A festa da noite anterior deixara as suas marcas, tudo naquele palácio parecia estar de pernas para o ar, a gordura e o vinho haviam manchado as paredes e o chão, pelas mesas ainda se podiam encontrar os restos do belo banquete de ontem e caídos pelos cantos e pelos jardins jaziam alguns dos convidados, ainda bêbados claro.
- Pelos Deuses, eu já tinha ouvido falar da loucura destas festas mas nunca havia presenciado nenhuma. - Exclama Lilian enquanto caminha por entre os corpos inanimados.
- Menina, como tu és inocente. - Responde Lara. - No meu mundo isto acontece dia sim e dia não, mas de certa maneira compreendo-te, como é que podemos rezar e orar a bestas destas?
- A religião é o ópio do povo, no fundo precisamos de nos sentir seguros, precisamos de saber que existe alguém que pode aparar a nossa queda. - Comento tentando evitar as "divindades" adormecidas.
- E será que vale a pena? - Lilian fita-me desejosa de saber a minha opinião.
- De facto não te posso responder a isso, mas existem pessoas a que uma simples ida ao templo dá um significado às suas vidas. Pessoalmente é uma perda de tempo, como podes ver, embora sejam imortais e tenham poderes extraordinários comportam-se tal e qual como nós, simples mortais. Tentamos vê-los como criaturas perfeitas mas não o são, são tão imperfeitos como tu e eu, choram, riem, zangam-se e perdoam, enfim, por vezes podemos viver uma vida inteira a tentar agradá-los com oferendas e eles nem sequer nos ligam.
- És capaz de ter razão, meu amor. - Responde Lilian.
- É claro que tem razão, vocês humanos são uns tolos, dão crédito a divindades que nem sequer vos passam cartão, apenas vos usam para satisfazer os seus caprichos e desejos. - Intromete-se Lara desdenhosamente.
- Oh, sim, e vocês demónios são muito bons, não têm medo de nada nem rezam a ninguém, não é verdade? - Digo sarcasticamente.
- Bom, isso não é bem assim, nós tembém temos o nosso panteão, mas...
- Mas apenas o toleram porque o receiam, não é verdade? - Digo imediatamente. - Tu e os demónios são muito engraçados, estão sempre a dizer que não têm medo de nada e que são os melhores porque se abstraiem de certos sentimentos e no fim de contas são uns medrosos.
- Como te atreves!! - Lara fita-me furiosa. - Retira já o que disseste ou eu...
- Ou tu o quê? Por acaso disse alguma mentira? Se sim então não te importas que pronuncie o verdadeiro nome da vossa deusa mãe, como é mesmo o nome? As...
- Cala-te!!!! - Grita a demónio com um misto de raiva e receio. - Não deves pronunciar o nome dela ou trarás um grande mal.
- Vês? És uma medrosa de primeira categoria, minha adorada. - Puxo a demónio para mim e beijo os seus lábios.
- Sim e devo estar muito doente, só assim explico o que sinto por ti, humano idiota. - Murmura Lara.
Continuamos a caminhar procurando por Orfeu e por Melissa mas sem sucesso algum.
- Alto. - Diz Lilian. - Não estão a ouvir? Parece que está alguém a chorar.
- Tens razão, feiticeira, e vem dali. - Lara aponta para uma porta do outro lado do salão.
Ao abrir encontramos Melissa sentada no chão com a cabeça sobre os joelhos chorando copiosamente, Orfeu estava ao seu lado tentando consolá-la.
- O que aconteceu? - Pergunto preocupado.
- Não sei, ela não me responde. - Responde Orfeu afagando o macio cabelo ruivo da sacerdotisa.
- É natural, certamente que ela não se sente à vontade, deixem-nos a sós. - Ordena Lilian num tom de voz que não admite recusa.
Afastamo-nos e deixamos as duas a conversar.
- Orfeu, Orfeu, seu sonso, o que fizeste à rapariga? - Pergunta Lara sorrindo.
- N-nada, nada. - O rapaz fica vermelho que nem um tomate tal é a vergonha. - E-eu já a encontrei assim, t-tentei acalmá-la m-mas não consegui.
- Não vês que a demónio se está a meter contigo? É claro que não fizeste nada, mas algo lhe aconteceu, e eu quero saber o quê.
Minutos depois Lilian regressa cabisbaixa.
- O que é que ela tem? - Perguntamos em coro.
- Durante a festa Júpiter violou-a. Ela só quer sair daqui.
- E vamos sair, mas não temos como, Netuno controla o mar e a única saída é por aí. - Respondo.
- Não exactamente. - Diz subitamente Melissa, sua voz estava diferente, já não era a mulher altiva e orgulhosa. - Na torre Este existe um teletransportador, podemos usá-lo.
- Sim, mas requer uma magia muito poderosa e nós nem sabemos onde vamos parar. - Diz Lilian hesitante.
- Para onde quer que nos leve sempre será melhor que este lugar. - Digo olhando para Melissa. - E afinal de contas, tu e eu podiamos não nos dar muito bem, mas somos um grupo e temos que nos manter unidos, e eu vou tirar-te daqui nem que para isso tenha que enfrentar todos os deuses!!
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1 comentário:
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