terça-feira, julho 25, 2006

O Sonho

Dou por mim caminhando através de um extenso prado verde, ao meu redor vários bandos de pássaros voam cantando e brincando anunciando o início da manhã. O caminho por onde sigo está repleto de flores de várias cores e feitios, algumas muito belas, outras nem por isso, o perfume que delas emana é tão maravilhoso e delicioso que me obrigo a fechar os olhos para o poder apreciar melhor. Sorrio ao ver que não sou o único a apreciar tal fragrância, também as borboletas e as abelhas voam de flor em flor sorvendo o seu néctar e inebriando-se com o seu doce aroma. Continuo seguindo o trilho observando os coelhos que saltitam por entre a relva e uns cervos que ao longe se deliciam com a erva tenra e fresca. Abro os braços e rodopio sentindo a brisa matinal percorrer o meu rosto, é uma manhã perfeita e não há nada que possa mudar isso. O trilho muda bruscamente, já não caminho sobre a relva mas sim sobre um pequeno carreiro pavimentado a mámore amarelado, ao longe distingo a forma de uma pequena quinta, meu coração palpita de ansiedade, caminho na direcção de um local onde não vinha há anos, caminho para casa!
Abro a porta da entrada e um cheiro a pequeno almoço acabadinho de fazer invade os meus pulmões, corro para a cozinha e ali estão eles, os meus pais, meus olhos enchem-se de lágrimas e sem conseguir evitar atiro-me para os seus braços, o cheiro deles aperta o meu coração, sinto-me como se voltasse a ter cinco anos novamente. Preparo-me para os encarar, para lhes contar as minhas aventuras, lhes contar os momentos bons e maus, mas é tarde, eles desapareceram e estou de volta à entrada da pequena propriedade, o cheiro que agora penetra em meus pulmões não é o das flores ou o do pequeno almoço, mas sim o de chamas devorando a madeira. Deixo-me cair de joelhos observando aquele cenário deplorável, sentindo meu coração partir-se em dois, a manhã que começara perfeita acabava agora assim, tão triste.
Fecho os olhos e quando os volto a abrir já me encontro num local diferente, encontro-me ao pé de um grande lago banhado pela luz da Lua, no seu interior uma mulher nada descontraidamente, seus longos cabelos ruivos deixam transparecer a sua identidade. Nado ao seu encontro, seus belos olhos verdes fitam-me com prazer e seus braços envolvem meu pescoço. "Não vás", diz-me ela. Fito-a sem perceber o que me quer dizer, mas ela apenas sorri; abraço-a e beijo-a, sinto o seu perfume e deixo-me levar fechando uma vez mais os meus olhos.
O som de gritos e o som de metal batendo em metal obriga-me a despertar do transe uma vez mais, já não estou no lago, mas sim no campo de batalha, ainda a seguro firmemente nos meus braços, mas o seu calor desaparecera, apenas seguro o seu corpo sem vida que fita agora o vazio. As lágrimas brotam dos meus olhos como uma nascente furiosa, seu rosto tão pálido e tão puro conserva ainda a sua beleza, subitamente aqueles olhos sem vida fitam-me e uma voz é libertada daquele cadáver, "Terás o mesmo destino se fores". Arrepiado, deixo cair o seu corpo e levanto-me bruscamente, olho à minha volta e uma vez mais encontro-me só, um bafo quente vindo de cima queima o meu rosto, ergo a cabeça para ver de onde vem e vejo o Sol coberto de sangue, ao seu lado um olho enorme fita-me com tristeza. "Não vás", diz uma voz atrás de mim. Viro-me e vejo Tela espetando o seu punhal no peito de Meg. "Não vás", repete. Meg segue o olhar da sua assassina e junta a sua voz à dela. "Terás o mesmo destino". Uma espessa bruma envolve o campo à minha volta, dela brotam vozes fantasmagóricas, todas dizendo o mesmo, que não devo ir e que terei o mesmo destino.
- Para onde não devo eu ir!? - Grito desesperado tapando os ouvidos com as mãos esperando de certa forma que as vozes se calem.
Uma mulher coberta com um manto negro emerge do espesso nevoeiro.
- Se fores morrerás. - Sua voz é quente e fria ao mesmo tempo.
- Mas ir aonde? Para onde é que não devo ir? - Pergunto, sentindo um arrepio enorme na nuca.
- Tu sabê-lo-ás em breve. - Diz ela voltando a entrar na bruma.
- Espera, diz-me! - Acordo bruscamente gritando estas palavras.
Lilian, Lara, uma mulher que desconheço e o dono da estalagem estavam na sala quando desperto encharcado em suor.
- Acordaste finalmente, meu amor. - Diz-me Lilian beijando o meu rosto.
Olho para eles sem perceber o que se passa, forçando a minha mente a digerir tudo o que acontecera.
- Onde estou? - Pergunto desnorteado.
- Na estalagem. - Responde Lara. - Não sei o que a feiticeira te fez, mas ficaste de cama durante dois dias, murmurando coisas sem nexo.
Lilian olha para ela de um modo reprovador.
- Dois dias? - Repito perplexo.
- Sim, caro guerreiro. - Diz a mulher. - O seu corpo foi tomado por uma estranha força de carácter divino, deve ser muito importante para que os Deuses intervenham desta forma.
Lilian, Lara e o estalajadeiro olham para ela e depois para mim curiosos.
- E você é? - Pergunto.
- Melissa. - Responde ela sorrindo. - Sacerdotisa de Júpiter.

2 comentários:

Anónimo disse...

I like it! Good job. Go on.
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Anónimo disse...

Keep up the good work. thnx!
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