terça-feira, julho 25, 2006

A Dura Realidade

Lilian olhava-nos incrédula, seus longos cabelos encaracolados cobriam seu braço esquerdo sobre o qual estava apoiada.
- Como assim ele é o teu mestre? - Sua voz falhava-lhe, parecia que uma flecha acabara de penetrar seu coração provocando dores horríveis. Seus olhos fitavam-nos nervosos esperando que tudo não passasse de um pesadelo. - N-não é possível, os demónios não têm mestres humanos, a não ser que a alma deles seja tão negra como a de um demónio, o que não é o caso. Pois não? - Lilian olhou para mim expectante, parecia que o tempo parara e só a minha resposta o faria voltar a mexer.
Não a conseguia encarar, parte de mim enterrara aquelas lembranças, recordações de quando dilacerado pela dor cometi crimes horrendos, barbaridades cometidas apenas pelos mais vis demónios. A cálida mão de Lilian abraçou meu ombro despertando-me destas memórias vis, seu rosto esperava ainda uma resposta.
- Tu não me conheces doce Lilian. - Sua face tornou-se branca como cal, sua mão desprende-se repentinamente como se a sua portadora tivesse sofrido um golpe fatal.
- N-não p-pode ser, eu c-conheço-te minimamente, leio os teus olhos e tu não tens uma alma negra. - Lilian afasta-se de mim horrorizada pelo que acabara de ouvir, diante dela não estava o homem que amava mas sim um autêntico estranho.
Tentei articular qualquer coisa mas as palavras recusavam-se a sair.
- Não o condenes, tu não estavas com ele, não sabes pelo que passou, não sabes o que o levou a tal extremo. - Lara senta-se ao meu lado afagando-me o rosto. - Demónios mataram a sua amada no campo de batalha, como Orfeu ele desceu aos Infernos para a resgatar e como diz o ditado Aquele que luta com demónios terá que ter cuidado para não se tornar ele mesmo num demónio.
- Mas mesmo assim... eu... eu não sei o que dizer. - Ela fitava-me tentando agarrar-se a algo, a algo de bom para poder continuar a amar, para não despedaçar todas as concepções que tinha sobre mim.
- Eu tenho nojo de mim pelo que fiz, mas o que está feito está feito, infelizmente não posso voltar atrás, terei apenas que aprender com os meus erros e tentar não voltar a cometê-los.
- Eu sei... - Um sorriso desenha-se em seus lábios. - Eu sei, lamento por te ter julgado, mas fiquei apenas apreensiva. Cada dia que passa vou conhecendo-te um pouco melhor. - Sua mão toca no meu peito, seus dedos nervosos encaram com curiosidade as minhas cicatrizes; sua face ruboriza-se. - Pelos deuses, tanto sofrimento, perdoa-me.
- Perdoo sim. - Deixo soltar um sorriso de puro alívio.
Lilian aproxima-se um pouco mais e beija meus lábios enquanto suas mãos fogosas brincam com o pêlo do meu peito. Lara sentada ao meu lado treme de raiva e interrompe o beijo para que por sua vez me possa ter só para ela. Sinto de novo aquele aroma delicioso que inebria os meus sentidos, duas mulheres disputando o mesmo homem deixa qualque...
- Não pode ser, não pode ser!!! Aquele homem está a controlar-nos de novo!!! - Grito. Levanto-me e dirijo-me a ele esmurrando-o. - Outra vez!? Como te atreves uma vez mais a manipular as nossas emoções?
Um fino fio de sangue escorria pelo seu queixo, seu rosto parecia transformado, toda a sua magnitude desaparecera e agora uma criatura mesquinha encontrava-se diante de mim.
- Como te atreves humano, como te atreves a tocar-me. - Seus olhos mudam de forma, seu rosto torna-se esverdeado e toda aquela máscara desaparece.
O quarto muda com o seu temperamento revelando a sua forma original, tudo não passa de uma caverna musgosa, a cama onde ainda agora estive deitado é na realidade um ventre enorme dotado de tentáculos que se alimentam das emoções das presas que ali caiem. O "homem" é na realidade uma extensão daquele ventre, uma espécie de cabeça com cinco olhos e dentes aguçados. Recuo enojado levando a mão à espada.

2 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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