terça-feira, julho 25, 2006

A Praia

Calor, muito calor... O tempo está tão quente que todo o meu corpo parece estar em chamas... Pela minha mente fragmentos de memória irrompem sem aviso mostrando-me as últimas cenas antes de perder a consciência. Perder a consciência? Mas eu estou inconsciente? Lembro-me de uma escuridão tremenda abater-se sobre nós, gritos, muitos gritos, Lilian segurando o meu braço e depois... nada, simplesmente nada... Ai! Este calor é insuportável, quero acordar, quero gritar mas não consigo, estou preso nestas trevas sem fim... Ao menos o cheiro a maresia e este som de ondas que parecem rebentar sem pressa acalma-me... Lilian, meu amor, minha adorada, onde estás? Ainda ouço o teu grito e ainda sinto o teu braço a fugir do meu, oh, lamento de não te ter ajudado, mas... Ai! não me consigo lembrar, a minha cabeça dói-me muito, não é só a minha cabeça, todo o meu corpo me dói...

Abro lentamente os meus olhos e uso todas as minhas forças para tentar erguer-me mas sem êxito, deixo-me cair de novo sobre a areia quase perdendo os sentidos novamente. Respiro fundo e fecho os olhos tentando concentrar-me e rezando que tudo à minha volta pare de girar. Levanto-me uma vez mais, mas desta vez com sucesso, olho em meu redor tentando descobrir onde estou. Um imenso areal estende-se até onde a minha vista consegue alcançar, engraçado, parece que já aqui estive, mas não me recordo de quando foi isso. Caminho sem destino sob aquele Sol impiedoso que me queima a pele, tento recordar-me como conheço este lugar mas tudo o que consigo é avivar a minha dor de cabeça. Algo me prende subitamente a atenção, um objecto enterrado na areia escaldante brilha com grande intensidade, quando o examino mais de perto não consigo deixar de escapar um grito de surpresa, é a Adaga, mas como? Ela afundou-se no mar, como pode estar aqui diante de mim? Pego nela com um pouco de receio, da última vez queimou-me as mãos, não quero que o volte a fazer, por isso com cuidado toco primeiro com um dos dedos para me certificar da sua temperatura, mas ao contrário do que esperava a sua lâmina está fria, tão fria que um arrepio de frio percorre a minha espinha. Assim que pego nela a minha mente começa a clarear, começo a lembrar-me do que aconteceu.
- Guerreiro, voltaste! - Exclama uma voz atrás de mim.
Viro-me para encarar esta nova personagem, iria jurar que estava sozinho. Uma sereia encontra-se diante de mim sorrindo.
- A sereia, a Adaga, o sonho que tive no templo. - Murmuro.
- Trouxeste-a! Finalmente a Adaga regressou a casa. - A sereia olha para mim sorridente e estende o seu braço. - Dá-ma!
Não sei o que fazer, que garantias tenho que ela não irá usar este objecto encantado para o mal? Afinal de contas é uma sereia, uma encantadora de Homens. Ela apercebe-se a minha indecisão.
- Não tenhas medo, humano, por vezes é preciso confiar, seguir o nosso instinto. O que diz o teu?
- Para confiar...
Entrego-lhe o pequeno punhal, seu rosto ilumina-se de alegria, mas não é só ele que se ilumina, também a Adaga solta um brilho esquisito.
- Tu não sabes o que acabaste de fazer, humano. O que me entregaste não é uma arma, é uma chave, uma chave que vai voltar a abrir as portas da cidade perdida da Atlântida. - A sereia beija os meus lábios. - Muito obrigado, humano.
Uns portões esverdeados aparecem de repente à minha frente, a sereia introduz a Adaga na ranhura e o som de uma fechadura a abrir ecoa pela praia deserta. O portões rangem e abrem-se sozinhos.
- Bem vindo à Atlântida, humano. - Diz ela esboçando um sorriso triunfante.

2 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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