terça-feira, julho 25, 2006

Viagem ao Passado (5ª Parte)

Pela última vez o Olho transporta-me para um novo local, meu coração bate depressa pois consigo adivinhar para onde sou transportado. Uma brisa quente bate em meu rosto, estamos a 2 de Júlio de 2004DR, o dia da batalha decisiva, o final da guerra. Meu coração parece que vai explodir, sei o que o Olho me vai mostrar, vi e revi tantas vezes a mesma imagem na minha cabeça, ai se pudesse voltar atrás, se pudesse evitar tudo o que iria acontecer. Inconscientemente cerro os punhos e deixo escapar um esgar de dor, como os Deuses tiram com tanta facilidade aquilo que nos dão...

O cantarolar de um galo faz-se ouvir por todo o acampamento despertando o jovem cavaleiro que ainda dormitava ao lado da sua amada.
- Já é manhã, tenho de ir.- Diz ele afagando os cabelos cor de fogo da sua jovem apaixonada.
- Ainda não, fica mais um pouco. - Diz ela sorrindo e colocando seu braço por cima do peito dele. - Eu prometo que te compenso.
- Acredito, mas tenho mesmo de ir, e tu também, a reunião dos oficiais está prestes a começar e eu não quero chegar atrasado, além do mais, pressinto algo. - Seu rosto torna-se taciturno.
- Hm, adoro quando te armas em vidente. - Diz Eleanora beijando-lhe a boca. - Mas tens razão, temos de ir.

A tenda já estava repleta de oficiais quando o casal entrou, todos conversavam animadamente sobre as três legiões que chegaram durante a noite e sobre a disposição de forças do inimigo.
- Sim, parece que vai ser hoje a batalha, eles têm de atacar, já começam a ter falta de mantimentos. - Dizia um dos oficiais.
- Ao que parece as legiões que chegaram ontem são as XII, XIII e a XIX, legiões constituídas por veteranos. - Dizia outro.
O ambiente é animador dentro da tenda, todos conversam agradavelmente uns com os outros até à chegada do general. Lucios Coelhus, primeiro consul de Nova Roma, um homem de estatura mediana, cabelo grisalho e um olhar de águia, o seu curriculo é impressionante, tanto na politica como nas forças armadas, é considerado por muitos um homem justo e um estratega brilhante. Foi condecorado diversas vezes, chegando mesmo a receber pela mão dos seus homens a corona graminea, a mais rara de todas as coroas militares, era dada apenas aos homens que sozinhos salvaram uma legião ou um exército. A sua mera presença cativava apagava todas as outras pessoas que se encontravam numa sala, tal era a sua imponência.
- Meus senhores. - Começou ele na sua voz grave e possante. - Ontem chegaram mais três legiões vindas das regiões do leste, serão muito úteis pois são compostas pelas mais finas tropas de toda a República, veteranos de muitas batalhas. - Fez uma pausa para deixar que a sua audiência digerisse a informação. - Temos também informações de que o inimigo vai hoje avançar contra nós, eles estão encurralados, estão a sofrer por falta de víveres e o seu caminho de fuga foi bloqueado pelos nossos aliados. É imperativo que cada um de vós esteja consciente da batalha que se vai travar hoje, se perdermos, nada os impedirá de avançar e tomar Nova Roma, temos de os deter!
Após o discurso as nossas ordens foram dadas, o nosso herói ficaria à frente da XIX Legião e teria a missão de proteger o flanco direito de todo o exército, Eleanora ficou as cargo do esquadrão de arqueiros elfos que iriam auxiliar esta legião. Após as ordens o casal dirigiu-se para a sua tenda.
- Hoje vai ser a grande batalha, estás nervoso? - Perguntou Eleanora enquanto colocava os seus braços à volta do pescoço do seu amado.
- Sim, tenho um nó no estômago como se algo fosse acontecer, estou preocupado Ela. - Disse ele enquanto afagava o cabelo da sua amada.
- Começas a preocupar-me. - Ela fitou-o com genuína preocupação. - Mas descansa, estarei sempre a teu lado para te livrar dos problemas, afinal de contas, o que seria de ti sem mim? - Disse ela sorrindo e beijando-o.
- Sim, tens razão, é apenas parvoíce minha. - Disse ele sorrindo também.
- Claro, és o meu parvalhão adorado.

Todo o campo estava em alvoroço, as tropas estavam reunidas para a batalha e preparadas para ouvir as ordens e o discurso da praxe.
- Homens! - Disse o cavaleiro entoando a sua voz forte para que toda a legião o pudesse ouvir. - Nós somos o flanco direito de todo o exército, temos a obrigação de manter a nossa posição custe o que custar, se fraquejarmos, o ideal de Roma estará perdido. - Ele olhava no rosto de cada um dos seus homens. - O inimigo tem vantagem sobre nós em termos numéricos, que importa isso, lutaremos como leões em vez de homens!! Lembrem-se, não existe vergonha em ter medo, existe vergonha em deixar que o medo nos domine, por isso saquem as vossas espadas e mostrem àqueles cunnus que Roma nunca se renderá. - Um grito inspirado percorreu toda a legião. - Os nossos Deuses observam-nos, não os decepcionem!!!! Roma Invicta!!!!
- Roma Invicta!!! - Gritaram.
O som do desembainhar de milhares espadas fez-se ouvir, as trompetas soaram e o clamor do metal batendo nos escudos propagou-se por toda a planicie, Roma estava pronta.
- Ela, mantém-te junto de mim, mantém os teus arqueiros a disparar constantemente.
- Claro meu querido, nem precisavas mo dizer. - Diz sorrindo e beijando-o. - Vêmo-nos mais logo.

As tropas inimigas investiram com violência contra as linhas da XIX Legião, os homens mantiveram a linha, apesar da fúria dos seus adversários, a sua coragem e força de espírito eram uma maravilha. Os arqueiros escureciam os céus com as suas flechas causando muitas baixas do lado inimigo. A primeira vaga foi repelida com sucesso, mas antes que os homens pudessem respirar de alívio uma segunda vaga de tropas frescas caiu sobre eles, este desequilibrio de forças teve os seus efeitos, a linha perfeita começou a ceder.
- Amor. - Chama Eleanora completamente encharcada de suor devido ao calor e à exaustão. - Preciso de retirar os meus homens, muitos estão cansados e precisam de descansar. Vou levá-los para aquela colina, ali estaremos seguros.
- Está bem, mas não te esqueças, continua a disparar. Precisamos do teu apoio. - Ele beija-a e observa-a enquanto ela leva os seus homens para um local mais seguro.
- Meu senhor. - Grita um estafeta da linha da frente. - A linha está a ceder, se continuar assim iremos perder o flanco.
- O quê? Não nos podemos dar ao luxo de perder a posição. - Diz ele apeando-se e desembainhando a espada.
O cavaleiro corre na direcção da linha da frente dando ordens aos seus homens e incitando-os a continuar, o medo que se instalara nos seus espíritos desaparece como por magia ao verem o seu comandante lutando ao seu lado e mantendo-se na linha da frente enfrentando o inimigo e dando o alento necessário capaz de afastar a fadiga. Soltando um rugido enorme toda a Legião se junta à volta do seu comandante e graças a um esforço hercúleo repelem a vaga de atacantes com uma tal violência que estes não se atrevem a regressar.
Um grito de alegria estrondoso faz-se ouvir quando o último atacante é repelido, agora é hora de levar a Legião para o centro e como uma pinça destruir por completo as restantes secções do exército invasor. Enquanto o cavaleiro preparava esta medida o som de gritos provenientes da colina, onde a sua amada se encontra, chega até ele. Sem pensar duas vezes ele corre para o local temendo o pior. O esquadrão de arqueiros está a ser atacado por um grupo de infantaria pesada que se afastou do corpo principal e tentava surpreender a Legião atacando-a por trás, infelizmente para eles, não contavam com o esquadrão auxiliar naquela posição. Eleanora estava no centro dando ordens aos seus homens quando quatro dos soldados inimigos romperam o circulo e investiram contra ela, embora experientes e mais fortes que um elfo não são adversários dignos, a sua perícia com o arco e com a espada produzem os seus efeitos fazendo com que três deles caissem mortos antes mesmo de chegar perto, o quarto fica indeciso quanto ao seu ataque, mas o destino prega uma partida, vinda não sei de onde uma seta crava-se no peito de Ela dando a oportunidade que o adversário esperava, mas mesmo ferida o guerreiro acaba por ter o mesmo destino que os seus companheiros. O cavaleiro corre desesperadamente na sua direcção, sua amada estava ferida e precisava dele, seus golpes perfeitos eram desferidos sem que ele se percebesse, tudo o que queria era chegar o mais depressa possível ao local onde a sua mulher se encontrava.
Eleanora continuava a bradar ordens, seus olhos brilhavam ante o perigo e sua espada cortava o ar em perfeitos movimentos criando um perímetro defensivo. Embora a valentia do esquadrão fosse enorme não podiam competir com infantaria pesada e depressa se viram em dificuldades, Ela lutava desesperadamente mas o seu destino estava traçado, outra flecha atigiu sua perna forçando a sua queda permitindo que um inimigo chegasse por trás e trespassasse o seu peito com uma lâmina. Um esgar de dor e de perplexidade desenhou-se em seu rosto enquanto caía de joelhos, o seu atacante retirou a espada forçando a sua presa a baixar a cabeça para que lhe aplicar o golpe final.

Como gritei, o tempo parou naquele momento e meu coração se despedaçou como se tivesse sido eu a levar com a lâmina no peito. Cheguei a tempo de aparar o segundo golpe e com uma fúria enorme cortei a cabeça ao desgraçado. Fiquei louco de dor e à minha volta criei um circulo de morte, os meus homens ficaram parados observando a cena sem saber o que fazer enquanto os meus inimigos recuavam ante mim tal era a fúria e tal era a loucura que emanava do meu corpo. Mas pouco podia fazer, deixei-me cair de joelhos e larguei minha espada, segurei a cabeça da minha amada afagando os seus cabelos indomáveis, sua face estava pálida e seus olhos outrora tão vivos estavam agora baços.
- Meu amor, meu amor, por favor não me abandones. - As lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto acariciava a sua face pálida.
- Como tu és bonito. - Diz ela afagando o meu cabelo. - Sou uma mulher de sorte por te ter conhecido.
- Não digas isso, não fales assim, tu vais ficar bem. - Tento sorrir, tento mentir a mim mesmo mas não consigo.
- Eu... amo-te tanto... - Sua mão cai sem vida e seus olhos contemplam o vazio sem o seu brilho natural.
- Eu também te amo e sempre te amarei. - Comprimo o seu corpo contra o meu, deixando seu rosto coberto com as minhas lágrimas, acaricio o seu cabelo e deixo-me ficar assim chorando copiosamente.

Se o teu objectivo é controlares meu espírito através destes momentos, então falhaste por completo, a morte da Ela foi dura, muito dura, mas eu sobrevivi, honro a sua memória e ela continua viva no meu coração. Não me afectas com os teus jogos psicológicos e ordeno-te que me leves de volta. Ouço um suspiro e este cenário de dor desfaz-se à minha frente, regresso ao templo e vejo Lilian sentada a um canto olhando para mim e esperando que acorde...

1 comentário:

Anónimo disse...

Very pretty design! Keep up the good work. Thanks.
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