quinta-feira, setembro 21, 2006

Uma Noite de Lua Cheia

O suave crepitar de uma fogueira e o saboroso aroma de um guisado acabadinho de fazer espalham-se pelo ar fresco da noite. Uma figura solitária mantém-se sentada perto do lume envergando um prático manto de viagem e segurando um prato de guisado quentinho, o seu olhar perde-se no céu estrelado e na enorme Lua cheia como se tivesse sido privado de uma tal visão durante um longo período de tempo.
- É linda, não é? - pergunta uma voz.
A figura vira-se imediatamente deixando cair o prato, instintivamente leva a mão direita à cintura como se procurasse o punho de uma espada, mas essa já lá não se encontra, foi, contra todas as expectativas, quebrada por uma magia muito forte.
- Quem está aí?
Uns olhos dourados emergem subitamente das sombras fitando com um prazer indescritível a figura que agora se coloca de pé.
- Ora, ora, mas será que já não reconheces a minha voz, Cav? - Uma mulher muito bela materializa-se à minha frente, os seus olhos cor de âmbar continuam presos nos meus, os seus lábios negros muito bem delineados exibem um sorriso sedutor mostrando os seus caninos afiados e uma língua marota, dos seus longos e lisos cabelos pretos emergem dois cornos retorcidos e a sua pele prateada parece reagir com a luz do luar dando-lhe um ar sobrenatural. Veste uma armadura de couro preto reforçado com metais, na cintura estão presas duas espadas curtas e nas botas acham-se escondidos dois punhais.
- Lara?
Ela avança para mim e lança-se nos meus braços dando-me um beijo na boca.
- Sentiste saudades minhas, humano? - pergunta ela lançando um olhar esfaimado para o guisado.
- O que estás aqui a fazer? Pensei que te tivesses ido embora para nunca mais voltar.
- E era isso que eu queria fazer, mas depois encontrei a Melissa e o Orfeu e eles disseram-me que agora estavas sozinho, por isso decidi juntar-me a ti. - diz ela piscando-me o olho e servindo-se de um pouco de comida.
- Mas como é que me encontraste, já não estamos ligados um ao outro.
- Que pergunta parva, Cav, sou uma assassina, sei muito bem como encontrar os meus alvos. E devo dizer que vocês humanos sempre foram fáceis de encontrar, basta seguir o vosso cheiro fedorento.
Sorrio para ela, não mudou nada, continua tão "adorável" como sempre.
- Se "cheiro" assim tão mal, então porque é que gostas da minha companhia? - sento-me ao seu lado servindo-me também de um pouco mais de guisado.
Ela limita-se a sorrir, mas não responde.
- Olha lá, - pergunta ela momentos depois. - o que é que aconteceu entre ti e a Ela? Pensei que por esta altura estivessem bem instalados num quarto a matar saudades.
- É uma longa história, depois eu conto-te. - bebo um pouco de água e depois olho para ela. - Porque é que o fizeste?
- Fazer o quê? - pergunta a demónio fitando-me intensamente como se soubesse perfeitamente do que eu estava a falar.
- Tu sabes, não te faças de parva, porque é que tu me salvaste? Não é teu costume teres estes rompantes de altruísmo.
- Eu era a tua serva e tu o meu senhor, fiz apenas a minha obrigação.
A demónio cala-se e percebo pelo seu olhar que não vale a pena insistir.
- Ainda bem que aqui estás, tive saudades tuas.
- Claro que tiveste, humano, serias louco se não sentisses a minha falta.
- Quanta modéstia, quanta modéstia...
- Já sabes o que vais fazer? - pergunta ela colocando o prato de lado e deitando-se na erva observando-me.
- Vou para Briseida, talvez lá arrange algum trabalho.
- Óptimo, vamos tornar-nos uma dupla temível. - diz ela sorrindo. - Ainda agora percebi que ainda não te habituaste à ausência da Elektra, levaste a mão à espada mas ela não estava lá.
- É verdade, sinto-me nú sem ela, mas quando chegarmos à cidade irei comprar uma nova.
- Até lá, podes ficar com uma das minhas. - diz ela pondo-se em pé e tirando uma das suas espadas curtas da cintura.
- Lara, eu não posso aceitar, elas são tuas e sei como as estimas.
- Cav, aceita, eu sei que contigo estará em boas mãos.
- Ai, Lara, salvas-me da morte, corres para te juntar a mim e agora ofereces-me aquilo que mais prezas nesta vida, se não te conhecesse tão bem até diria que estavas apaixonada por mim. - digo piscando-lhe o olho.
- Ah! deliras, só podes. Deves estar com sono, por isso toca a dormir que amanhã partimos cedo.
A demónio volta a deitar-se e prepara-se para dormir, eu imito-a.
- Lara, ainda bem que voltaste. - olho para ela ao dizer estas palavras e apesar de tudo iria jurar que um ligeiro sorriso se desenha nos seus lábios.

5 comentários:

Anónimo disse...

devorei os teus ultimos posts e agora sinto-me maravilhosamente bem. Vou-me embora serena. Porque sera?Voltei a acreditar em Knights tale?Bjs. Tuchamz

Cavaleiro disse...

Os meus textos, pelos vistos, são tal e qual uma boa e relaxante massagem. ;)
Como assim, voltaste a acreditar, acaso perdeste a fé em mim? :P

Bj ternurento
Cav

Anónimo disse...

Perder a fe em ti? Nunca!!! Querido cavaleiro talvez me tenha cruzado com tantos demonios que apenas tenha duvidas se existes ou nao. Bjs.Tuchamz

Joker disse...

Por momentos fiquei lá...adormecendo junto á demónio e ao Cav...Gosto muito da tua forma de escrever...é muito natural e envolvente!

Um beijinho para ti!

Cavaleiro disse...

Acredita, cara Tucha, se existem demónios tb existem cavaleiros para os combater. Se sou um deles, isso n sei, deixarei a resposta nas tuas mãos. ;)

Obrigado feiticeira, é bom saber q gostam do q escrevo.

Bjs bem ternurentos para as duas.

P.S.: Tucha, será q tens um blog? ;)