sexta-feira, novembro 24, 2006

A Câmara do Conhecimento (1ª Parte)

O saboroso aroma de bolinhos e café acabadinhos de fazer invade o quarto despertando-me do meu sono leve e revigorante; uma voz doce e melodiosa propaga-se pelo ar entoando uma canção élfica muito antiga e bela anunciando a aurora que está prestes a nascer. Lara ainda dorme profundamente, o seu sorriso de satisfação reflecte o prazer de uma noite exaustiva em que a loucura e o desejo se fundiram num só sentimento e nos levaram, quase literalmente, ao paraíso. Beijo-lhe a testa e levanto-me seguindo o delicioso aroma e o som encantador.
- Não mudaste nada, Diana, ainda continuas com o velho hábito de te levantares cedinho e fazeres o pequeno almoço. - digo sorrindo observando a feiticeira que segura uma travessa de bolinhos de côco ainda quentes.
- Posso ter muitos defeitos, meu Cavaleiro, mas ainda me lembro de receber bem os meus convidados e hóspedes. - responde ela limpando as mãos no seu avental amarelo. - Vem sentar-te e provar os meus bolinhos antes que comeces aí a salivar.
Sentamo-nos em frente um do outro degustando os biscoitos e o delicioso café exótico.
- Dormiste bem, minha feiticeira?
- Podia ter dormido melhor se não fossem os gemidos e os gritos do quarto ao lado. - responde ela calmamente sorvendo a sua bebida e observando a minha reacção.
A sua resposta apanha-me completamente de surpresa e engasgo-me com o café.
- Pois... Eu peço desculpa... - digo aflito atropelando-me nas palavras.
- Não há problema, ao menos há alguém que tem um pouco de acção nesta casa. - continua ela calmamente com os seus olhos verdes esmeralda fixos em mim.
- Sua safada, tu estás a adorar ver-me assim, não estás?
- Claro que estou, lembra-me os nossos tempos de juventude, em que eu te apanhava ou em que tu me apanhavas fazendo o que não devíamos. - responde ela com um sorriso pousando a chávena.
- Bons velhos tempos, não tínhamos preocupações nem responsabilidades... - digo bebendo mais um pouco do meu café.
- Sim... Olha lá, que história era aquela de me quererem levar para a cama? - pergunta ela com o seu tom de voz calmo e pausado voltando a fixar os seus olhos em mim.
Engasgo-me de novo derramando o que resta do café sobre a toalha.
- Bolas, mas tu hoje queres matar-me!? - exclamo aflito e muito corado. - Estavas a ouvir-nos!?
- Eu sou uma feiticeira, meu Cavaleiro, eu sei de tudo o que se passa aqui dentro da minha casa, tudo! - Diana volta a esboçar o seu sorriso de satisfação e de triunfo por me ter deixado completamente envergonhado como fazia quando éramos mais novos.
- Tu não és uma feiticeira, tu és é uma grande pervertida e uma voyeur!
- Olha quem fala! - diz ela rindo. - Mas está bem, eu páro, acho q já te embaracei o suficiente por hoje.
- Porque é que eu tenho o pressentimento que isso não é verdade? - respondo sorrindo.
- Parece q vais ter simplesmente que confiar em mim...

Um cheiro a podre invade as minhas narinas assim que a tampa da sarjeta é aberta, esta é, infelizmente, a única maneira de chegar à câmara onde todo o conhecimento dos Ploensis está armazenado.
- As coisas que somos obrigados a fazer para alcançar o conhecimento supremo... - comenta Diana tapando o nariz e iniciando a sua descida.
Os corredores escuros e sujos parecem estender-se por quilómetros sem fim como um labirinto traiçoeiro, os ratos e as serpentes fogem de nós assim que a luz das tochas e o brilho do bastão de Diana os ilumina; Lara segue na frente, lendo o mapa, seguida de muito perto por Léon, a feiticeira e eu seguimos um pouco mais atrás procurando acompanhar o passo ligeiro da assassina e do ladrão. Chegamos finalmente ao local indicado, uma encruzilhada de túneis que se prolongam pelas trevas adentro como se fossem gargantas de um monstro de várias cabeças.
- Segundo o mapa estamos no sítio certo. - afirma Lara com um sorriso no rosto. - Agora só temos que usar o artefacto e uma porta abrir-se-á para nós.
Diana avança para o centro segurando firmemente o objecto na sua mão direita, na noite anterior ela e Lara ensaiaram as palavras mágicas que o iriam activar, palavras essas que embora uma criatura de pura magia, como um demónio, compreendesse perfeitamente não as podia entoar, só alguém que tivesse domado a arte arcana.
As palavras são então ditas em alto e bom som, mas nada parece acontecer, Diana volta a repeti-las, mas sem sucesso, algo não está a funcionar.
- Cav, tu disseste-me que ela era uma boa feiticeira, isto deveria funcionar. - comenta a demónio impaciente.
- Eu SOU uma boa feiticeira, demónio, não é por minha culpa que o objecto não esteja a funcionar, se calhar foste tu que nos trouxeste para o sítio errado! - responde a feiticeira num tom imperial.
Lara prepara-se para responder, mas subitamente o artefacto solta um brilho estranho e começa a levitar libertando-se da mão da feiticeira, o chão estremece com uma vibração constante e um zumbido estridente vindo de não se sabe de onde ecoa pelo ar. Todos os olhos se fixam no objecto esperando pela abertura da porta, mas para grande supresa de todos, 7 portas abrem-se nas desembocaduras dos corredores.
- E agora? - pergunto. - Por qual delas devemos seguir?

2 comentários:

Poison disse...

Espero que eles não se separem.
Já me aconteceu e não é lá muito agradável para quem fica sem o mapa... :)

Anónimo disse...

Separam-se? Espero que nao.
Bjs meus