quarta-feira, agosto 16, 2006

O Amor Está No Ar

O cheirinho de pão acabado de fazer enche o enorme salão de convívio deixando todos os que nele se encontram de água na boca, bom, todos excepto uma demónio que se encontra imersa nos seus pensamentos e apenas desperta de vez em quando para esvaziar o seu copo de vinho. Ocupa a mesa mais recôndita de toda a sala aproveitando a fraca luminosidade aí existente para se fundir com as sombras, seus olhos dourados parecem brilhar como lanternas, fitando somente o vazio, sua pele pálida e prateada toma um tom fantasmagórico ante aquela parca luz e o seu rosnar de cada vez que um demónio macho tenta a sua sorte é tão intimidante que muitos deles preferem ignorá-la do que enfrentar o que quer que se encontre ali escondido. Desde que Lilian acordara que Lara ali se encontra, sozinha, meditando e bebendo sem se dar conta que lá fora amanhece.
- Ora, ora, o que fazes aqui sentada no escuro? Anda para uma mesa com mais claridade. - Convida Orfeu que acabara de se sentar mesmo em frente de Lara.
- Desaparece... - Responde a demónio com maus modos esvaziando mais um copo de vinho.
- Olha lá. - Continua Orfeu ignorando a sua resposta. - Quem é a tal Eleanora?
Lara pousa o copo e fita-o com uns olhos de poucos amigos e rosna ameaçadoramente.
- Ouve lá, humano, qual foi a parte do "desaparece" que não percebeste?
- Pronto, pronto eu calo-me. - Diz o bardo baixando os olhos e pegando num copo e no jarro para se servir também de um pouco de vinho.
O som de uma lâmina cortando o ar faz-se sentir e o jarro sai disparado das mãos de Orfeu indo cair no chão partindo-se em mil pedaços e derramando o vinho pelo soalho de madeira. Todos os olhos se viram para o bardo que se encontra pálido e trémulo com a reacção da demónio.
- Quando eu digo "desaparece", tu desapareces, não te calas, percebes-te? - Rosna Lara. - Quero estar só, por isso vai procurar uma outra mesa ou a próxima lâmina vai direitinha ao teu coração, rapazinho!
Vendo que a demónio não brinca o bardo levanta-se e vai sentar-se na mesa mais afastada que consegue encontrar.
- Eleanora... Espero que tenha sido um sonho, pois se essa mulher voltar a feiticeira irá perdê-lo... e eu também... - Comenta Lara enchendo de novo o copo.

Momentos depois desce Melissa, que vendo Orfeu tomando o pequeno almoço sozinho decide imediatamente juntar-se-lhe para continuar a conversa interrompida.
- O que tens? - Pergunta ela. - Estás pálido.
- Não foi nada, tive uma pequena desavença com a Lara.
- E estás bem?
- Sim, não foi nada. Como está a Lilian?
- Tendo em conta que esteve morta e sofreu uma experiência extra-corporal, eu diria que até está muito bem. - Diz Melissa sorrindo. - Está apenas a vestir-se e já vem ter connosco.
- Espero que se demore. - Diz Orfeu segurando-lhe a mão.
A sacerdotisa fica sem palavras ante este gesto inesperado e apenas sorri nervosamente.
- És muito bonita, sabias?
Muda, Melissa cora visivelmente.
- Conheço tantas histórias de amor, romance e aventura. Histórias que contam feitos extraordinários realizados a pedido ou para salvar mulheres de rara beleza e carácter, mas, estando aqui à tua frente, olhando para esses olhos tão belos e sentindo o toque quente da tua mão, só consigo pensar que nenhuma delas te chega aos calcanhares e, se porventura, os heróis das minhas histórias tivessem que realizar os feitos heróicos em teu nome, de certeza que o fariam com muito mais vigor e coragem.
- E-eu não sei o que dizer... O que acabaste de me dizer foi tão bonito que me deixaste sem palavras.
- Não precisas de dizer nada, o teu olhar diz tudo.
Orfeu sorri para Melissa e afaga o seu cabelo.
- Eu amo-te. - Diz ele por fim. - Desde o momento em que te vi, que te amo.
Melissa suspira e sorri de contentamento.
- Eu também te amo. - Diz ela aproximando os seus lábios dos dele.
Os seus rostos aproximam-se e conseguem sentir as respirações ofegantes um do outro, o bater dos seus corações dispara de tal forma que parece que lhes vai sair pela boca. Ambos fecham os olhos e preparam-se para saborear o gosto um do outro, preparam-se para o primeiro toque e para o primeiro choque carregado de magia que é um primeiro beijo.
- Lamento interromper. - Diz Lara aproximando-se e quebrando a magia. - Mas preciso de falar com a feiticeira.
Agora é a vez de Orfeu fitar Lara com cara de poucos amigos.
- Não podias ter escolhido altura melhor? - Diz ele irritado.
- A Lilian está no quarto, é só subires. - Diz Melissa secamente.
- Ui, voltem lá à vossa vidinha, mas pelo jeito que estão as coisa o melhor é arranjarem um quarto.
A demónio afasta-se deixando para trás o casal que a observa sem palavras e sem saber o que lhe responder.
O quarto de Lilian continua na mesma, à excepção da coluna de vapor de água que se escapa pelas frinchas da porta do quarto de banho, Lara sorri pensando na noite de loucura em que os três passaram juntos durante festa dos Deuses. Esperando surpreender a feiticeira, a demónio abre a porta de rompante e entra sem cerimónia, mas para seu desgosto encontra a banheira vazia e com a torneira ainda aberta, no chão encontra também uma toalha e a poucos centímetros desta um objecto estranho.
- O que é isto? - Pergunta a si mesma enquanto apanha aquele estranho objecto. - Uma pena!?

2 comentários:

Anónimo disse...

Preciso de um final feliz...please.Bjnhos.Tuchamz

Cavaleiro disse...

Vamos ver, o que pode ser um final feliz para ti pode n ser para outra pessoa :). Mas entre a Mel e o Orfeu as coisas vão correr mt bem :D