sábado, agosto 26, 2006

O Regresso

O dia amanhece cinzento e sombrio com pesadas e negras nuvens vagueando lentamente pelo céu trazendo consigo um prenúncio de uma violenta tempestade. Um vento húmido oriundo do Oeste sopra moderadamente fazendo com que os cortinados escarlates do pequeno quarto de Lilian se agitem levemente e provocando um ligeiro tiritar de frio em Melissa e Orfeu que haviam adormecido sobre a cama após uma longa noite de vigília. Lara, envolta nas sombras, mantém-se desperta, seus olhos dourados fitam atentamente a janela aberta e a sua cauda agita-se levemente numa tentativa de fazer escoar a irritação crescente que lhe vai no peito.
Um som, um som que deixa a demónio com os sentidos alerta, aproxima-se da janela. Um leve bater de asas de uma criatura alada, mas tão característico que uma sensação de inquietude invade o espírito de Lara. É um anjo que se aproxima, o inimigo natural de um demónio e, mesmo agora em tempo de paz, ela não consegue deixar de sentir um profundo ódio e desprezo por tal criatura, mas ao mesmo tempo, um certo receio.
Um vulto penetra suavemente no quarto, suas asas brancas encolhem-se de forma a permitir a sua entrada através da janela, seus longos cabelos castanhos encaracolados completamente desalinhados, caiem pelas suas costas como uma cascata e seus olhos verdes esmeralda, muito intensos e vivos, perscrutam o quarto detendo-se sobre a cama e observando com visível deleite os dois amantes adormecidos.
- Tu deves ser é louca! - sussurra Lara atrás dela -, onde é que já se viu, um anjo a sobrevoar calma e livremente uma cidade de demónios. Tu queres morrer!?
Lilian vira-se soltando um grito surdo de espanto ao ver dois olhos dourados fitando-a das trevas.
- Lara!? Eu...
- Sim, já deu para ver que viraste anjinha de novo, mas parece que ao receber umas asas perdeste parte dos teus miolos!! Como podes ser tão estúpida!?
Lilian abre a boca para responder, mas a demónio continua o seu discurso.
- Desapareces assim, sem mais nem menos, deixando-nos preocupados. Melissa passou a noite de pé, imaginando o que te poderia ter acontecido, estava tão nervosa quem nem o Orfeu a conseguiu acalmar. Para onde foste? O que é que se passou pela tua cabeça?
- "Deixando-nos preocupados"? - repete a feiticeira com um sorriso nos lábios - Acaso, cara Lara, estavas preocupada comigo? Eu sempre pensei que vocês demónios não se preocupassem com ninguém, excepto com vocês mesmos, é claro.
Lara morde o lábio ante esta resposta, sua cauda enervada bate violentamente contra uma mesinha quebrando um pote com água fresca e despertando a sacerdotisa e o bardo.
- Deves estar a imaginar coisas!! - grita Lara irritada - Eu não disse isso, ou pelo menos não quis dizer isso, eu... AH, mas porque é que estou a dar conversa a uma rapariga parva e tonta como tu!?
E dizendo isto, vira-lhe as costas e sai do quarto batendo a porta com violência.
- Vocês viram isto? A Lara estava mesmo preocupada comigo. - Diz Lilian sorrindo.

1 comentário:

Anónimo disse...

E? Bjs doces Tuchamz