças.
Decidi apresentar-me e oferecer-me a ti na pequena cidade de Kin, precisava de descobrir o estado de Geon, se estava ou não preparado para se libertar, vi que sim e uma vez mais usei uma outra amiga tua, a Meg, para desferir um novo golpe no teu espírito. O teu controlo ia caindo dia após dia, Geon ganhava força e a minha missão iria estar finalmente completa. Guiei-te até à pequena cabana de Lilian, um anjo orgulhoso que perdera as suas asas de uma maneira traumatizante, outra coisa de que não me orgulho de ter feito... Deixei que ambos se apaixonassem um pelo outro e na altura certa, usei-a como instrumento para libertar o meu amado.
Finalmente obtive sucesso e Geon libertou-se apoderando-se completamente do teu corpo.

Preparo-me agora para o combate final, pressinto que vai ser uma luta difícil pois cometi um erro ao esconder Geon dentro de ti, o teu sangue é antigo e poderoso e este meu descuido pode custar-me a vida e selar o destino de Gaia. Mais não digo a teu respeito, em boa hora o saberás...

Pela última vez te peço perdão.

Cordialmente,
Tela Leon


O som dos trovões havia parado e a chuva e vento pareciam agora mais calmos, infelizmente dentro de mim um turbilhão de sentimentos assolava-me causando mais estragos do que a violenta tempestade que ainda há poucas horas se abatia sobre a cidade. Levanto-me e rasgo aquele infame pergaminho, recuso-me a acreditar nele, especialmente na parte em que se refere à morte da Ela. Visto um robe e saio pela porta procurando pelo quarto da elfo em busca de explicações.

2 comentários:

Anónimo disse...

ja sentia saudades...bjs doces. Tuchamz

Cavaleiro disse...

Tb eu ;)

Bj bem terno!!!