quinta-feira, setembro 14, 2006

Ilusões Desfeitas

A Eleanora abriu-me a porta com um grande sorriso nos lábios, seus olhos verdes miravam-me de alto a baixo brilhando com puro deleite. Ela está ainda mais magnífica do que aquilo que me lembrava, os seus cabelos cor de fogo estão apanhados com um gancho de madrepérola em forma de cisne, seus lábios bem delineados conservam ainda um pouco daquele batôn tão gostoso que tantas vezes saboreei nos nossos demorados e molhados beijos, a sua pele macia e sedosa ainda exala o seu perfume característico, o odor de orquídeas selvagens e aquela voz, aquela voz tão deliciosa que nos encanta e nos prende logo na primeira sílaba, faz-me simplesmente estremecer. O meu coração parece que vai explodir, parece que me vai saltar pela boca e por uns momentos esqueço-me do pergaminho e do que lhe venho perguntar, apenas anseio, não, desejo, beijá-la e possuí-la ali mesmo, ao pé da porta, e retomar as loucuras que fizemos num passado agora tão distante.
A elfo ajeita o seu fino robe de seda vermelha e convida-me para entrar, dois pauzinhos de incenso queimam lentamente ao pé da cama impregnando o ar com o seu odor curioso. Eleanora senta-se calmamente sobre a cama e pede para que me sente num pequeno sofá de verga, suspiro pesadamente e olho em volta admirando o seu quarto, dou por mim, por diversas vezes, a olhar por entre as abertas do seu robe, contemplando o seu corpo nú e as suas formas quase divinas, ela sorri ao apanhar-me num desses olhares mas nada faz para se cobrir um pouco melhor. Coro e decido finalmente inciar a conversa.
- Ela, eu estive a ler a carta que a Tela te pediu para me entregares e...
- ... e queres saber aquilo que ela escreveu é verdade, queres saber se a minha morte foi apenas uma encenação. - Finaliza ela.
- Sim, é isso mesmo. Caramba, mesmo depois deste tempo todo ainda consegues prever as minhas acções. - Digo sorrindo enquanto me coloco mais confortável.
Ela sorri e de seguida olha para mim com uma expressão muito séria.
- Nunca te menti, e agora não iria ser a primeira vez, por isso, é tudo verdade, eu ajudei-a e a minha morte foi apenas uma encenação.
Fico estarrecido ao ouvir aquilo, é como se um balde de água gelada tivesse acabado de ser despejado em cima de mim.
- Eu... eu não posso crer...
- Por favor, tenta entender a minha posição. - diz ela afagando a minha mão. - Eu sempre pensei que tudo iria acabar bem, que dentro de uns dias o tal Geon estaria morto e eu regressaria de novo ao mundo dos vivos. Eu apenas fiz aquilo que julguei melhor para ti.
- Durante todo este tempo... - murmuro olhando o vazio - durante todo este tempo sempre me culpei pela tua morte e afinal de contas tudo isto não passou de uma ilusão!?
- Por favor, tenta compreender, tu tinhas um espírito maléfico dentro de ti, eu própria conseguia senti-lo.
- Eu abandonei tudo por tua causa, abandonei os meus homens, a minha carreira no Senado, o meu estilo de vida...
- Cav, por favor, olha para mim e tenta entender-me, diz-me que me perdoas, que podemos começar tudo de novo.
- Perdoar-te? Perdoar-te por durante dois anos ter praticamente morrido para o mundo? Por praticamente durante dois anos ter ficado com um enorme buraco no peito? Por descobrir que afinal de contas a mulher que eu mais amava nesta vida me traiu desta forma, que me causou tanta dor e desgosto? Diz-me, Ela, haverá perdão possível?
A elfo deixa-se cair de joelhos fitando-me com os olhos marejados de lágrimas.
- Não, não há perdão possível. O que te fiz não se faz, mas por favor, tenta entender, foi para te ajudar, foi por amor.
- Por amor!? - Levanto-me irado - Por AMOR!? Pelos Deuses, Ela, como eu sofri ao ter que te enterrar, como eu sofri ao entrar na nossa casa, no nosso quarto e sentir o teu cheiro em cada divisão, em cada peça de roupa. Como podes ousar dizer que o que fizeste foi por amor, COMO?
Ela fita-me em silêncio sem saber o que responder.
- Tudo na minha vida foi uma ilusão, até tu, aquela que eu considerava uma âncora, um porto de abrigo, não passaste de uma ilusão!
- Não, não...
- Pois bem, tudo termina hoje! Se foi para me torturar desta forma que regressaste mais valia teres continuado morta, "meu amor"! - Dirijo-me para a porta em passadas grandes e furiosas.
- Espera, por favor... - a sua voz é tão frágil que mal se pode ouvir.
- Está tudo acabado, Eleanora, tudo! Toma, já não quero mais estas porcarias, já não significam nada. - Com os olhos cravejados de lágrimas atiro-lhe as duas alianças que mantive sempre com tanto carinho no meu dedo anelar.
Fecho a porta com um estrondo e corro para o meu quarto sem saber o que fazer. Diz o ditado que a noite é boa conselheira, pois bem, esperarei pelo seu conselho, mas tudo o que mais anseio agora é chorar, chorar por ter sido um enorme idiota e ter sofrido tanto por alguém que não merecia.

2 comentários:

Anónimo disse...

Acho k o amor é feitos de varias verdades distintas, cada pessoa tem a sua verdade aquela em que keremos acreditar... aquela em que a pessoa que amamos é perfeita...
So pra dizer k gosto do k escreves, como prometido... beijocas

Cavaleiro disse...

Qd amamos colocamos o objecto do nosso amor num pedestal tão alto que nada de mal lhe atinge, ficamos cegos e consideramos essa pessoa perfeita. Infelizmente esse pedestal por vezes parte-se e essa pessoa cai de tão alto que estilhaça por completo todas as nossas ilusões e nos deixa sem ar, ficamos sem saber o q está certo e errado e por momentos perdemos o rumo da nossa vida.
Sim, o amor é lindo qd correspondido, qd deixa de o ser é um sofrimento e uma tortura total.

Bjs bem ternos para as duas e mt obrigado por me lerem ;)