terça-feira, julho 25, 2006

No Encalço de Lilian

Cavalgámos durante três dias e três noites descansando apenas quando era extremamente necessário. A minha ânsia de reencontrar Lilian parecia funcionar como escudo contra o cansaço e a exaustão, picava de tal forma o Relâmpago que este parecia voar por cima dos trilhos de terra batida e sobre as pavimentadas estradas romanas, no meu encalço seguia Lara montando um cavalo infernal cor de fogo. Na minha mente ainda corriam frescas as memórias daquela noite junto ao templo, seria realmente Lilian um anjo caído? Isso explicaria muita coisa, o seu olhar inocente e atento a tudo o que acontecia à sua volta, a sua expressão sempre doce e meiga e o seu sorriso tão puro como a água que brota de uma nascente. Mas o que lhe aconteceu para que fosse banida? E as suas asas, onde estão elas? Tanto anjos e certos demónios mantêm as suas asas mesmo depois de serem expulsos de seus lares, ao que parece é uma forma de nunca se esquecerem de onde vieram.
Perco-me em perguntas sem resposta durante toda a viagem, Lilian de facto não é o que parecia e o simples facto de me ter ocultado isso magoa-me profundamente, mas não posso lutar contra o que sinto, adoro aquela rapariga e tenho de a ajudar, tenho que lhe mostrar que não está só e que tem amigos para se apoiar.
Um grito de Lara desperta-me de meus pensamentos, no horizonte uma coluna de fumo e chamas erguem-se a uma altura impressionante. "Lilian", penso enquanto atiço uma vez mais o meu unicórnio. A visão que se nos depara é absolutamente dantesca, enormes labaredas consomem a pequena cabana de madeira e espessas camadas de fumo negro elevam-se no ar cobrindo o Sol. Desmonto rapidamente e corro na direcção das chamas tentando perscrutar através do fumo se alguém se encontra lá dentro, infelizmente o enorme calor que emana daquele inferno é de tal maneira forte que sou obrigado a afastar-me cobrindo a cara com a capa para não inspirar aqueles vapores tóxicos. Lara aproxima-se por detrás e coloca a sua mão sobre o meu ombro dando-me apoio, coloco a minha por cima da dela e sorrio tristemente agradecendo pela sua presença. De repente dois vultos saltam de dentro da cabana lutando ferozmente um com o outro, ao principio não os reconheço pois estão cobertos por uma manta negra, mas à medida que a luta se intensifica vou distinguindo os seus rostos.
- Harth e Lilian. - Murmuro perplexo.
Os olhos gélidos de Tirin fitavam Harth com ódio e raiva, este por sua vez fitava da mesma maneira a sua adversária mas o seu rosto era diferente, seus olhos eram pretos como um buraco fundo, desprovidos de calor ou alma, como se o bárbaro que estivesse ali diante de nós fosse apenas uma casca vazia. Uma aura mágica envolvia o terreno à sua volta impedindo que tanto eu como Lara interviéssemos. A feiticeira deixava fluir todo o seu poder lançando-o contra o corpo nu do gigante, mas para desespero seu cada magia que lançava parecia enfurecer e aumentar o poder daquele bábaro possesso. Exausta e amedrontada ela deixa-se cair no chão sem se conseguir levantar, parecia que uma força a prendia e a retinha ali, Harth avançou para ela esticando a mão.
- Desafiaste a Deusa e agora pagarás o preço. - A braço de Harth penetra no corpo da feiticeira, esta geme e grita de dor, mas é tarde, a Morte reclamou para si aquela alma torturada e com um puxão, o espírito de Tirin é arrancado do peito de Lilian.
A feiticeira cai no chão inanimada enquanto Harth esboça um estranho sorriso deliciando-se com o pranto daquela alma que ousou um dia enfrentar e iludir uma Deusa. Ignorando os seus dois espectadores o gigante afasta-se em direcção ao casebre em chamas desaparecendo por entre o fumo e as labaredas. A aura desaparece e corro para Lilian, seu rosto esta coberto de suor mas a sua expressão é tão pacífica que me deixa comovido, enquanto afago o seu cabelo a feiticeira abre lentamente os olhos.
- Acabou? Venci? - Pergunta ela numa voz surda e rouca.
- Sim, venceste. - Respondo-lhe sorrindo.

1 comentário:

Anónimo disse...

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