Dirijo-me aos estábulos para preparar o Relâmpago para a nossa longa jornada de sete dias. Embora não o demonstre estou completamente furioso e muito desiludido com Lilian, nunca esperei que uma rapariga tão inocente como ela me pudesse fazer uma coisa destas, mas a verdade é que o fez.
O som de uma harpa capta a minha atenção, é um som belo e melodioso, cheio de alegria e ternura, maravilhado sigo-o para tentar descobrir de onde provém. Não preciso de caminhar muito, ali, ao longe, consigo distinguir a forma de um jovem de 19/20 anos sentado numa pedra enorme cantando e tocando a sua harpa dourada, a sua voz acompanhada pelo som melodioso daquelas cordas deixa-me enfeitiçado. Descuidado piso um ramo seco dando ao rapaz um sinal que alguém o observa. A música pára e o jovem fita-me com os olhos marejados de lágrimas.
- Peço desculpa por interromper a tua música. - Digo enquanto avanço na sua direcção. - Mas porque é que um rapaz que toca uma música tão bela e alegre chora com tanta tristeza?
O jovem esboça um sorriso tímido.
- Porque tenho o dom de cantar e encantar e a maldição de despertar os sentimentos mais loucos no coração das pessoas.
- Como assim, não te estou a entender.
- Ontem arranjei um emprego como bardo naquela estalagem, estava tão contente que mal podia conter a minha felicidade. Toquei e cantei músicas que coadunavam com o meu estado de espírito, estava tão imerso na minha felicidade que nem dei pelo ambiente que estava a criar. Cantei Paixão de Páris e Helena, uma história tão romântica e tão triste, quando olhei para a audiência esperando para ver a sua reacção é que me apercebi do que tinha feito, a harpa lançara um feitiço sobre todos eles, um feitiço de amor que libertou os seus corações e os lançou num oceano de prazer e loucura. - Os seus olhos tristes fitam-me. - Agora percebes porque choro, para onde quer que vá a minha música contagia todos os presentes, adoro cantar e o meu som é a minha maldição.
- Então foi isso que aconteceu... Isso explica a reacção da Lara e da Lilian. - Murmuro.
- Como?
- Nada, nada, estava apenas a pensar em voz alta. Diz-me, para onde vais agora?
- Não sei... Talvez para longe da civilização.
- Hm, e se eu te convidar para te juntares a mim e ao meu grupo?
- Falas a sério? - Um brilho de alegria invade o seu olhar.
- Sim, um bardo é sempre útil num grupo e pelo que parece és muito bom.
O rapaz cora com o meu elogio.
- Obrigado, é bom ouvir essas coisas.
- Partimos daqui a uma hora, vai ter connosco aos estábulos, está bem... ah... hm... como te chamas?
- Orfeu! - Diz ele com um grande sorriso.
Corro em direcção à estalagem, pensando o quão estúpido fui, é natural que a Lilian não pudesse explicar o que fez, foi vítima da música. Lilian ainda estava no salão juntamente com Melissa que tentava desesperadamente confortá-la.
- Lilian! - Exclamo ao vê-la naquele pranto enorme. - Eu lamento, fui um idiota, mas quando te vi a sair do quarto dela foi como se o meu coração tivesse explodido.
- Eu não sei o que me aconteceu, eu amo-te, mas era como uma força que me incitava a fazer o que fiz, oh, eu traí-te e mesmo assim não me consigo arrepender. - Grossas lágrimas rolavam pelo seu rosto.
Sorrio para ela afagando o seu cabelo.
- Todos vocês no salão estavam sob o efeito do bardo e da sua harpa, foram enfeitiçados sem o saberem. - Acaricío suas mãos macias.
- Verdade? - Perguntam as duas surpreendidas.
- Sim. Desculpa-me mais uma vez Lilian por ter reagido daquela maneira, eu já devia saber que não serias capaz de fazer uma coisa dessas.
- Quem te deve pedir perdão sou eu por me ter deixado levar, afinal de contas sou uma feiticeira não devia ser vulnerável a tais encantamentos.
Abraçamo-nos e beijamo-nos como se tivessemos estado separados durante anos.
- Logo não te escapas, vais ter de me contar se a chata da Melissa foi melhor que eu. - Segredo-lhe ao ouvido.
- É um parvinho, meu amor. - Diz Lilian rindo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Your are Excellent. And so is your site! Keep up the good work. Bookmarked.
»
Enviar um comentário