Sem termos pistas algumas sobre o maléfico feiticeiro e sem que alguém nos viesse pedir ajuda, deixámo-nos ficar naquela bela estalagem durante um mês. O ambiente era sempre agradável e amigável, de dia parecia que a letargia contagiava todos os que ali viviam, mas à noite uma euforia tal invadia os nossos corações forçando-nos a dançar e a cantar. Lilian e Melissa passavam muito tempo juntas, trocando palavras e aprendendo feitiços uma com a outra, talvez por Lilian ter sido um Serafim se sentisse atraída por aquela enviada dos Deuses, eu, por meu lado, detestava-a, sempre arrogante e com a mania que Gaia gira à sua volta. Assim sendo, enquanto as duas conversavam, Lara e eu cavalgávamos pela longas pradarias circundantes, passando por bosques soberbos e riachos cheios de vida e personalidade.
Sempre adorei a companhia de Lara, a sua personalidade forte e tempestiva e o seu modo de vida Carpe Diem, criavam nela uma aura de sedução e prazer absolutos. Devo dizer, é claro, que nem todos a viam com bons olhos, apesar dos demónios já vaguearem pela superfície de Gaia há milénios ainda suscitam os mais variados sentimentos e sensações: medo, prazer, repulsa e atracção. Mas não pensem que são só as outras raças que são intolerantes, até os demónios detestam estar na presença de certas criaturas, como por exemplo os humanos. No caso de Lara, a sua condição de demónio de puro sangue e a sua classe de assassina de 1ª categoria, fazem-na encarar os humanos como criaturas indignas da sua presença, encara-os apenas como meros objectos para serem utilizados a seu bel prazer e para satisfazer todos os seus caprichos.
De noite, jantávamos os quatro na nossa mesa habitual, ouvindo as músicas e deliciando-nos com os belos manjares servidos pela roliça cozinheira. Lilian, que se ia tornando cada vez mais desinibida, encostava a sua cabeça no meu ombro enquanto eu acariciava os seus belos cabelos castanhos, Lara desviava o olhar desta cena fitando o salão à procura de uma nova vítima e Melissa, sempre alheia a tudo, sempre altiva e presunçosa, quebrava várias vezes o silêncio dizendo que conhecia a letra da história ou da música bem melhor que o bardo.
O mês de Vénus passou rapidamente dando início ao mês de Juno, todas a memórias más pareciam ter desaparecido sob aquele manto de alegria, até o meu sonho se foi desvanecendo com o passar dos dias. Um dia, enquanto jantávamos alegremente, entrou precipitadamente um mensageiro na sala, seu rosto coberto de suor e sua expressão séria colocou de imediato todo o salão num silêncio absoluto. Seus olhos pareciam procurar por alguém, passaram por todos os presentes até que se detiveram em mim. Fazendo uma saudação entregou-me uma missiva urgente com o selo do Senado.
Excelentíssimo Senador
A sua presença é requerida de imediato na Capital, assuntos de grande importância precisam de ser debatidos para que a República se mantenha de pé e gloriosa.
S.P.Q.R.
Leio e releio a curta missiva, será este o convite que devo recusar?
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