quinta-feira, setembro 14, 2006

O Grupo Separa-se

Os primeiros raios de Sol penetram no quarto despertando-me do meu sono inquieto, os lençóis amarrotados e a almofada completamente empapada reflectem o meu estado de espírito durante aquela que considero a pior noite da minha vida. Felizmente a vida também tem coisas boas e não há nada como um bom banho quente para relaxar e colocar as ideias em ordem, deixo-me por isso ficar uma boa meia hora deitado na banheira inalando o vapor de água misturado com o cheirinho de sais de frutos. O meu coração ainda bate depressa quando penso na Ela, por minha vontade deixava tudo e entrava de rompante pelo seu quarto adentro colando os meus lábios aos dela e gritando bem alto o quanto a amava e que lhe perdoaria tudo, mas não posso, não consigo, algo dentro de mim impede-me de o fazer, o meu orgulho quiçá... Deixo-me afundar soltando poderosos suspiros dentro de água.
Momentos depois desço para o salão, a falta da Elektra faz-me sentir nú e incompleto, durante estes anos habituei-me a tê-la sempre ao meu lado e agora, sem ela, é como se tivesse perdido um braço ou outra parte de mim. Encontro Melissa e Orfeu sentados numa mesa ao pé de uma janela, é incrível, ainda ontem isto parecia um campo de batalha com mesas viradas e corpos por todo o lado, e agora é como se o que aconteceu ontem nunca tivesse acontecido, as pesadas mesas de madeira estão bem pregadas ao chão e muito bem tratadas, os candelabros e candeeiros encontram-se bem firmes nos tectos e nas paredes, as janelas e as portas permanecem intactas e o piso de madeira lustroso e reluzente. Sento-me ao lado deles com um sorriso, eles retribuem-no, mas apenas por delicadeza e não por gosto.
- Será que me podiam pôr a par de tudo o que aconteceu desde que defrontámos Gorath no deserto? - Pergunto calmamente enquanto devoro as torradas com manteiga e bebo o leite morno.
Eles olham um para o outro incrédulos.
- Não te lembras? - perguntam em conjunto.
- Não...
- De nada? - pergunta Melissa desconfiada.
- Já te disse que não, e aliás, tu és uma sacerdotisa, devias saber que as vitimas de possessão raramente se lembram de alguma coisa. - atiro-lhe um bocadinho irritado com a desconfiança.
Respirando fundo, Orfeu inicia o seu relato.
- ... E foi basicamente isto que aconteceu.
- Sim, muito resumidamente. - Diz Melissa sorrindo.
- Hm, então a Lilian foi-se embora, a minha espada está partida e esta tatuagem é na realidade uma armadura? Bonito, bonito... E a Lara, onde está?
- A Lara foi-se embora. - Diz Melissa bebendo o seu sumo.
- Como assim, foi-se embora?
- Ela não se despediu de ti? - Pergunta Orfeu.
- Não, não me disse nada.
- Esquisito...
- Ela disse para onde ia?
- Não, simplesmente disse que ia embora e hoje de manhã o seu quarto já estava vago.
Acabo de beber o meu leite quando a Ela se senta mesmo à minha frente, os seus olhos estavam vermelhos, provavelmente de ter estado a chorar durante a noite, tal como eu. O seu cumprimento é quente e um sorriso tímido forma-se nos seus lábios, no seu dedo anelar encontro as alianças que lhe atirei, ao vê-las o meu coração dispara e coro involuntariamente.
- Dormiste bem? - Pergunta ela lendo a resposta nos meus olhos.
- Na medida do possível... E tu?
- Também... Ouve, será que podemos falar um pouco melhor sobre a conversa de ontem?
- Não há mais nada para falar, está tudo dito.
- Está bem. - diz ela visivelmente entristecida.
Um silêncio profundo instala-se na nossa mesa, por fim, Melissa diz qualquer coisa.
- Cav, eu e o Orfeu decidimos partir, vamos para Luthein, existe lá um templo e quem sabe talvez precisem dos serviços de uma sacerdotisa e das histórias de um bardo.
Tendo em conta o estado das coisas, esta declaração não me surpreendeu.
- Eu compreendo, espero sinceramente que consigam arranjar alguma coisa por lá. Quando partem?
- Daqui a uma hora. Bom, agora vamos preparar as nossas coisas, até já!
E sem dizerem mais nada levantam-se e seguem para o quarto.
- Bom, parece que ficámos só nós os dois, como antigamente. - diz Eleanora piscando-me o olho.
- Eu também tomei uma decisão, Ela, vou partir, procurar aventuras por esse mundo fora.
- Eu posso ir contigo, éramos e podemos voltar a ser uma dupla. Ainda te lembras das nossas aventuras?
- Como me poderia esquecer, está tudo gravado na minha mente, tintim por tintim, mas tudo isso passou, tu morreste e eu tive de continuar sem ti.
- Mas estou aqui agora, à tua frente, eu amo-te Cav e eu consigo ler nos teus olhos que tu também me amas, nós...
- Por favor, Ela! Não dificultes ainda mais as coisas. Eu, ainda sinto algo por ti, mas isso vai mudar, tem de mudar. Tudo o que quero agora é recomeçar do zero, viver cada momento como se fosse a primeira vez e depois, só muito depois, se tu ainda ocupares o meu coração então eu procurar-te-ei e retomaremos de onde acabámos, até lá, deixa-me sozinho e em paz.
Levanto-me e dirijo-me para as escadas.
- Só mais uma coisa, vou acompanhá-los até saírmos do Mundo Inferior, se quiseres vir connosco não colocarei objecções, mas depois cada um seguirá o seu caminho.

3 comentários:

Anónimo disse...

Viajo por este mundo místico que tão bem sabes criar, meu Cavaleiro :-)

Beijo doce

Felina disse...

Sem dúvida tens a arte, o dom das palavras, Cavaleiro!!!

é um prazer ler-te, tenho que regressar com mais tempo para beber as tuas palavras!!!

Beijinho doce!!!

Cavaleiro disse...

É tão bom entrar e ver q tenho comentários, n são tantos como os dos vossos blogs, mas como se diz, são poucos mas bons. ;)

Bjs ternurentos
Cav