terça-feira, julho 25, 2006

10 de Vénus de 2006DR

Chegámos ao nosso destino quando o Sol principiava a sua lenta queda. O outrora esplendoroso templo encontrava-se em ruínas, as suas colunas de mármore branco maravilhosamente talhadas jaziam agora quase todas no chão, as que ainda se mantinham firmemente de pé estavam bastante degradadas e em breve teriam o mesmo destino das suas companheiras. Os belos jardins com suas flores aromáticas de cariz exótico e suas árvores de fruto cuja lenda não lhes fazia justiça há muito que tinham desaparecido, as ervas daninhas e a vegetação rasteira e indomável havia sem piedade tomado posse daquele terreno. Estátuas de deuses, semi-deuses e heróis mortais ladeavam a via principal que conduzia ao templo, seus nomes haviam sido apagados pela erosão do tempo e suas formas rudemente alteradas. Uma dessas estátuas chamou a nossa atenção, era das poucas que ainda se encontrava bem conservada, retratava uma cena triste, uma mulher ajoelhada no chão segurava uma das suas asas e olhava para o céu com uma lágrima de dor escorrendo pelo seu rosto de pedra.
- A lenda de Yetslin. - Disse Lilian, enquanto tocava naquela estátua. - Retrata o momento em que suas asas foram cortadas e se vê obrigada a viver o resto da sua vida presa num mundo desconhecido e agreste, privada da sua liberdade de voar... - Uma lágrima de pena rola pelo seu rosto como se percebesse a dor daquela mulher.
Deixámo-nos ficar em silêncio partilhando o sofrimento daquela imagem.

Chegámos finalmente à entrada do templo. Duas enormes e altivas portas de bronze dourado barravam-nos o caminho, encontravam-se hermeticamente fechadas e protegidas contra magias. Harth tentou em vão derrubá-las pela força, mas tudo o que conseguiu foi um ombro dorido. Lilian, Lara e eu preferimos procurar por uma outra forma de as fazer abrir, felizmente a Fortuna estava do nosso lado e Lara encontrou uma pequena alavanca escondida atrás de um pedestal. Com um ruído enorme as portas começaram lentamente a abrir e um cheiro a podre e a mofo atingiu-nos violentamente forçando as nossas entranhas a retrair-se.

2 comentários:

Anónimo disse...

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Denise Dória disse...

Hm...Quantas e quantas Yetslin será que não existem no mundo (ainda hoje) sendo podadas por uma sociedade machista e preconceituosa? Quantas e quantas Yetslin não derramam a mesma lágrima de dor quando olham para o céu e vêem que não podem mais voar pelo simples fato de terem nascido mulheres e, por conta disso, predestinadas a uma vida de subjugamento, intolerância, inacessividade a prazeres que não o lar e os filhos, cujo retorno afetivo nem sempre lhes paga o duro trabalho.

Creio que Yetslin não é só uma lenda.