segunda-feira, setembro 25, 2006

Unyard (2ª Parte)

No dia seguinte Ursula guia-nos até ao templo, tanto eu como Lara ficamos um pouco admirados por este se encontrar em tão más condições, geralmente um templo é um dos edifícios mais importantes de uma cidade, vila, ou aldeia, é um local de culto e uma moradia temporária do Deus, ou Deuses, da região. Os seus jardins estão em péssimas condições, repletos de ervas daninhas e de árvores mortas; as colunas jónicas, outrora brancas, encontram-se partidas e negras; as telhas alaranjadas estão quebradas e cobertas de musgo e as colossais portas desta casa de culto estão seladas, intocáveis, e em seu redor podem ler-se uns caracteres estranhos, alguns consumidos pelo tempo, tornando impossível a leitura correcta da mensagem.
- Mandámos selar as portas logo depois do incidente. - começa Ursula como se tivesse lido o nosso pensamento. - Com medo deste espírito inquieto acabámos por evitar este local tão adorado para nós.
- Hm, o que diziam estas inscrições? - pergunta Lara passando os dedos sobre os caracteres firmemente marcados na parede.
- Eu não sei, este templo já aqui se encontrava quando o meu tetra-avô mandou construir a villa. - Ursula olha para mim tentando evitar o olhar de Lara. - Aqui está a chave que irá abrir as portas, segundo a lenda, a força do feiticeiro provinha de uma gema branca, se a destruirem, ou se ma entregarem, tenho a certeza que nos iremos livrar desta maldição. - Ursula sorri sedutoramente para mim e entrega-me a chave. - Serão bem recompensados se conseguirem salvar-nos.

As portas fecham-se atrás de nós, o estado interior do templo está bem pior do que o exterior, estátuas dedicadas a Deuses estão espalhadas pelo chão irremediavelmente quebradas e desfiguradas, nas paredes pouco se reconhece dos ricos frescos que as enfeitavam e por todo o lado estão depositadas camadas e camadas de pó.
- Viste a reacção dela quando lhe perguntei sobre a inscrição? - pergunta Lara virando-se para mim minutos depois de entrarmos. - Ela sabia muito bem o que estava ali escrito.
- Sim, eu reparei, e reparei também que este lugar está abandonado há muito mais do que um ano. Tinhas razão, Lara, há algo que não bate certo nisto tudo.
- Finalmente, Cav, começaste a pensar com o teu cérebro.
- Mais vale tarde que nunca, como se costuma dizer. - digo sorrindo. - Bom, o melhor é continuarmos, mas com cuidado.
Vamos penetrando cada vez mais no interior do templo, não encontramos nada de interesse, a maioria das coisas estão partidas ou simplesmente desfeitas pelo tempo. Passado uma hora sem encontrar nada de relevante, chegamos a uma abertura na rocha, à volta dela encontram-se novamente os caracteres que rodeavam a entrada deste edifício, mas infelizmente também estes se encontram ilegíveis. Após investigar por armadilhas ocultas, Lara dá-me o sinal de que podemos avançar, o que encontramos, deixa-nos sem palavras: uma sala forrada a ouro, repleta dos tesouros mais incríveis que podemos imaginar, no centro, encontra-se um enorme sarcófago de ouro, muito provavelmente a última residência do tal feiticeiro.
- Olha para isto! - diz Lara mergulhando as mãos nos caixotes recheados de moedas e jóias. - Estamos ricos!
- Não estamos aqui para roubar, Lara, estamos aqui para resgatar a tal gema.
- Fala por ti, Cav, eu vou levar tudo o que me apetecer. - diz Lara admirando uns brincos de ouro e prata com esmeraldas incrustadas e uma bela gargantilha com um enorme diamante negro pendurado. - Que tal, achas que me ficam bem?
- Lara, pára com isso e ajuda-me aqui a abrir o sarcófago.
A demónio coloca os seus novos pertences na sua bolsa e juntos empurramos a pesada tampa. Lá dentro está um esqueleto segurando uma gema branca.
- Eureka, encontrámo-la. - digo tirando a gema das garras do esqueleto.
Assim que o faço um vulto negro aparece à nossa frente, os seus olhos estão tristes e os seus lábios movem-se, mas nenhum som se propaga.
- O que é que se passa? - pergunta Lara batendo-me no ombro.
- Não estás a vê-lo?
- A ver o quê? Estou é a ver-te a ti com uma cara de parvo a olhar para o vazio.
- Ali! Não o estás a ver? Está mesmo à nossa frente.
- Cav, estás a começar a preocupar-me, explica-te!
Esfrego os meus olhos e volto a olhar para o local onde se encontra o vulto, mas ele já lá não está, terá sido impressão minha? Talvez fruto da minha imaginação devido àquelas histórias do espírito do velho feiticeiro.
- N-não é nada, Lara, vamos embora!

Ursula e todos os outros habitantes da pequena povoação esperam por nós cá fora, ao verem a gema nas minhas mãos soltam gritos e uivos de alegria.
- Vocês são uns heróis, salvaram-nos. - diz Ursula não tirando os olhos da gema. - Agora por favor dêem-ma, para que a possa destruir e libertar finalmente o vale da maldição.
Lara olha para mim e de certa forma compreendo-a, mas sorrio para ela tentando tranquiliza-la.
- Aqui tem! - digo entregando-lhe a gema.
No preciso momento em que o faço o céu escurece e aquela mão pálida e bela transforma-se rapidamente numa garra esquelética com pedaços de carne agarrada.
- Finalmente! - grita Ursula. - Finalmente estamos livres! - e com uma palavra a gema desfaz-se. À nossa frente já não se encontra uma bela mulher, mas sim um morto vivo cujo olhar esverdeado se deleita com a nossa presença. - Agora vamos tratar de negócios, prometi-vos uma recompensa e tê-la-ão, o que pensam da vida eterna? - Uma gargalhada gélida é expelida do seu corpo sem vida e imitada por todos os outros habitantes, também estes mortos-vivos.
- Vês, Cav, vês? Eu bem te dizia que havia algo de errado aqui! - grita a demónio sacando a espada.

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