Partiramos de Lucrécia há dois dias e até agora tudo parecia perfeito, o mar calmo e o forte vento que soprava na direcção certa fazia o barco voar sobre as ondas. Cada um de nós passava por uma experiência diferente, Orfeu sentia-se como peixe na água, pois todos os marinheiros o consideravam um amuleto e como tal apaparicavam-no com todas as comodidades; Lara preferiu manter-se no seu camarote, o seu desprezo por barcos e a sua influência negativa para com a tripulação altamente supersticiosa não lhe criaram propriamente muitas amizades, excepto é claro para os meio-demónios que também serviam como marinheiros, para esses ela era considerada como uma superior, um modelo a seguir, uma mulher perfeita, mas por incrível que pareça, para ela, eles mantinham-se numa posição mais baixa do que a dos humanos; Melissa parecia, como sempre, alheia a tudo, o seu estatuto de sacerdotisa dava-lhe uma aparência imponente, aparência essa que ela usava habilmente de forma a conseguir o que queria; Lilian mantinha-se quase sempre na proa do navio apreciando a brisa marinha e observando o rebentamento das ondas no casco, seus cabelos soltos esvoaçavam ao sabor do vento dando-lhe uma imagem de grande beleza.
- E então, o que estás a achar da viagem? - Pergunto enquanto me aproximo por trás.
- Fantástica, meu amor! - Exclama ela jovialmente esboçando um enorme sorriso e fitando o horizonte.
Enrolo os meus braços em volta da sua cintura e beijo sua nuca.
- Ainda bem. Não tarda chegaremos a Linitar e depois seguiremos para N.R.
- Eu sei. - Diz ela virando-se para mim e enrolando seus braços à volta do meu pescoço. - Só de pensar que em breve deixaremos este barco fico com o coração destroçado, estou a adorar a viagem. - Seus lábios gelados tocam nos meus.
- Brrr, menina como estás gelada.
- Não te preocupes, daqui a pouco aqueces-me. - Diz sorrindo e piscando o olho.
- Estás a tornar-te cada vez mais marota, minha feiticeira, mas não te preocupes eu adoro que sejas ass... Ai!!!! - Uma dor lancinante faz-me soltar um grito enorme.
- O que se passa? - Pergunta Lilian preocupada.
Levo a mão à minha coxa e retiro a pequena adaga que encontrei no templo, a Adaga da Atlântida, estava tão quente que mal a podia segurar. Uma onda bate subitamente na proa obrigando a embarcação a oscilar, a pequena adaga escorre por entre os meus dedos e cai na água sem que eu pudesse evitar.
O tempo muda de repente, um vento forte começa a soprar e nuvens negras vindas não se sabe de onde preenchem o céu anunciando uma terrível tempestade. O som de trovões enche o ar e relâmpagos começam a cair dos céus como se Júpiter estivesse furioso, nem mesmo as bençãos de Melissa ou as músicas de Orfeu pareciam ter algum impacto nesta ira divina inexplicável. No local onde a adaga caiu abre-se um enorme redemoinho que começa a puxar tudo o que se encontra à sua volta para o seu interior, todos lutamos corajosamente para sair daquele inferno aquático, mas por mais que tentemos já estamos presos nele, não há escapatória. A escuridão atinge-nos e logo a seguir vem um silêncio ensurdecedor, é o fim...
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