segunda-feira, agosto 07, 2006

Lilian vs Cavaleiro

As duas personagens ficaram como que petrificadas olhando um para o outro sem saber o que dizerem ou fazerem. Lilian fitava o seu amado sem saber o que sentir, amor ou nojo, Melissa tinha razão, o Cavaleiro estava diferente e isso podia ver-se nos seus olhos, antes tão quentes e ternos e agora gélidos e calculistas. Por sua vez o Cavaleiro fitava igualmente a jovem feiticeira, lendo no seu olhar aquilo que ela estava a pensar, pela sua mente corriam as imagens de Lilian caindo sobre a areia escaldante, seus olhos vidrados fitavam o vazio e o seu seu sangue manchava rapidamente dos seus doces cabelos castanhos. O tempo parecia ter parado e as pessoas que se encontravam na rua, incluindo Melissa, Orfeu e Lara, não ousavam sequer mexer-se, como se temessem quebrar algo muito frágil e ténue. Por fim o Cavaleiro decide dar o primeiro passo, quebrando desta forma este silêncio ensurdecedor.
- Vejam só quem está viva e aqui à minha frente. - Diz ele embainhando a sua espada e poupando desta forma o pobre demónio. - É de facto uma grande surpresa, pois pensei que estivesses morta, meu amor.
A sua voz parecia sibilar como uma cobra, tal facto fez estremecer Lilian.
- Pensaste mal, "meu querido". - Responde Lilian não conseguindo conter o seu desprezo por tão vil criatura. - A Melissa tinha razão, tu estás diferente, não és o mesmo homem, aliás, eu nem sei se és um "homem", pelo menos não és aquele que eu amo.
O Cavaleiro ri-se.
- Pobre tola, apaixonaste-te pelo primeiro que te ligou, pelo primeiro que te deu atenção e um pouco de carinho. Como foi bom saborear esse teu corpo inexperiente, como foi delicioso provar cada gemido e gota de suor, como foi tão fácil abusar de ti de todas as formas e feitios.
Lilian torna-se pálida e num gesto involuntário cobre o seu corpo com os braços.
- Não passaste de um objecto para mim, meu "amor", um objecto descartável para usar e deitar fora quando o momento chegasse. Mas devo admitir que me surpreendeste, sim, não esperava ver-te amantizada com a desgraçada da Melissa, cujo próprio Júpiter se aproveitou, ou mesmo com a minha escrava Lara. Sim, devo dizer que me surpreendeste bastante.
- Eu... Eu não acredito numa só palavra do que tu dizes! - Grita Lilian vertendo lágrimas de vergonha e raiva. - Tu estás a MENTIR!!!
O Cavaleiro esboça um sorriso gélido ao ver a reacção da feiticeira.
- Não passas de uma rapariga traumatizada com a sua vida anterior e descontente com a sua actual vidinha patética. Acho que alguém devia fazer-te um favor e mandar-te para o outro mundo, talvez lá encontres a felicidade.
- Sacana!! - Rosna a feiticeira agarrando com força o seu bastão.
- Quem sabe eu possa fazer isso, já que fiz tudo o resto. - Diz ele soltando uma gargalhada gélida.
Foi a gota de água, Lilian explode de raiva fazendo tremer o chão e soltando de todos os poros do seu corpo uma energia até então nunca revelada. A sua voz transforma-se completamente tornando-se forte e vibrante entoando sons e palavras de feitiços desconhecidos.
Temendo pela sua vida o Cavaleiro desembainha a sua espada e lança-se na direcção de Lilian preparado para desferir um golpe mortal, mas este é aparado por uma energia mística e raios de luz branca são projectados para o ar com uma intensidade tal que mancham de negro os locais onde embatem. Pela primeira vez a Elektra falhara o seu golpe, pela primeira vez a sua lâmina fora detida e o cavaleiro recua sem saber o que fazer.
Com um grito enorme Lilian solta o seu poder e a sua magia e uma bola de luz verde é atirada a grande velocidade na direcção do seu inimigo. O Cavaleiro mal tem tempo para se desviar ou proteger, a sua única hipótese é colocar Elektra entre si e a enorme bola que se aproxima velozmente. Um estrondo violento e um grito ecoam por toda a cidade, o seu impacto é tão violento que os vidros de todas as janelas rebentam com a onda de choque.

Satine sai a correr da estalagem para ver pela primeira vez o que está a acontecer. Do outro lado da rua vê uma feiticeira exausta apoiada no seu bastão e enxugando com a manga o suor que lhe escorre abundantemente pelo rosto, a alguns metros à sua frente apenas consegue discernir uma coluna de fumo branco.
O fumo dissipa-se lentamente e em breve todos conseguem ver a silhueta de um homem deitado no meio do chão, presumivelmente inconsciente, segurando o que resta da sua espada.
- Lilian... - Diz o homem com uma voz muito débil. - Perdoa-me...
A feiticeira aproxima-se apoiada no seu bastão seguida de perto por Melissa, Orfeu, Lara e mais atrás Satine. O Cavaleiro fazia esforços para se levantar mas o impacto fora tão poderoso que de pouco ou nada lhe serviam. No seu rosto estava estampado a dor e a tristeza e os seus olhos eram uma vez mais quentes e ternos. Lilian ajoelha-se a seu lado acariciando a sua face enquanto lágrimas grossas lhe escorrem pelo rosto.
- Estou aqui, meu amor, estou aqui. - Diz ela beijando-lhe a fronte.
- A... minha espada? - Pergunta ele a muito custo.
- Está quebrada, eu nunca pensei que fosse possível mas ela salvou-te a vida.
- Sim... - Diz ele fazendo um esgar de dor e tentando sorrir. - Ouve, tudo o que eu te disse era mentira, eu... amo-te tanto...
A feiticeira sorri de contentamento.
- Eu sei, eu sei, meu amor.
Ele fecha os olhos e tenta dizer mais algumas palavras, mas simplesmente falta-lhe o ar. Lilian afaga o seu cabelo e contempla o seu rosto sereno e pacífico não se apercebendo das mudanças que voltam a dar-se. Subitamente o Cavaleiro volta a abrir os olhos sorrindo maliciosamente e fitando uma vez mais a mulher que se encontra à sua frente com um olhar gélido.
- És uma parva! - Diz ele cravando uma adaga no peito da feiticeira.
Lilian geme sem se aperceber do que acabara de acontecer e deixa-se cair no chão fitando o céu vermelho.
Melissa grita ao ver a sua amiga cair com uma adaga cravada no peito e vendo o sangue jorrando abundantemente manchando as suas vestes e corre na sua direcção. Lara e Orfeu ficam sem reacção assim como quase todas as pessoas que assistiam à cena, quase todas pois Satine reage rapidamente. Enquanto a sacerdotisa corre na direcção de Lilian, a vampira corre na direcção do Cavaleiro, os olhares destas duas mulheres cruzam-se, mas antes que Melissa possa fazer algo para a deter, Satine simplesmente desvanece-se no ar levando consigo o corpo do seu maléfico amante.

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