segunda-feira, agosto 14, 2006

Mudanças

A luz fresca da manhã penetra no quarto despertando Melissa do seu sono agitado. O seu primeiro olhar é direccionado para a cama onde Lilian se encontra deitada, pela cor do seu rosto e pelos movimentos sonolentos do seu peito tudo indica que o feitiço resultou. A sacerdotisa deixa-se afundar na cadeira libertando um sonoro suspiro e soltando um sorriso de felicidade, ao seu lado consegue sentir outra presença, a do jovem bardo que adormecera ao seu lado e que lhe segura ternamente a mão como que para lhe dar confiança. Ela sorri e beija a sua fronte passando a sua mão livre pelos cabelos dele. Por largos minutos deixa-se ficar a olhar para ele esquecendo-se por completo tudo o que a rodeia, desde a fuga da Atlântida que Orfeu tem estado ao seu lado, tendo sempre um sorriso e uma palavra amiga, talvez seja por isso que algo cresceu dentro do seu coração, um carinho especial por ele.
Orfeu desperta suavemente ao sabor das carícias de Melissa, um sorriso desenha-se em seus lábios ao sentir a pele suave e fresca dos dedos da sua companheira, seus olhos ainda sonolentos fitam-na com uma doçura indescritível retribuindo totalmente o carinho que a sacerdotisa nutre pelo jovem bardo.
- Despertaste finalmente. - Diz Orfeu sorrindo e acariciando gentilmente a mão dela. - Estava preocupado contigo, o feitiço deixou-te inconsciente.
- Sim... - O rosto da sacerdotisa ruboriza-se. - É uma magia muito poderosa, e já esquecida, felizmente encontrei-a enquanto pesquisava um livro que trouxemos da Atlântida.
- E funcionou, és de facto uma grande sacerdotisa e uma mulher fantástica! - Exclama Orfeu ruborizando-se também.
Um silêncio agradável instala-se entre os dois como se uma conversa sem palavras estivesse a ser conduzida, apenas certos gestos e olhares cúmplices revelam o que realmente se passa.
- Uau, parece que tenho que "morrer" mais vezes... - Diz Lilian quebrando o silêncio.
- Lilian!! - Exclamam surpresos os dois ao mesmo tempo.
A feiticeira sorri.
- Estou a brincar, não se incomodem por minha causa.
- Não digas essas coisas, Lilian. - Diz Orfeu envergonhado e levanta-se pensando numa desculpa para sair. - Vou lá abaixo comer qualquer coisa e deixo-vos a sós.
O bardo retira-se lançando um último olhar a Melissa antes de fechar a porta.
- Minha amiga. - Diz Melissa lançando-se nos braços dela. - Estava tão preocupada contigo, felizmente aquele feitiço atlante funcionou e eis-te aqui junto de nós.
- Funcionou sim e tu nem vais acreditar no que me aconteceu.
Pegando nas mãos da sacerdotisa a jovem feiticeira relata a experiência extra-corporal que teve sem omitir facto algum.
- E tu achas que essa mulher é aquela que o Cavaleiro ainda ama?
- Tenho a certeza. - Diz Lilian baixando o olhar. - Ai, Mel, ela é tão bonita, tão serena e confiante, senti-me como uma criança ao seu lado. Entendo agora como é que ele se apaixonou perdidamente por ela.
- Parece ser de facto uma mulher notável... - Diz Melissa pensativa.
- Diz-me, minha amiga, tens tido notícias dele?
- Não, uma mulher levou-o, segundo a Lara é uma vampira e conhece muito bem esta cidade... Mas ainda pensas nele mesmo depois do que te fez?
- Não foi ele, foi... o outro... - Lilian leva a mão ao peito como se ainda sentisse a dor causada pelo punhal.
- Lilian, mesmo que o consigas salvar, mesmo que consigas trazer o Cavaleiro que conhecemos de volta, o que irás fazer quanto à Eleanora? Ele ama-a e muito certamente que a vai escolher de entre vocês as duas.
- Eu não sei, sinceramente eu não sei, mas tenho medo que isso aconteça, eu amo-o muito. - Lilian desvia o olhar e contempla o dia maravilhoso que penetra pela janela semi-aberta. O seu rosto suaviza-se e com os olhos muito brilhantes e vivos volta a encarar a sacerdotisa. - Mas diz-me, Mel, que olhares foram aqueles que lançavas ao Orfeu?
Melissa fica muito vermelha e sorri envergonhadamente para Lilian.
- Eu... gosto dele...
- E ele gosta de ti, e muito. - Diz Lilian sorrindo. - Ai, minha amiga, que pelo menos uma das duas seja feliz.
- Não digas essas coisas, tu também vais ser feliz. - Responde Melissa abraçando uma vez mais a sua amiga. - Vou ter com o Orfeu para tomar o pequeno almoço, queres vir ou preferes que te traga alguma coisa?
- Não, eu vou, dá-me só uns minutos para me vestir.

Quando a sacerdotisa abandona finalmente o quarto Lilian salta da cama e dirige-se para o quarto de banho. Detém-se em frente do espelho e despe o seu vestido ainda manchado de vermelho negro. Seus olhos prendem-se na cicatriz que agora enfeita o seu peito, seus dedos trémulos percorrem-na dando-lhe a conhecer a nova textura da sua pele.
A água quente beija a sua pele cansada e dorida, há muito que não tomava um bom banho, o último fora na Atlântida, naquela banheira enorme em que juntamente com o Cavaleiro e a Lara se deixaram levar pelas loucuras e desejos que Vénus lançara sobre todos os convidados. A feiticeira sorri e fecha os olhos saboreando as recordações. O tempo passa sem que ela se dê conta e o vapor de água invade por completo todo o quarto de banho. Uma sensação há muito esquecida desperta-a, algo que ela não sentia desde... desde aquele dia tão triste naquele circo ambulante... Lilian levanta-se rapidamente e tenta ver-se ao espelho, mas tudo o que vê é uma neblina espessa que mascara a sua silhueta, pegando numa toalha limpa freneticamente a superficie do espelho e volta a tentar observar-se. A toalha cai no chão e um pequeno grito de espanto é abafado pela água que corre da banheira...

2 comentários:

Anónimo disse...

ficou o gostinho de querer mais...fico a espera.bjs.Tuchamz

Cavaleiro disse...

Ainda bem que gostaste :P